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publicado dia 3 de outubro de 2013

O que menos preocupa é o analfabetismo

Há algum tempo escrevi um artigo defendendo que o fato de muitas escolas do país não terem sequer uma biblioteca me preocupava menos do que as que têm uma e não são frequentadas por ninguém; ou pior, são trancadas a chaves por uma falsa “tutela” do diretor da escola, que zela por livros limpinhos. Um livro fechado na estante, defendi, não significa evolução cultural – mas estagnação de curiosidade, o pior dos males.

Da mesma maneira, menos me preocupa o fato do índice de analfabetismo ter sofrido um ligeiro aumento, segundo os dados da última Pnad, do que saber que a maioria da população que consegue juntar letras, não lê de verdade. E não me refiro aqui ao que muitos especialistas chamam de “analfabetismo funcional”, mas a questão de que a alfabetização tem sido tratada como uma instrumentalização e não como uma ferramenta para ser ler e compreender o mundo. Há um vácuo gigantesco entre ser alfabetizado e compreender o que nos cerca.

Sim, a escola tem muita culpa nisso, bem como a família. Educação é a base da construção de olhares sobre a vida e não se dá só no lócus da escola; o letramento, e não só ele, é mais um instrumento para que ampliemos essa nossa percepção e a construção de nossa identidade – mas não o único.

O que o educador venezuelano Bernardo Toro alertou, ainda nos anos 80, para uma alfabetização imagética e visual, ainda é uma utopia na escola ocidental, que só pensa em letras e não em imagens. Há ainda um esforço mundial, conduzido pela UNESCO, para que a mídia, que é uma lente poderosa e onipresente de olhar para o que acontece no planeta, também tenha na sua alfabetização – uma necessidade de primeira ordem.

Em suma, hoje as letras são apenas parte do que precisamos para nos comunicar, compreender e ser compreendido. A arte, a comunicação, a mídia – tudo faz parte de um universo de códigos e experimentações no qual o estudante, desde os primeiros anos, deve também estar inserido. A escola, na sua eterna batalha ideológica e construção de identidade, não dá conta nem da metade desse recado.

Há pessoas, leitores de mundo, felizes e plenos, que não sabem ler nem escrever. Mas tocam instrumentos, pintam, falam ou dançam. Nossa velha escola conteudista e funcionalista, filha de Durkheim, só pensa no letramento; nossa sociedade só lamenta por ele – é o que se lê mais facilmente nos jornais.

Cedendo um pouco à onda do analfabetismo, a manchete que não existiu e que diz muito mais sobre a educação brasileira é a que sublinha que “um em cada dois brasileiros analfabetos estão no Nordeste”. A isso vale a pena atentarmos.

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