publicado dia 26 de junho de 2012
“Estamos aqui apenas colaborando com o nosso Brasil”, afirma o índio Xavante, Cereua Marãiwatsédé, logo depois de ter participado da tradicional corrida de Tora durante a Marcha Global, que reuniu 80 mil pessoas, na última quarta (20), no Rio de Janeiro. O grupo indígena cobra a devolução efetiva das terras Marãiwatsédé, no norte do Mato Grosso.
“A nossa área foi homologada na Eco92, mas passaram 20 anos e não aconteceu a desintrusão dos brancos invasores, grileiros e fazendeiros”, explica. De acordo com ele, o peso da tora de buriti nas costas, carregado pelo cacique durante o protesto, representa o que a tribo vem enfrentando há anos (veja vídeo abaixo).
Além dos Xavantes, grupos de diversas etnias manifestaram suas indignações contra a ausência de políticas públicas para assegurar os direitos indígenas e os retrocessos ambientais durante toda a Cúpula dos Povos e Rio+20. A semana começou com uma marcha realizada, na segunda-feira (18) por cerca de 2 mil índios, seguida de ocupação temporária da sede do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio de Janeiro (RJ).
O ato pedia a demarcação de terras indígenas; o fim das grandes obras catastróficas, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, que são financiadas pelo BNDES; melhores condições de educação e saúde para as tribos; e a promoção da alimentação sustentável, sem o uso de agrotóxicos.
Outra luta que veio à tona foi a dos índios que, atualmente, ocupam o antigo Museu do Índio, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. “Defendemos que esse espaço seja inteiramente nosso e que seja criado um verdadeiro centro cultural que divulgue a nossa cultura e história”, explica Chamakairi Apurinã, de Boca do Acre, Amazonas.
As lideranças indígenas se destacaram também nos debates da Cúpula dos Povos, espaço onde tiveram voz dentro da programação, diferente dos eventos oficiais da Rio+20. Fernanda Kaigang, primeira advogada indígena a obter o título de mestra no Brasil, critica o tratamento dado pelo governo ao seu povo durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
“Além de não terem nos chamado para participar das discussões no Rio Centro, nos deixaram isolados no Sambódromo com péssimas condições de higiene e alimentação”, reclama durante os “Diálogos Intergeracionais”, que ocorreu na terça (19). Fernanda critica ainda o novo Código Florestal “insustentável”, a economia verde e a PEC 215, que dificulta a demarcação de terras indígenas e quilombolas ao transferir a responsabilidade do Executivo para o Congresso Nacional.
Em outro evento da Cúpula dos Povos, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) criticou a Rio +20 e o texto final apresentado na conferência. Para a vice-coordenadora da organização, Sônia Guajajara, o acordo feito na convenção vai contra a realidade dos índios e nada tem sido feito para acabar com a desigualdade de direitos do seu povo. A fala foi dita durante o “Comunicado dos Povos Indígenas do Brasil”, que ocorreu na quarta (20).
No dia seguinte, Marcos Terena, pertencente a etnia Xané, do Mato Grosso do Sul , entregou um documento redigido na Karioca (encontro indígena que ocorreu paralelamente à conferência oficial), que fazia um apelo aos representantes da ONU para que fosse dado três minutos de fala aos índios durante a plenária final da Rio+20. O pedido, entretanto, não foi atendido.
Índio Xavante pede devolução das terras Marãiwatsédé. Veja vídeo:
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=1_I9GfcV9FY[/youtube]