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publicado dia 16 de setembro de 2015

“Atenção plena” na escola impacta resultado acadêmico

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Por Alexandre Sayad e Michel Metzger

Parafraseando Umberto Eco, mesmo a malta dos “integrados” à ordem da tecnologia como fator crítico de melhora da educação, enxergam um ponto preocupante: a dispersão. Uma criança, um jovem ou um adulto ultraconectado tem seriamente a chance de  não conseguir aprofundar-se em determinado conhecimento ou ação. No fundo, é a mesma velha questão que intriga os gestores de políticas públicas intrigados e entender a evasão escolar ou por que a escola precisa se modernizar enquanto locus de aprendizagem.

As demandas do século XXI acabam por impor também uma sobrecarga cognitiva sem precedentes aos estudantes: currículos fragmentados, preocupação exagerada nos resultados, pouco contato com a realidade dos alunos etc. O resultado: crianças e jovens cada vez mais estressados, deprimidos e hiper-medicados. Mas, numa realidade complexa e quase imutável como essa, como melhorar o “estado de atenção” dos estudantes sem medicamentos e de maneira sistêmica? Uma variante da meditação tem se mostrado um caminho promissor.

Alexandre Le Voci Sayad é diretor do MEL (Media Education Lab), membro do conselho diretivo da Aliança Global Para Alfabetização Midiática da UNESCO (GAPMIL) e autor de “Idade Mídia – A Comunicação Reinventada na Escola”, dentre outros livros.

Michel Metzger é educador e trabalha com crianças, jovens, professores e tecnologia. Atua como coordenador de informática no Colégio Iavne e é presidente do Conselho da Associação Cidade Escola Aprendiz.

As iniciativas ligadas à “atenção plena” na escola foram inicialmente introduzidas em situações de alunos em situação de risco ou em casos de catástrofes. O exemplo da educadora Linda Lantieri é emblemático: após o atentado às torres gemeas nos Estados Unidos, ela criou um programa para resgatar a resiliência de alunos e professores das escolas próximas a área atingida. Um dos exercícios que Linda propôs era bastante simples: as crianças deitavam e usavam bichos de pelúcia sobre a barriga para observar o movimento de sua respiração. Isto permitiu às crianças retomar o foco, olhar com mais sensibilidade ao mundo interior, aos pensamentos, sentimentos e sensações e ao mesmo tempo ser mais empático com seus colegas e professores.

Esta é a base da atenção plena –”mindfulness”, criada a partir de práticas milenares de meditação budistas porém dentro de um viés médico e não-religioso, dentro das pesquisas de neurociência. As técnicas surgiram na década de 70 e ganharam projeção com o trabalho de Jon Kabat-Zinn e a sua clínica de redução de stress no hospital da Universidade de Massachusetts (EUA). Embora existam muitas definições possíveis podemos tomar como ponto de partida a ideia de Jon Kabat-Zinn: atenção plena é prestar atenção intencionalmente no momento presente e sem atitude de julgamento.

Sem contrariar quem acredita na importância do desempenho acadêmico, o estado de atenção plena também tem interferência direta nesse plano. Nos anos 90, Daniel Goleman, através da obra “Inteligência Emocional”, já mostrava que as habilidades sócio-emocionais são tão significativas na qualidade de vida profissional e pessoal quanto as habilidades cognitivas. Preocupado com o desafio de resgatar a capacidade de auto-regulação, resiliência e empatia na escola, Goleman ajudou a criar o grupo CASEL (Colaborativo para a Aprendizagem Acadêmica, Social e Emocional). As várias iniciativas pesquisadas pelo CASEL apresentam resultados robustos mostrando uma interdependência entre as habilidades sócio-emocionais e os resultados acadêmicos.

A discussão da melhoria da educação básica no Brasil tem se pautado por uma série de questões fundamentais – recursos, formação de professores, avaliação, tecnologias, metodologias. A experiência de Linda Lantieri nos traz alguns elementos em relação aos momentos que estamos vivendo. A atenção plena traz instrumentos na busca de uma educação que pense o ser humano de maneira integral, mais resiliente, empático, criativo e compassivo.

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