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publicado dia 28 de janeiro de 2014

Em BH, Kaza Vazia ocupa vácuos da metrópole com arte

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Trabalhar com o “nada” costuma ser difícil para muitos. A estaca zero, o ponto de partida – os primeiros passos de uma obra, o papel sem desenhos ou palavras, a tela ainda branca – é o momento no qual a criatividade assume o protagonismo e novas ideias surgem para aperfeiçoar o resultado final daquilo a ser trabalhado.

Com a Kaza Vazia, porém, o negócio é diferente. O coletivo de artistas sediado em Belo Horizonte (MG) vive a procura de espaços vazios existentes na cidade para, a partir de seu abandono, criar um novo lugar – e novas lógicas de existência e dinâmicas de funcionamento para aquele ambiente.

A Kaza Vazia surgiu em dezembro de 2005 a partir de discussões sobre espaços expositivos, sejam eles convencionais ou alternativos. Os artistas estavam insatisfeitos com os critérios curatoriais de galerias e salões de arte. Desse incômodo surgiu a necessidade de encontrar um espaço para exposições onde cada artista fosse o seu curador.

Assim nasceu a Kaza Vazia – Galeria de Arte Itinerante que, desde então, promove ocupações e intervenções artísticas e temporárias nos mais distintos lugares: casarões abandonados, lojas comercias, conjuntos habitacionais, apartamentos particulares, comunidades, ruas, parques e mercados municipais. “Fomentamos uma proposta intrigante de dialogar com a cidade, de colocar a arte na pauta do dia a dia, sempre em espaços comuns da vida”, explica Thales Bedeschi, artista e educador que integra o coletivo.

Poéticas e políticas

Nesses oito anos, a Kaza Vazia já promoveu 11 ocupações. A primeira delas aconteceu ainda em 2005, quando o grupo de artistas – formado por arquitetos, atores, artistas visuais, poetas, escritores e músicos de Belo Horizonte – se estabeleceu em um casarão abandonado na orla da Lagoa da Pampulha, ao lado do Museu de Arte da cidade, e apresentou vídeos, objetos, performances e intervenções, além de uma feira de gravuras. Com entrada gratuita, durante um final de semana, a chamada “Kaza Vazia 1” ficou aberta para a visitação da comunidade.

A oitava ocupação, entretanto, foi uma das que mais chamou atenção de Bedeschi. Ela aconteceu em um casarão inacabado no bairro de Mangabeiras, região nobre da capital, que estava ocupado por uma família de catadores vivendo de maneira vulnerável. Segundo o educador, o objetivo era colocar a arte em tensão com essa situação limite. “Estabelecemos um campo de trocas de soluções práticas e estéticas para o dia a dia, nos inspirando nas soluções da família e criando inspirações para eles também. Criamos um outro mundo sensível, de formas inusitadas e de gambiarras líricas”, afirma.

De acordo com Bedeschi, a Kaza Vazia pretende fomentar ações poéticas e políticas na cidade: mostrar que uma faixa de musgo pode ser considerada um jardim natural e explorar a sua cor e sua forma não como uma sujeira a ser retirada, ou pensar em canteiros centrais de avenida como espaços próprios para se esticar uma rede e descansar após o expediente (como aconteceu na Kaza Vazia 11).

Inversão de valores

Por ser um grupo aberto, cada edição da Kaza Vazia conta com um time de artistas diferente, fazendo com que o processo de criação seja marcado por rotatividade de ideias, práticas e conceitos.

Para o educador, a performance da Kaza Vazia revitalizou lugares abandonados pelos “bons olhos”, desprezados pelo uso funcionalista da cidade e marginalizados pelo sentido mercadológico da vida urbana. “Ela renovou expectativas, os olhares, trazendo beleza para o que foi classificado como feio, inútil, vazio. Tratou-se de um exercício de inversão de valores. Significou acenar não só para a intervenção urbana, como para a ocupação urbana”, finaliza.

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