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Por Patrícia Gomes, do Porvir

Mei não sorria por nada. Não que ela fosse infeliz, o que de fato não era, mas ela simplesmente não sorria. Mei era um bebê de seis meses de idade e, por ter muito a ensinar com sua expressão sisuda, foi escolhida para participar do Roots of Empathy (ou Raízes da Empatia, em livre tradução), um programa internacional que tem conseguido diminuir as ocorrências de bullying, os níveis de agressão e tem ajudado a desenvolver inteligência emocional em crianças do ensino infantil até a oitava série. Numa sala de aula de crianças de terceira série, Mei é apresentada a cada um dos alunos.

Nascido no Canadá, o programa consiste em levar mães da comunidade e seus bebês para as salas de aula compostas por alunos com idades entre 5 e 13 anos. A intenção é que, ao interagir com crianças tão pequenas, os maiores consigam desenvolver empatia, a capacidade de entender como os outros se sentem e, assim, se tornar pessoas mais compreensivas, carinhosas e tolerantes.  “O nosso objetivo é dar suporte ao desenvolvimento da empatia pelas crianças, de forma que elas consigam entender a elas mesmas e às outras e, assim, podermos construir uma sociedade que tenha mais cuidado, paz e civilidade”, afirma a educadora Mary Gordon, que lançou o Roots of Empathy em 1996.

Ao longo desses 16 anos de existência, o Raízes se espalhou pelo mundo, chegando a vários países, como EUA e Nova Zelândia, e, mais recentemente, Alemanha. Em todos esses lugares, o programa começa a atuar em uma escola depois de ser convidado. Firmada a parceria, a organização orienta o diretor a ficar atento a mulheres grávidas da comunidade – mães que já tenham um filho na escola e estejam esperando outra criança, por exemplo – para convidá-las a fazer parte do programa. O Raízes, então, as visita para avaliar como elas se relacionam com seus bebês. “As mães são sempre voluntárias, mesmo em áreas muito pobres. Elas têm muito orgulho de participar porque estamos ensinando que o amor entre uma mãe e um bebê é o melhor exemplo de empatia. E isso não tem a ver com quanta educação ou quanto dinheiro a pessoa tenha”, afirma Mary.

Um instrutor capacitado pela organização lidera os encontros em sala, entre a mãe, o bebê e as crianças. O professor da turma recebe orientação, mas, no momento das atividades, ele também é espectador. O programa é estruturado em torno de nove visitas ao longo do ano, mas para cada série Mary Gordon estabeleceu um currículo diferente. No caso de Mei, as crianças precisaram respeitar o fato de May não sorrir e entender suas formas de demonstrar alegria que não são dando risada. “Ela tem o direito de ser ela mesma”, diz Mary.

Com experiências como essa, as crianças aprendem a se colocar no lugar do outro e vão desenvolvendo habilidades emocionais, algo importante para suas vidas cotidianas e que as disciplinas tradicionais transmitem com menos naturalidade. “Eles compartilham uns com os outros e entendem os sentimentos dos colegas de classe. Todo esse processo, que começa com uma experiência genuína, leva à reflexão e à construção de um pensamento perspectivo e de um letramento emocional”, afirma Mary, que completa: “Quando eu falo de letramento emocional, estou falando de a criança ter um vocabulário para suas emoções e ter a habilidade de refletir sobre como eles se sentem”.

Com crianças com competências emocionais mais bem desenvolvidas, os níveis de violência entre elas e em casa diminuem sensivelmente. Desde que o programa foi criado, seus efeitos vêm sendo avaliados tanto por relatórios de quem participa quanto por pesquisadores externos. Internamente, os professores que recebem as atividades reportam diminuição significativa de comportamento agressivo entre as alunos, que se mostram mais hábeis em reconhecer atos de gentileza, compartilhar, ajudar e entender. Até por isso, no Canadá, o Roots of Empathy é considerado o maior programa antibullying do país, o que, para Mary, “até é verdade, mas não é tudo”.

Até o ano que vem, a Universidade de Washington deve terminar uma pesquisa em que tenta analisar em que medida a participação das crianças no programa afeta o funcionamento de seu cérebro. A hipótese dos pesquisadores é que a experiência com bebês em sala de aula deixa marcas tão profundas nos alunos que trazem reflexos duradouros ao longo da vida. “Eu ainda não tenho os resultados, mas os pesquisadores acreditam que a mudança do comportamento das crianças vem de uma incorporação biológica da experiência nos seus cérebros. Elas lembram de uma forma muito viva do que estavam sentindo ou pensando naquela hora [de interação com o bebê]”, diz Mary.

Além dos resultados relativos ao comportamento, a empatia acaba trazendo, por tabela, desempenhos favoráveis nas disciplinas tradicionais, uma vez que o ambiente pacífico é mais propício ao aprendizado. “Muitas pesquisas no mundo dizem que bons programas de inteligência social e emocional impactam positivamente as competências principais das crianças e a sua performance em testes padronizados”, afirma Mary.

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