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publicado dia 17 de maio de 2013

“Educação não se faz do gabinete”, diz Miguel Arroyo aos gestores no 14º Forum da Undime

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Por Julia Dietrich

Durante o 14º Fórum Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, que terminou hoje (17/5), na Costa do Sauípe (BA), o educador e docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Miguel Arroyo, defendeu que a escola deve garantir mais do que o direito à aprendizagem de crianças e adolescentes. “A escola tem que garantir o direito à humanidade desses alunos. O direito a ‘saber-se’ e a ‘aprender-se’”, explicou.

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Segundo o educador, para que a escola exerça essa função, o gestor público precisa garantir ao professor os mesmos direitos. “A educação não pode ser aprender coisas. A educação é o aprender sobre nós mesmos”, justificou, afirmando que o país trava hoje uma disputa no campo do conhecimento.

“Parafraseando Boaventura Santos [educador português], vivemos em uma tensão epistemológica na escola, que é política. Não é aprender versus não aprender. É aprender conhecimentos inúteis versus aprender para a vida, para se tornar um sujeito de direitos”, defendeu.

Arroyo acredita que o gestor público deve estar à frente dessa batalha, pautando os direitos humanos dos alunos no cotidiano da sala de aula. “Educação não se faz do gabinete. Lá não estão os professores e os alunos. A educação está na relação dialógica entre educadores e educadores, estudantes e estudantes, e educadores e estudantes.”

Por outro lado, acrescenta o professor, ao se orientarem por indicadores de aprendizagem, a escola e a política educacional se desumanizam e perdem seu papel educacional. “Nossa pedagogia é demasiadamente ilustrada. Hoje não se usa a palavra conhecimento, só se fala em competências.” Para Arroyo, toda avaliação de resultados é a negação do conhecimento. “Só se avalia o que é quantificável.”

Alfabetização na idade certa

Aplaudido pelos gestores presentes, Arroyo ainda criticou o Programa Alfabetização na Idade Certa, uma das principais políticas do governo federal, que prevê a alfabetização de crianças aos oito anos de idade. “Não existe idade certa para alfabetização. Se nada foi certo na vida dessa criança, porque alfabetizá-la tem que ser na hora certa? Esta política é equivocada: teremos duas ou três turmas de crianças alfabetizadas na idade certa e seis de crianças não alfabetizadas, que serão mais uma vez marginalizadas e excluídas.”

Essas turmas de ‘não-alfabetizados na idade certa’ serão, de acordo com ele, novamente compostas por aqueles já excluídos socialmente. “Serão os negros, os pobres, os do campo. Sou contra qualquer forma de exclusão, de reprovação. Quem faz isso viola o direito da criança à infância.”

Apoio aos movimentos populares

Para Arroyo, todas as transformações educacionais podem acontecer a medida que os gestores de educação atentem para os movimentos populares e faça deles seus parceiros mais valiosos. “Hoje, o povo vai à escola não porque as elites assim o quiseram. O povo vai à escola porque pressionou muito por isso”, justifica.

Nessa perspectiva, o pesquisador valoriza a forma como os movimentos sociais associam a pauta da educação aos direitos humanos. “Os movimentos lidam pela educação e pela terra, pela educação e pelo teto, pela educação e pela memória, pela educação e pela diversidade, pela educação e pela inclusão.”

Por fim, Arroyo indicou que a sorte da sociedade brasileira depende diretamente da sorte da escola pública. “Se não atentarmos a esses direitos, estou certo que nosso tempo será curto”, concluiu.

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