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Por Vagner Alencar, do Porvir

Que a sala de aula não é mais o único lugar para aprender, isso todo mundo já sabe. Inúmeras escolas do Brasil e do mundo estão quebrando as paredes das instituições para se tornarem ambientes mais democráticos e em contato com a comunidade local. Mas em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Vladimir Fernando Krüger, professor de língua portuguesa, encontrou uma maneira um tanto inusitada para ensinar literatura a seus alunos de ensino médio da rede pública. Ele criou um projeto chamado Literatura Além da Morte, onde os jovens aprendem parte dos conteúdo em sala de aula e depois precisam visitar os túmulos de figuras literárias nos cemitérios da cidade como o de Érico Veríssimo e Mário Quintana para realizar saraus ou encenar hábitos que faziam parte da vida dessas personalidades.

Ao longo dos meses, os alunos estudam conteúdos que vão desde as obras de Veríssimo até as composições de cantores típicos locais, além de lendas urbanas e costumes de outras figuras importantes que nasceram em Porto Alegre. No entanto, o desfecho – e o diferencial do projeto – é, literalmente, o momento no qual os alunos vão a campo, ou melhor dizendo, aos cemitérios. No caso, os cemitérios de Santa Casa e São Miguel e Almas, onde estão enterrados os principais nomes da literatura local.

No Santa Casa, os alunos visitam o túmulo de Teixeirinha, considerado típico músico da linha mais popular da música gaúcha, onde tiveram que parar para cantar uma de suas canções mais famosas: Querência Amada. Em seguida, partem rumo à sepultura de Maria Degolada, que se tornou uma lenda urbana gaúcha mas que existiu de fato. Maria foi atacada, degolada e enterrada em um matagal por um soldado da Brigada Militar, em 1899, depois que recusou-se a ceder a suas investidas. Segundo a lenda, Maria passou a ser tida como santa e atende aos pedidos e orações dos mais desafortunados.

O roteiro segue em direção ao cemitério São Miguel e Almas. Lá, os estudantes se reúnem em frente ao túmulo do escritor Mário Quintana. Em homenagem ao poeta, comeram quindins, um de seus doces preferidos. Cantarolam canções em frente à sepultura de Lupicínio Rodrigues, compositor de marchinhas de Carnaval e considerado o inventor da expressão dor-de-cotovelo, por conta de seus insucessos no campo amoroso.  Não muito distante, se deparam com o túmulo de Érico Veríssimo, onde realizam performances defronte à sepultura de um dos escritores mais populares do século 20.

Para quem acha um devaneio a metodologia adotada por Krüger, há explicação. A ideia é aproveitar o cemitério como um ambiente considerado inusitado para estimular novas formas de aprendizado, que fujam da tradicional sala de aula. “O foco é justamente chocar e impactar os adolescentes. É uma maneira de mostrar: ‘Vejam, ele realmente existiu. Aqui está o cidadão que escreveu o livro’”, afirma. “Muitas vezes, um autor passa despercebido durante a trajetória escolar dos alunos. Acredito que essa metodologia consiga fazer com que eles registrem melhor o aprendizado deles e daqui a 20 anos, eles possam se lembrar que um dia um professor os levou para conhecer o túmulo de um escritor que fez tanta história”, afirma Krüger, que faz mestrado em artes cênicas pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

De acordo com ele, elementos como a motivação, curiosidade, experimentação e pesquisa são fundamentais para gerar o protagonismo nos estudantes. “Os alunos ficam mais interessados pela leitura e escrita o que acaba se tornando uma tradição, que gera inovação e que por sua vez gera tradição”, afirma.

Assista a palestra de Krüger no TEDxUnisinos em que ele conta outras experiências para desenvolver o protagonismo na leitura e escrita.

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