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publicado dia 23 de novembro de 2012

“Peladas” de rua estão desaparecendo em São Paulo, constata geógrafo

Por Antônio Carlos Quinto, da Agência USP.

O futebol que ainda é jogado nas ruas de alguns bairros da periferia de São Paulo reflete o quanto a cidade está deixando de ser um lugar de se permanecer e estar. Ao observar as “peladas” jogadas em algumas ruas da Vila Ré — na zona leste da cidade, no distrito da Penha — o geógrafo Glauco Roberto Gonçalves concluiu que a cidade “parece estar doente”.

Ao mesmo tempo, o pesquisador também percebeu o desaparecimento de algumas brincadeiras infantis, como o peão, a bolinha de gude e as pipas, entre outras. “Na verdade, ao acompanhar o futebol de rua, as peladas, eu quis compreender as possibilidades de uso da cidade que acontece das mais variadas formas”, justifica o geógrafo. Segundo ele, entre as brincadeiras de rua, o futebol ainda sobrevive, mas à medida que os bairros vão perdendo suas características as peladas vão sendo mais raras.

Ele conta que a prática do futebol de rua já foi mais efetiva. “Até mesmo em alguns locais da área central da cidade as peladas aconteciam, segundo relatos do filósofo Bento Prado Júnior e do sociólogo Florestan Fernandes”, lembra Gonçalves.

Ares do interior
O pesquisador avalia que um dos aspectos que ainda favorecem a prática das peladas na Vila Ré é o aspecto de cidade do interior que o bairro possui. “O distrito da Penha tem cerca de 400 anos. As suas características originais foram alteradas, mas a Vila Ré é como se fosse um pedaço do interior que ainda resiste por lá”, descreve Gonçalves, lembrando que lá ainda é forte a relação entre vizinhos e o comércio.

Para realizar seu estudo de mestrado, “A crise da cidade em jogo: o futebol na contramão em ruas da Penha”, Gonçalves percorreu durante cerca de três anos as ruas do bairro. Segundo ele, não houve uma sistemática nestas visitas. “Ao ver uma reunião de garotos e uma bola eu parava para observar”, conta. Ele chegou a ter conversas informais com as crianças, mas não houve nenhum tipo de entrevista estruturada. O geógrafo teve a orientação da professora Odete Carvalho de Lima Seabra, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

As modalidades
O futebol nas ruas da Vila Ré é praticado principalmente pelas crianças. Gonçalves identificou grupos com idades entre 6, 7 e 8 anos, os que mais praticam. Outros grupos também são formados por garotos de 12, 14 e 15 anos. “Garotos com idade superior que venham a brincar nas peladas chegam a ser mal vistos pelos próprios moradores”, lembra. E as peladas acontecem com mais frequência nos finais de semana, principalmente aos domingos.

No futebol da rua há muitas semelhanças com o futebol que se pratica num campo. Mas há as diversas modalidades e brincadeiras. “É comum vermos a brincadeira de bobinho, onde os garotos fazem uma roda e tocam a bola um para o outro, enquanto o escolhido como bobinho tenta tomá-la”. Segundo Gonçalves, trata-se de uma atividade aplicada, inclusive, em treinos de futebol. Em outras brincadeiras, como o chamado “golzinho”, os garotos improvisam traves com pedaços de tijolos ou pedras, latas, etc. “Existem ainda as variações numéricas nos jogos. Por vezes 4 contra 4 ou 7 contra 7”, descreve o pesquisador.

Gonçalves explica ainda que o futebol de rua sempre existiu em paralelo ao futebol da várzea em São Paulo. Hoje, a especulação imobiliária eliminou muitos espaços da várzea, mas o futebol nas ruas ainda permanece, mesmo que restrito a alguns bairros periféricos. “Em bairros de classe média alta, a rua já é vista como um espaço perigoso e os pais não têm a segurança de permitir as peladas”, conta o pesquisador.

Outra constatação do geógrafo é que o futebol da rua é um dos principais componentes  característico do jogador brasileiro, que é a improvisação. “Driblar o adversário, as calçadas, jogar no asfalto são situações que desenvolvem nos garotos habilidades que eles levarão para o campo”, avalia.

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