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Escrito por Kleber Gutierrez, do Diário do Comércio.

A Edusp, uma das maiores editoras universitárias do mundo, resolveu comemorar seus 50 anos com o Simpósio Internacional Livros e Universidades, que reuniu até ontem algumas das figuras mais expressivas do universo editorial e acadêmico do Brasil e exterior para debater o passado, o presente e o futuro deste ícone do conhecimento: o livro.

A mesa Entre Livros de Papel e Livros Digitais: A Convivência Possível – com John Donatich, da editora da Universidade de Yale, e Andreas Degkwitz, da Universidade Humboldt de Berlim, mediada por Carlo Carrenho, do site PublishNews – foi uma das mais concorridas e elevou a temperatura cerebral dos geralmente impassíveis intelectuais presentes.

A abertura foi feita por Donatich e sua visão quase romântica permeou a fala: “Não acredito que a expansão da internet e dos recursos digitais vá acabar com os livros de papel. Não é verdade que não se lê mais impressos, uma pesquisa nos EUA indicou que apenas 15% dos alunos preferem livros eletrônicos. Não podemos chegar a um ponto em que o acesso à informação seja mais importante do que seu processamento.”

Ele defende que o “conhecimento requer ferramentas que deem prazer.

E será missão da grandes bancas digitais criar metadados. “É claro que é muito mais fácil usar meu laptop para fazer uma pesquisa do que ir a uma biblioteca e folhear dezenas de livros em busca do conteúdo.

É preciso ver que a tecnologia e a pesquisa em linha não destroem o conceito de livro, elas melhoram a sua natureza.”

Ele, contudo, atesta que “é cansativa a leitura em uma tela brilhante. Enquanto que no livro sentimos o hálito do intelectual que o escreveu em cada página”.

Conforme Donatich, “é preciso fazer a defesa do impresso e eu gostaria que houvesse um movimento como o dos alimentos orgânicos ou da alimentação saudável para isso”.

Quanto à expansão do universo digital, ele entende que “viver nele requer novas habilidades, tanto dos produtores quanto dos leitores. Quem produz deve construir uma experiência cada vez mais rica. Mas é preciso cuidado para não criar leitores que nunca se transformem em escritores. E o público vai aprender a personalizar seus livros com anotações, fotos, filmes, arquivos de áudio e listas de e-mails para discussão”.

Quanto à prevalência do modelo digital, ele defende que “temos de proteger o legado cultural e o livro não será substituído pela blogosfera. Pense no gigantesco custo dessa migração. Tudo é ainda muito novo, e os provedores de conteúdo não são transparentes em seus motivos, que podem ser escusos, disfarçados de serviços.

A internet precisa de uma multiplicidade que a proteja, só assim haverá democratização digital”.

Degkwitz entende que vivemos uma fase de transição dos impressos para os digitais. “O que se configura na revolução mais importante para o setor editorial desde a descoberta da imprensa, que vem permitindo o empirismo em vez da hermenêutica.”

Nessa transição, o pensador vê que “as mídias digitais ainda tendem a copiar características dos impressos e desenvolver novos modelos é fundamental”.

Para Degkwitz, o PDF e outros formatos digitais “rígidos” estão com os dias contados. “O ambiente digital permite convergência de formatos de mídia que nunca um livro suportou: dados, texto, filmes, áudio.” Ele entende que esse processo mudará a cadeia de valor editorial, com um grande envolvimento de todos os seus segmentos, formação de parcerias e criação de modelos de negócio”.

Essa revolução “vai permitir maior desenvolvimento da estrutura acadêmica e ampliar de maneira ainda desconhecida a elaboração das pesquisas e a divulgação de seus resultados, que poderão ser infinitamente melhorados, revisados”. O alemão também espera pela compreensão “da influência das redes sociais, e seu trabalho colaborativo, ainda não medido”.

Ele prevê que “bibliotecas e livrarias podem transformar-se em editores de seu acervo, com a integração de novos serviços e de documentos interoperáveis”.

Apesar de vislumbrar “o fim do livro em papel”, Degkwitz diz

que ainda os teremos por longo tempo: “É um meio muito familiar, mas possuiu limites em sua capacidade de apresentação de dados e conclusões”.

Donatich acredita que um grande desafio das bibliotecas e livrarias digitais será a escolha dos algoritmos que vão desenhar o modelo e conteúdo de suas estantes virtuais. “Quais títulos estarão lado a lado? Quando caminho por entre estantes cheias de livros posso me encantar com um ou outro por vários motivos. É preciso lembrar que você não sabe o que não conhece.”

Degkwitz aponta outro: “Bibliotecas digitais precisam entender como remunerar os diferentes elementos envolvidos com a criação cultural. Elas vão precisar se dedicar não ao acesso rápido à informação, mas sim à integração de conteúdos”.

O convidado da Yale estima que “os livros em papel podem voltar a ser o que eram na Idade Média: ícones, objetos de fetiche, relíquias. Serão produções com excelente papel, imagens incríveis, peças de arte para museus e colecionadores”.

Sobre uma possível ameaça das produções digitais independentes, o berlinense acredita que “os acadêmicos precisarão dos editores para desenvolver ferramentas e aplicativos que tornem seus trabalhos cada vez mais vivos” e atualizados, pois “um único link rompido pode comprometer todo um projeto”.

Questionados sobre qual seria o livro digital perfeito, Donatich diz que é aquele com argumentos abertos e socializados. Degkwitz defende que seja um audiolivro, para ouvir confortavelmente. Para o mediador Carrenho, independentemente da plataforma ou do formato, o e-livro perfeito é aquele que possa ser deixado de herança para os filhos. O que, sabemos, o modelo de negócios em voga não permite.

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