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publicado dia 23 de setembro de 2015

Mobilidade urbana: Pesquisa indica que 64% dos paulistanos são favoráveis às ruas de lazer

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No dia em que se comemora o Dia Mundial Sem Carro (22/9), uma pesquisa sobre mobilidade urbana em São Paulo revelou que 64% dos entrevistados é favor da abertura de ruas e avenidas aos domingos para o lazer e deslocamento exclusivo de pedestres, ciclistas, skatistas e patinadores. Os contrários à proposta somam 33%. A maioria absoluta (90%) é a favor da construção de mais faixas e corredores de ônibus.

Os dados apontam ainda uma queda de 11% entre os motoristas que utilizam automóvel todos ou quase todos os dias para se locomover na capital paulista. Se, em 2014, 56% dos paulistanos que possuíam carros o utilizavam diariamente, em 2015 esse número caiu para 45%.

O Dia Mundial Sem Carro foi criado na França, em 1997, e a partir do ano 2000 foi adotado por diversos países europeus. A data tem a pretensão de estimular uma reflexão sobre o uso excessivo do automóvel e propor uma revisão da dependência que pessoas que dirigem todos os dias criaram em relação ao seu veículo particular. A data é destaque em diversas cidades do mundo, onde são realizadas atividades em defesa do meio ambiente e da qualidade de vida.

O estudo, realizado pelo IBOPE Inteligência e apresentado nesta terça-feira no Sesc Consolação, ainda mostrou uma tendência de equiparação em relação ao tempo médio gasto no deslocamento entre aqueles que utilizam o transporte público e o particular: 2h48 para os que usam carro e 2h56 para quem usa o transporte público.

O lançamento da Pesquisa sobre Mobilidade Urbana – encomendada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) – fez parte da Semana da Mobilidade em São Paulo, que acontece até o dia 25/9. O levantamento contou com a participação de 700 moradores da capital paulista com 16 anos ou mais e possui margem de erro de quatro pontos percentuais.

O lançamento da Pesquisa sobre Mobilidade Urbana fez parte da Semana da Mobilidade em São Paulo, que acontece até o dia 25/9.
Investimentos no metrô e no trem podem melhorar a mobilidade urbana em São Paulo.

Todos os itens avaliados, como sinalização para pedestres, aplicação das leis do trânsito e controle da poluição do ar, obtiveram nota abaixo da média (5,5). Este último item, aliás, foi tema de uma pergunta inédita da pesquisa, que revelou que 62% dos paulistanos já tiveram problemas relacionados à poluição do ar em seus domicílios.

De acordo com Evangelina Vormittag, diretora-presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade, se os índices de partículas inaláveis que saem dos veículos continuar alto, em 15 anos o estado de São Paulo perderá um milhão de vidas por conta da poluição. “Como aceitar que nada está sendo feito em relação a poluição na cidade hoje? A CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) precisa fazer um plano. Apenas 1,7% dos municípios brasileiros realiza pesquisas sobre a qualidade do ar, que é obrigada por decreto.”

Representando a Secretaria Municipal de Saúde, Ruy Paulo D’Elia Nunes lembrou que 70% dos leitos de emergência na cidade são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito. “Temos nos envolvido em diversas atividades e trabalhos nos territórios, ações intersecretariais, focando em promoção da saúde e empoderamento das pessoas da comunidade”, pontuou.

“Sabemos que os jovens estão sendo mortos na periferia, mas também no trânsito – como motoboys. Há uma relação do que acontece com a juventude na periferia e também no tipo de trabalho que eles exercem nos bairros mais centrais”, observou Nunes.

O lançamento da Pesquisa sobre Mobilidade Urbana fez parte da Semana da Mobilidade em São Paulo, que acontece até o dia 25/9.
Discussão sobre os resultados da pesquisa.

Um resultado curioso é o que indica a avaliação do transporte público: quem realmente o utiliza dá nota melhor (5,1) do que aqueles que preferem o carro (4,1). Voltando ao tempo médio de deslocamento, quem dirige carros deu nota 3,3 para este quesito, enquanto os usuários do serviço público avaliaram em 5,2.

