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publicado dia 17 de dezembro de 2013

Cultura e Educação no chão de fábrica

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A Fábrica de Cimento de Perus, localizada na zona noroeste de São Paulo, foi pioneira na produção em grande escala no Brasil e forneceu material para a reurbanização do Vale do Anhangabaú, no fim dos anos 1930, e para a construção de Brasília, na década de 50. Foi também palco de simbólicas greves em plena ditadura militar, quando mais de mil operários paralisaram as máquinas e reivindicaram melhores condições de trabalho e pagamento de salários atrasados.

Hoje, 87 anos após a inauguração, o local onde um dia funcionou a maior indústria de cimento da América Latina é o centro de um impasse entre moradores da região e proprietários do terreno.

A Fábrica forneceu material para a reurbanização do Vale do Anhangabaú e para a construção de Brasília.

Fechada desde 1986, a Fábrica foi tombada como patrimônio público da cidade, porém o abandono da área gerou propostas um tanto distintas para a sua utilização: de um lado, o projeto de erguer muros e construir um centro de compras e um condomínio residencial; de outro, a ideia de transformar o local em um Centro de Lazer, Cultura e Memória do Trabalhador, que abrigaria ainda uma Universidade Livre e Colaborativa.

Queixadas é o apelido dado aos operários grevistas que, em 1958, resistiram a 46 dias de paralisação e conquistaram reajuste salarial de 40%. O nome é uma alusão a uma espécie de porco selvagem, que quando se sente em perigo, se une em grupo e bate o queixo, enfrentando os predadores. Esse episódio marcou a primeira geração de queixadas da Fábrica, já que outras mobilizações de trabalhadores se seguiram. A mais conhecida durou sete anos e se prolongou durante a ditadura militar. Clique aqui para ler o livro “Queixadas – por trás dos sete anos de greve”.

“Olhar o esqueleto da Fábrica dá um desgosto enorme. Gostaríamos de ver um polo cultural que resgate a história dos trabalhadores que passaram por ali”, revela Olga Gastalho, filha caçula do queixada Antonio Joaquim. Ela guarda o capacete que era utilizado diariamente pelo pai – além de um emblema da Fábrica – e promete doar para um futuro “Museu dos Queixadas”.

Olga acredita que, por ser um marco na conquista dos direitos trabalhistas em todo o país, a memória desses operários grevistas não pode ser esquecida. “Seria uma chance de recuperar a história de trabalho, luta e superação que está na alma do bairro de Perus”, afirma.

Educação patrimonial

A diretora da EMEI Jardim Monte Belo, Regina Bortoto, acredita na importância de ensinar a história da comunidade desde cedo. A escola já organizou visitas e peregrinação pelas ruínas da Fábrica, aulas públicas naquele que era o portão principal, além de um livro com crônicas sobre o local produzido pelos estudantes.

É o que ela chama de “educação por meio do patrimônio”. “Trabalhamos numa perspectiva de trazer o conhecimento local e usá-lo no aprendizado do aluno. E dentro da Fábrica existe um universo de saberes, desde a industrialização da cidade até as greves laborais”, observa Regina.

Para ela, apresentar elementos palpáveis e simbolicamente importantes para essas crianças facilita o processo de aprendizagem e fortalece os vínculos entre os alunos. “Dessa maneira, é possível mostrar de forma crítica o lugar onde eles vivem”, diz.

O Grupo Pandora de Teatro apresentou, ao longo de 2013, o espetáculo “Relicário de Concreto”, inspirado nas memórias dos trabalhadores da Fábrica e na greve dos Queixadas. “O papel da comunidade cultural é resgatar a história da região. Temos esperança de recuperar o espaço da Fábrica, que já teve o primeiro ponto de lazer do bairro”, diz Rodolfo Vetore, integrante da companhia.
Ele acredita que o centro cultural e a universidade livre, além de criar espaços de lazer e conhecimento na região, fariam com que “a cidade de São Paulo conhecesse melhor a história de um de seus bairros”.

Em setembro, a diretora e outros 37 docentes participaram do curso de formação Memória e história de Perus: o saber local e a prática em sala de aula. “Os professores são multiplicadores e replicam esse tema na escola. Afinal, eles têm em sua própria história a marca da Fábrica”, explica Márcio Bezerra, gestor do CEU Perus.

Além da formação, o CEU também abriu as portas para duas peças de teatro que abordam a trajetória da Fábrica. “É como no ditado que diz: o povo que não preserva a sua história jamais será livre. Precisamos de um centro cultural voltado ao trabalhador, onde ele se reconheça participando não só da história de Perus, mas também do Brasil”, ressalta.

Desapropriação

Os movimentos sociais e artísticos da região que reivindicam a desapropriação, conservação e uso público da Fábrica estão aguardando resposta da CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) acerca do pedido. “Retomamos o diálogo este ano, com a gestão de Fernando Haddad (PT), através do secretário de relações governamentais, João Antonio da Silva Filho. Mas ainda não obtivemos resposta”, afirma Bezerra.

Movimentos reivindicam a desapropriação, conservação e uso público do espaço abandonado.

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