publicado dia 21 de janeiro de 2016
Ter um filho é motivo de evasão escolar para uma em cada cinco meninas
por Clipping
publicado dia 21 de janeiro de 2016
por Clipping
Por Caio Zinet, do Centro de Referências em Educação Integral
Questões familiares, trabalho e gravidez: esses são os três principais elementos que afastam as jovens brasileiras dos estudos, segundo pesquisa feita em parceria entre o Ministério da Educação, a Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências (Flacso).
O estudo perguntou aos jovens de 15 a 29 anos por que pararam de estudar e o que havia motivado tal decisão. Entre as meninas, 18,1% indicaram a gravidez como o principal motivo. Já entre os meninos da mesma faixa etária, somente 1,3% declararam que interromperam os estudos pela mesma razão.
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Outras 23,1% das jovens brasileiras afirmaram que saíram da escola “por questões familiares”, enquanto o índice entre os garotos foi de 16,4%. Embora o estudo não explore quais são essas questões, limitando-se apenas a afirmar que se relacionam com o ambiente da casa do estudante, entende-se que as tarefas de cuidado (do domicílio ou de crianças e idosos), geralmente delegadas às mulheres, também possuem um peso importante na evasão escolar das meninas.
A necessidade de trabalhar também tem peso. O estudo mostra que do total de adolescentes que abandonou o ensino formal, 36,1% dos meninos declararam que o motivo foi a necessidade de trabalho. O índice é de 20,9% entre as jovens brasileiras.
Gravidez
Segundo a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, muitas das meninas que ficam grávidas não contam com o apoio dos pais e também não têm estrutura para deixar os filhos na escola.
Dessa forma, elas se veem obrigadas a interromper o processo de estudo. Miriam conta ainda que nas entrevistas realizadas para a pesquisa, algumas adolescentes relataram também que eram desencorajadas pelo cônjuge a continuarem estudando.
“Na parte qualitativa da pesquisa percebemos que um percentual razoável das meninas saíram da escola por pedido ou sugestão do namorado ou marido”, afirmou a coordenadora da pesquisa.
Discussão de gênero
Uma das principais discussões ligadas à educação nos últimos anos diz respeito à introdução ou não de temáticas ligadas a gênero e sexualidade nas escolas. No Plano Nacional de Educação (PNE), e depois em diversos planos estaduais e municipais, metas vinculadas ao tema foram suprimidas dos textos finais, atendendo a uma demanda de setores conservadores da sociedade.
Muitas escolas e professores seguem discutindo a temática a despeito da sua ausência no plano. A grande maioria das instituições de ensino, no entanto, já não discutia o tema e agora tem o respaldo nos planos para que a discussão sobre gênero e sexualidade não conste no currículo.
A ausência desse debate tem um peso ainda maior sobre as meninas que sofrem com o machismo e cuja sexualidade em diversos casos é um tabu ainda maior do que para os meninos.
Para a educadora e oficineira independente, Érica Guerra, outro elemento que empurra as meninas que engravidam para fora da escola é a falta de perspectivas de vida e o modo como essas jovens enxergam seu papel na sociedade: ser mãe e trabalhar, muitas vezes de forma precarizada.
Outro fator importante diz respeito à falta de creches, seja na própria escola ou em um local próximo. Assim, mesmo que a mãe queira continuar os estudos, se ela não tiver com quem deixar o filho durante esse período, a jovem se vê obrigada a ir cuidar da criança.
Sobre os dados da pesquisa, Érica acredita que ela evidencia a forma como a sociedade joga sobre as mulheres a responsabilidade sobre os filhos. “É ela quem para de estudar para cuidar da criança e não e pai. Isso é cruel porque cria um ciclo que afasta as mulheres da escola e de outras perspectivas de vida”, finaliza.
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