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publicado dia 16 de dezembro de 2013

Sacolão das Artes: cultura e resistência na zona sul de São Paulo

Coletivos do Sacolão plantam mudas na frente do espaço.

Na avenida Cândido José Xavier, uma das afluentes que desemboca na Estrada de Itapecerica, a “avenida Paulista” da zona sul de São Paulo – como lembra um antigo grafite -, está o Sacolão das Artes. Antes de virar um pólo de resistência cultural, o Sacolão era o que o nome diz: um lugar criado pela então prefeita Luiza Erundina para levar comida para as periferias da cidade. Abandonado, como costuma acontecer com prédios públicos afastados do centro, foi tomado e retomado pela população.

Em 2007, a União de Moradores do Parque Santo Antônio, em conjunto com a Rede de Cultura do Jardim São Luis e diversos movimentos ocupou o galpão, com anuência do poder público, que considerou o uso do espaço legítimo. Desde então, o Sacolão se consolidou como um espaço privilegiado de articulação comunitária e cultura.

Atualmente ele abriga a Casa de Arte e Paladar, Mexidão de Ideias, Brava Companhia de Teatro, a trupe de circo Pé na Rua, Grupo de Brincadeiras, Tribunal Popular, Grupo Corpo e Cultura – que incentiva pessoas da terceira idade a praticarem atividades físicas-, a Escola de Samba Cacique no Parque, o coletivo de educação popular Katu, grupos de bordado, yoga, ginástica, a Universidade Popular e diversas atividades para a população local aos fins de semana.

Todos os frequentadores, coletivos residentes e associações também são bem-vindos na composição do Comitê Gestor, que foi aberto recentemente e é autogestionado, ou seja, quem cuida do espaço é quem o frequenta, sem eleições ou burocracias.

“É um espaço sem burocracia para quem quer fazer. Nas ruas não existe lazer, não tem uma praça, não tem onde as crianças podem correr e brincar, o Sacolão é esse espaço, se ele não é mais é por falta de recurso”, afirma André Nankran, do Coletivo Katu, que atua no local.

O Sacolão também funciona como um lugar para encontros e organização popular. Os moradores se reuniram para debater mudanças na região, como a melhora da sinalização de rua, a criação de uma faixa de pedestres, coleta regular de lixo e saneamento dos córregos da região. Embora muitas dessas reivindicações tenham sido atendidas, surgiu um temor de que o local pudesse ser desapropriado para a construção de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), serviço em falta para quem vive no Parque Santo Antônio.

Sobreposição

“Eu até entendo [a instalação de uma UBS], sendo morador da região”, reconhece Josiel Maxakalunga, que chegou no local em 2004 e é membro ativo do Sacolão desde sua fundação. Para ele, há um estrangulamento das políticas públicas da cidade. “Os gestores querem deixar sua marca investindo pouco e dialogando menos ainda, constroem espaços em cima de espaços, por exemplo, escolas em cimas de campos de futebol, ao invés de ampliar o que já tem e é comunitário. Existem outros lugares para essa construção”, analisa.

A percepção de Josiel encontra eco na Subprefeitura de M’Boi Mirim. “Muita gente olha como um espaço ocioso, mas é preciso buscar fomento para a cultura, otimizar os usos, [mais] do que brigar para colocar outra coisa no local. Defendemos a manutenção do espaço”, declarou José Ronaldo, supervisor de Habitação da Subprefeitura. “Faltam recursos, mas esperamos que no decorrer da gestão eles cheguem para fazermos a diferença também na cultura”, afirmou.

Em novembro deste ano, Márcio Luiz da Costa, chefe de gabinete da Subprefeitura de M’Boi Mirim, disse em entrevista ao Brasil de Fato que o espaço obteve parecer favorável do secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, e de demais instâncias do poder público para a cessão definitiva do espaço para os coletivos, o que ainda pode levar alguns meses.

Segundo Nankran, algumas resistências ao Sacolão vêm de lideranças comunitárias e gestores públicos, que veem o local com maus olhos por sua proeminência política. “É um espaço que combate a cultura como mercadoria”, protesta. Para ele, o espaço representa uma tentativa de “re-territorializar” a área, em busca de uma nova dinâmica.

“Nós cumprimos uma função que o Estado não consegue. Atuamos nessa brecha sem sermos uma ONG. Queremos propiciar novas visões, contribuindo para que as pessoas participem das questões cruciais da vida da cidade, através de educação popular, arte, cultura negra e indígena”, finaliza Maxakalunga.

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