Perfil no Facebook Perfil no Instagram Perfil no Twitter Perfil no Youtube

publicado dia 21 de fevereiro de 2013

Rio Vermelho começa a implementar primeiro bairro-escola de Salvador

por

A proposta está sendo construída em sete escolas públicas do bairro Rio Vermelho, com o envolvimento da comunidade.

No final de 2012, alunos da Escola Municipal Osvaldo Cruz, em Salvador (BA), tiveram uma experiência diferente ao realizar a Olimpíada do Meio Ambiente: saíram da sala de aula e foram até a praia para estudar e praticar a coleta de lixo. “O resultado disso foi um vídeo e um jornalzinho para alertar os moradores sobre a poluição”, relata a vice-diretora da instituição de ensino, Danielle Silva. Para ela, aprender Ciências com os pescadores, História com o mestre de capoeira, e Literatura na Biblioteca tem contribuído na formação cidadã dos estudantes.

Outras seis escolas públicas – que abrangem os ensinos Infantil, Fundamental e Médio – do bairro Rio Vermelho, na orla da capital baiana, também passaram a olhar a educação de forma mais ampla, aliando o saber acadêmico com o popular, a comunidade com a escola, os professores tradicionais com os educadores populares.

Esse é o embrião do Bairro-Escola que está sendo implementado na região.

Leia mais:
Experiência de Educação integral fortalece vínculo com a comunidade

Idealizada e coordenada pelo Instituto Inspirare, em parceria com a ONG Cipó e com a Associação Cidade Escola Aprendiz, organização sediada em São Paulo e que já disseminou o bairro-escola em outras cinco cidades brasileiras, a iniciativa recebe apoio ainda da Secretaria Estadual de Educação da Bahia e uma articulação com a nova gestão municipal já está sendo feita.

Construção Coletiva

Um dos alicerces do projeto são as Trilhas Educativas, metodologia que incorpora os saberes locais no currículo escolar. “Na escola não se valoriza os conhecimentos culturais e artísticos que a criança traz. As Trilhas Educativas permitem isso no contexto da escola, a reflexão sobre Matemática e Inglês, por exemplo, vai vir a partir da visão de mundo das crianças”, explica a diretora pedagógica da Associação Cidade Escola Aprendiz, que desenvolve a tecnologia, Helena Singer.

Para o professor de História do Ensino Fundamental e vice-diretor da Educação de Jovens e Adultos da Escola Estadual Alfredo Magalhães, Marcelo Lima, a proposta torna a escola mais atraente e contribui para a permanência do aluno. “Muitos jovens adoram a escola, mas não suportam as aulas. Eles resistem ao conhecimento porque ele está sendo imposto, mas quando é construído coletivamente é diferente”, defende.

Além disso, a pesquisa passa a ser feita no entorno da instituição de ensino – como indica o nome “trilha” -, aproximando o estudante das oportunidades culturais e educativas do bairro. Helena salienta que toda essa movimentação acaba tendo um impacto na própria estrutura e organização escolar, estimulando os educadores a trabalharem em equipe, pensarem o papel da escola na comunidade e a discutirem um projeto político pedagógico.

Novo paradigma

O projeto começou a ser discutido em setembro de 2012 em um grande seminário, com a participação de mais de 60 pessoas, entre educadores, diretores de escolas, líderes comunitários, grupos culturais e outros atores sociais, que se dividiram em Grupos de Trabalhos. De acordo com a diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido, o debate teve como norte os três eixos da metodologia do bairro-escola: arranjos culturais, comunicação e educação integral.

A primeira estratégia, segundo a dinamizadora dos Arranjos Culturais que está sob a coordenação da ONG Cipó, Scheilla Gumes, é a “ocupação de espaços públicos para ressignificá-los, mapeando possibilidades de aprendizagem”. Para colocá-la em prática, o movimento adotou uma praça abandonada e depredada, usada durante a noite como estacionamento, com carros que paravam em cima do gramado e dos brinquedos. Um grande evento cultural marcou o início das atividades no local, que foi rebatizado de Praça do Pôr-do-Sol.

No dia 15 de dezembro de 2012, apresentações de dança, pinturas, ioga para crianças, contação de histórias, entre outras atividades, tomaram a “nova” praça. Desde então, um grupo de jovens vem atuando na sua recuperação física e ocupação com uma programação cultural permanente.

Durante a festa de Iemanjá, em 2 de fevereiro, os moradores do bairro fizeram intervenções na Praça do Pôr-do-Sol chamando atenção para o quê Salvador merece.

Para informar e mobilizar a população em torno do tema, a ideia é criar agências de notícias nas escolas que alimentem agências comunitárias e, paralelamente, realizar uma grande campanha de conscientização.  “O que é um bar de um bairro educador? É o bar que não joga o lixo na calçada porque a criança vai passar pra fazer suas trilhas educativas, que não vende bebida para menor de 18 anos e que participa das atividades no seu entorno”, reflete Anna.

Com o objetivo de incorporar esse novo paradigma no cotidiano escolar, desenvolvendo atividades que permitam uma articulação maior com a comunidade, será realizado, a partir de abril, um programa de formação com os professores.

Por que o Rio Vermelho?

“Além de ter uma importância histórica, ele é um bairro criativo, de resistência, que traduz um pouco da cultura de Salvador e tem ressonância na cidade”, justifica Anna. Com uma vida noturna agitada e uma população predominantemente de classe média, a maioria dos aluno das escolas públicas locais não mora necessariamente no Rio Vermelho, mas nas redondezas, em regiões como Vale das Pedrinhas, Santa Cruz, Federação e Vasco da Gama.

Como fazer, portanto, com que esses jovens se sintam pertencentes ao Rio Vermelho, estimulando-os a aproveitar as suas potencialidades culturais e educativas?

Para Helena, o caminho é promover o diálogo entre os moradores da classe média e os das proximidades.  “Quando falamos em Rio Vermelho pensamos em classe média porque ninguém enxerga as comunidades dos entornos e elas não se enxergam como parte do contexto boêmio e artístico. Precisamos criar as pontes para que eles se percebam como moradores, frequentadores e estudantes do mesmo território, a partir da produção cultural também das comunidades”, aponta.

Anna Penido avalia que o Rio Vermelho é apenas o primeiro passo. “Queremos chegar nas regiões próximas e queremos que os alunos levem isso pra lá, mas vamos começar pelo bairro onde estão as escolas, que é um espaço importante para a formação deles.” E complementa: “Achamos que começando ali, isso vai reverberar mais fortemente. A nossa intenção é inspirar a cidade de Salvador e o estado da Bahia com essa experiência”.

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.

Portal Aprendiz agora é Educação & Território.

×