O programa Rua Aberta, da Prefeitura de São Paulo, está realizando 32 audiências públicas para discutir com a população a liberação de ruas e avenidas exclusivamente para pedestres e ciclistas aos domingos, das 10h às 17h. Na próxima quinta-feira (24/9), às 19h, a Subprefeitura do Butantã promoverá a sua (Rua Ulpiano da Costa Manso, 201 – sala Butantã). A ideia é liberar vias como as avenidas Eliseu de Almeida e Lineu de Paula Machado e a praça Elis Regina.

A pesquisa mostra que 83% dos paulistanos que possuem carro – ou 2,3 milhões de pessoas – estão dispostos a deixa-lo na garagem se houver boa alternativa de transporte público. Quase a metade dos entrevistados acredita que, para melhorar a mobilidade, o poder público deve investir na construção de mais linhas de metrô e de trem, além da ampliação das que já existem.

Polêmicas recentes

Como as entrevistas foram realizadas recentemente, a pesquisa não escapou de temas que estão sensibilizando a opinião pública em São Paulo. A utilização de bicicletas para o deslocamento diário é feita por apenas 7% dos paulistanos; porém, a taxa de rejeição ao modal vem caindo. Em 2007, 34% afirmavam que não usariam bicicleta “de jeito nenhum”; em 2014, eram 24%; neste ano, o número chegou a 13% dos paulistanos.

Enquanto 38% da população é contrária à construção de novas ciclovias e ciclofaixas, 59% afirmam ser favoráveis à medida. 44% também afirmam que utilizariam a bicicleta caso houvesse mais segurança e 18% pedem mais sinalização nas ruas.

A redução de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê foi rejeitada por 53% dos paulistanos, a medida que 43% aprovam a ideia. A maior parte da rejeição vem daqueles que utilizam carro todos os dias e que possuem renda mais alta que cinco salários mínimos.

O lançamento da Pesquisa sobre Mobilidade Urbana fez parte da Semana da Mobilidade em São Paulo, que acontece até o dia 25/9.
A rejeição ao uso da bicicleta como transporte diário vem diminuindo.

Mudança de mentalidade

O especialista em trânsito Jakow Grajew explicou que medidas impopulares ligadas à mobilidade na cidade costumam ser evitadas por conta das eleições. “Para tomar essas medidas é preciso de coragem. Fiz uma pequena pesquisa com os nomes das auto-escolas de São Paulo: Veloz, Pódio, Rápida, Grid. É um convite à velocidade. O fluxo de veículos, por sua vez, permite mais vazão. É uma questão de civilidade, o comportamento na via deve ser solidário e mostrar como a sociedade se comporta.”

Maurício Broinizi, coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo, lembrou que, em 2007, a gestão municipal negou o projeto da primeira ciclovia da cidade argumentando que São Paulo não suportaria tal demanda. “Nada está tão determinado no nosso cotidiano, cultura e cidade. Isso indica que a transformação é possível: precisa ter vontade política e pressão da sociedade.”

Para ele, há um único caminho para a mobilidade urbana em São Paulo: limitar a cultura do uso intensivo do automóvel. “É preciso mexer nessa mentalidade que está em nosso imaginário há muito tempo.”

Direito ao transporte

A pesquisa foi anunciada exatamente uma semana após o Congresso Nacional promulgar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que inclui o transporte entre os direitos sociais definidos pelo artigo 6º da Constituição Federal. A mudança, segundo a deputada, obriga o Estado a propor políticas públicas para assegurar a qualidade do serviço prestado no setor.

Em sua coluna na Folha de São Paulo, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik afirma que o transporte deve ser visto como um direito elementar, já que, assim como a moradia, permite o acesso a outros direitos. “Os dois são uma espécie de ‘direito-meio’ para alcançar outros direitos: sem um lugar adequado para permanecer, e sem possibilidade de se deslocar, não se tem acesso à saúde, à educação, à alimentação, ao lazer.”

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