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publicado dia 26 de junho de 2013

Educação laica é ameaçada na Turquia e entra no caldo de protestos

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Cerca de um ano antes da Turquia virar alvo da mídia internacional com manifestações que mobilizaram boa parte do país, um dos estopins da revolta já começava a fermentar: uma reforma educacional, votada por absoluta maioria no Congresso, atraiu críticas de setores da sociedade civil, professores e cidadãos e os levou às ruas em protestos massivos.

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Manifestações são “ideologia em estado puro”, afirma pesquisador

No início de 2012, o hoje contestado primeiro-ministro Tayyp Erdogan, anunciou a vontade de criar uma “juventude islâmica”. Em abril do mesmo ano, seu partido aprovou uma reforma que destina verbas para escolas religiosas, as Iman Hatip, que visam a formação de Imams, ou seja, lideranças islâmicas – Erdogan é egresso de uma dessas instituições. A lei também autoriza o ensino optativo de estudos do Corão – livro religioso – e da vida de Maomé e aumenta o tempo obrigatório de ensino de oito para 12 anos.

Em artigo no jornal inglês The Guardian, Safak Pavey, economista e membro do parlamento turco, alerta que a educação na Turquia está em perigo. “No poder, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK) destinou boa parte do orçamento para mesquitas e escolas religiosas, deixando escolas laicas à deriva.” Safak lembra que em Istambul, 98 escolas de ensino fundamental foram transformadas em Imam Hatip com gestão estatal.

O primeiro-ministro turco estudou em uma Iman Hatip

“Uma mulher me procurou para reclamar que a escola da sua filha, com capacidade para 1200 estudantes, foi transformada numa Imam Hatip para 320. Logo, apenas crianças de que têm como pagar serão capazes de receber uma educação laica. ‘O que nós, pobres, faremos?’, perguntou-me a mãe”.

Erdogan, à época, disse que nenhuma criança seria arrastada para uma escola religiosa e que a medida visava garantir o direito de famílias conservadores de educarem seus filhos de acordo com suas crenças.  No entanto, mesmo antes da reforma, o sistema educacional da Turquia já sofria com a falta de recursos. Segundo a Agência Reuters, professores reclamam investimento em mais salas de aula e na contratação de novos docentes, dado que metade dos 74 milhões de turcos têm menos de 28 anos e os índices de desenvolvimento educacional do país, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), são baixos.

Islã e educação

O cientista político José Farhat lembra que muito do que temos hoje como ciência, como educação, chegou a nós através do Islã. “Isto não pode ser negado. No entanto, a Turquia avançou, por exemplo, na educação, ao torná-la laica, moderna, trazendo em si forças para a sua permanente renovação e aprimoramento. Afastar-se da religião como base de governo, o que inclui obviamente a educação, foi e tem sido responsável pelos avanços da Turquia”, afirmou.

Para o pesquisador, a sociedade turca demonstrou querer continuar seu modo de vida atual ao eleger pela terceira vez o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) e Erdogan, por sua promessa de ser um partido islâmico moderno sem volta ao passado. A realidade, no entanto, é outra. “Erdogan e seu partido se aproximavam cada vez mais das camadas que lutavam por um regime islâmico, longe daquilo que o povo turco preza e que herdou de Mustafá Atatürk (primeiro presidente turco). Não é só a educação que está em jogo, há outros fatores de suma importância, a própria liberdade de comportamento social e de direitos humanos fundamentais.”

Ozan Sönmez, analista financeiro e empreendedor social que tomou parte nas manifestações no país, concorda com Farhat. “A educação não é o principal foco dos protestos, mas as pessoas se sentiram afetadas. Desde universitários até o ensino básico. Erdogan tem feito declarações contra a educação laica e facilitou a entrada de concluintes de escolas religiosas nas universidades públicas”, declarou Sönmez.

Confira as matérias do especial “A Rua Ensina”:

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