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publicado dia 1 de outubro de 2013

Coletivo de arte e arquitetura reinventa a cidade de Belo Horizonte

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“Todos afirmam que as cidades precisam ser mais humanas, mas quase ninguém fala que para que isso aconteça é preciso que elas sejam projetadas para isso”, explica Roberto Andrés, professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos fundadores e membros da publicação Piseagrama, que discute o uso, ocupação e ressignificação do espaço público.

Segundo o pesquisador, formado em Arquitetura, há um descompasso entre a agenda dos governantes e o que vem se discutindo em relação ao urbanismo e configurações de cidades. Entre os exemplos, Andrés cita a prática de canalização dos rios para a construção de avenidas.

“Tem gente que chama isso de construção de boulevards, tem gente que chama de progresso, tem gente que chama de cinismo, tem gente que chama de palhaçada e eu chamo de crime ambiental”, justifica, apontando recentes obras na capital mineira.

Para Andrés, esse espaço urbano – que privilegia carros e uma cultura cada vez mais individualista e protegida (muros altos, “boulevards”, prédios com inúmeros seguranças) – está se estruturando a partir de um projeto falido, que vem sendo cada vez mais questionado mundialmente.


“Vários países estão trazendo essa agenda e nós estamos na contramão. Estamos deixando de ter nossas cidades”, pontua. Como exemplo, Andrés cita a iniciativa da Coreia do Sul. A partir de um estudo de um professor de matemática da rede pública coreana, que traçou os benefícios da descanalização do rio Cheonggyecheon em Seul.

“Em seus cálculos, o professor coreano provou que o retorno do rio diminuiria custos da administração pública e o impacto ambiental, além de melhorar a qualidade de vida da população. Essa é uma ação que prova que isso não é algo utópico”, explica.

Para o pesquisador, não faltam estudos semelhantes no Brasil, revelando o impacto positivo das melhorias no urbanismo das cidades. “O que falta é uma agenda política e uma mudança radical no modelo de sociedade que defendemos”, avalia.

Educação como resposta

E é a partir dessa provocação que o grupo da Piseagrama organiza o que chamam de “práticas pedagógicas expandidas”, ações de intervenção cultural e artística que estimulam as pessoas a repensar os espaços públicos da cidade. “Estamos convocando as pessoas a repensarem também o espaço público da educação e da televisão”, problematiza Andrés, relembrando que o sistema de comunicação brasileiro se organiza por concessões públicas.

Em uma das ações, o grupo substituiu as tradicionais placas com propagandas eleitorais por placas com uma única frase. “Escolhemos cinco propostas concretas, que substituíam a foto, o número e o nome do candidato. Queríamos trocar o que não dizia nada por o que deveriam ser agendas políticas concretas”, explica.

Para o grupo, o objetivo fundamental das ações é o de projetar possibilidades no imaginário das pessoas, intervindo na ideia de que as cidades são construções naturais. “Nós somos essas cidades e precisamos recuperar nossa autoria nos processos e relações que nela se estabelecem”, indica Andrés.

O Piseagrama lançou em comemoração do Dia Mundial sem Carro (22/9), o Guia Morador de Belo Horizonte, que apresenta ao leitor espaços e pontos inusitados da cidade. Estruturado em 13 eixos temáticos um tanto diferentes dos tradicionais – duelos e fantasmas, pássaros, hortas, guardas, reinos e irmandades, futebol de várzea, entre outros -, a publicação propõe um novo olhar dos cidadãos e visitantes sobre a capital mineira.

Escrito por profissionais das mais diferentes áreas, o guia tem novamente o objetivo de provocar e instigar as pessoas a perceberem e reconfigurarem a cidade a partir de suas memórias, história, sentimentos e pertencimento. “No futebol, tema que coordenei, encontramos mais de 70 campos e 200 times. Foi uma surpresa imensa e na pesquisa percebi o quanto isso faz parte da cultura da nossa cidade, da nossa identidade”, pontua Andrés.

Entre suas próximas ações, o coletivo convocou uma assembleia popular horizontal para discutir mobilidade urbana e está coletando assinaturas para um projeto de lei popular para a tarifa zero no transporte público de Belo Horizonte. Para Andrés, que esteve presente no IV Seminário Internacional Teias de Cidadania, da UFMG, as iniciativas do Piseagrama vêm para estimular a discussão colaborativa e as possibilidades da cidade se recriar e se reconstruir a partir de sua história e de seus cidadãos.

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