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publicado dia 30 de outubro de 2013

Gravidez na adolescência impacta educação e vida de meninas

Filésia é uma sorridente e expressiva garota de 15 anos. Mãe aos 13, ela volta a estudar agora no Malawi, país africano que faz fronteira com Moçambique. Filésia engravidou cedo. Nunca soube que havia métodos contraceptivos. Também não sabia que poderia engravidar aos 13 anos. Ao menos essa foi a informação que recebeu do namorado.

Deserdada pela família, casou-se com o pai da criança. Voltou aos estudos graças a um programa do UNFPA (Fundo de Populações das Nações Unidas) e hoje quer ser policial para impedir que meninas sejam presas em casamentos infantis. Filésia, no entanto, é exceção e não regra, entre mães jovens de países em desenvolvimento.

O levantamento “Maternidade Precoce: enfrentando o desafio da gravidez na adolescência”, divulgado nesta semana pelo UNFPA revela que todos os dias, 20 mil adolescentes com menos de 18 anos têm filhos em países em desenvolvimento, totalizando 7,3 milhões – 95% dos casos no mundo. Desse total, 2 milhões tem menos de 15 anos.

Enquanto 39 mil garotas com menos de 18 se casam todos dias, a cada ano, 70 mil morrem por complicações de gravidez e parto e até 3,2 milhões de abortos inseguros acontecem nesses países.

Se levarmos em consideração que 18% da população do mundo é formada por adolescentes – e que um a cada nove vive em um país em desenvolvimento – nos defrontaremos com questões que dizem respeito a diversas esferas de atenção: saúde, educação, gênero.

Educação

O estudo aponta também que a educação pode reduzir as probabilidades de casamento e retardar a gravidez, mas que a garota que engravida pode já ter abandonado os estudos, em geral, por conta de casamentos, muitas vezes forçados.

Na África do Sul, onde a constituição de 1996 garante o direito à educação e retorno à escola para mães jovens, apenas uma em cada três faz a viagem de volta. No Chile, uma mãe adolescente tem de 24% a 37% de chances de nunca retomar seus estudos. Nos EUA, metade das mães adolescentes não completa o ensino básico, contra 90% das que não têm filhos.

No Brasil

Uma em cada cinco crianças nascidas vivas no Brasil nasceram de mães com 19 ou menos anos e uma em cada dez jovens dessa faixa etária, tinha, em 2010, pelo menos um filho.

Com 26,8% da população sexualmente ativa começando a vida sexual antes dos 15 anos, a taxa de natalidade de adolescentes tende a ser alta no país, sendo que a maior parte dos casos acontece com pessoas com baixa renda e escolaridade.

“Muitas gravidezes de adolescentes e jovens não foram planejadas e são indesejadas; inúmeros casos decorrem de abusos e violência sexual ou resultam de uniões conjugais precoces, geralmente com homens mais velhos. Ao engravidar, voluntaria ou involuntariamente, essas adolescentes têm seus projetos de vida alterados, o que pode contribuir para o abandono escolar e a perpetuação dos ciclos de pobreza, desigualdade e exclusão”, aponta o estudo.

Para Fernanda Lopes, representante auxiliar do UNFPA no Brasil, a gravidez na adolescência é consequência de várias lacunas, como acesso das família à informação, restrições de possibilidades de conversa sobre educação e sexualidade no espaço familiar.

Para além dessas questões, reflete ela, há um contexto cultural que se reflete nos espaços de educação formal, onde poderia se construir a autonomia dos jovens para a tomada de escolhas autônomas e voluntárias. “É difícil falar em autonomia quando não há informação, quando há desigualdade de gênero e dificuldade no acesso aos insumos de saúde reprodutiva.”

Desafios

Empoderar os jovens para as decisões e escolhas de suas vidas, como sujeitos de direitos, é o maior desafio. Ambientes culturais, condições sociais e dificuldades no acesso aos equipamentos públicos podem estar no cerne desta questão. Na adolescência, a timidez, sempre presente, se mistura ao preconceito quando o assunto é sexualidade, isolando o jovem do acesso à saúde reprodutiva de qualidade.

A UNFPA busca promover ações educativas em espaços não formais, como é o caso dos centros de juventude e dos espaços religiosos. “A educação formal não pode ser o único espaço de intervenção com objetivo de ampliar o repertório dos direitos de jovens”, afirma Fernanda.

Embora o potencial e o projeto de vida acabe sendo influenciado pela maternidade precoce, o trabalho educativo não fala em prevenção à gravidez, mas sim em garantir habilidades para a vida e para o exercício autônomo da sexualidade e do planejamento da vida reprodutiva. Além disso, há diretrizes no sentido de incluir os meninos nas abordagens.

Segundo Fernanda, não basta falar sobre jovens ou se dispor a trabalhar para jovens.”É preciso falar e trabalhar com os jovens”, reflete, dando ênfase à necessidade de inclusão e participação desse público para que as ações propostas sejam eficazes. “A grande chave para o sucesso destas ações é garantir a participação de adolescentes e jovens. Isso é condição fundamental para garantir que as famílias, os bairros, as cidades se transformem”, conclui.

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