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publicado dia 27 de janeiro de 2016

Nobel da Paz chama estudantes de ‘heróis’ por ocupações em defesa do direito à educação

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Por Caio Zinet, do Centro de Referências em Educação Integral

Um grupo de jovens senta na beira do palco. No centro, o indiano Kailash Satyarthi, um homem de cabelos brancos, 62 anos e vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2014 pela sua luta contra o trabalho infantil. Cercando o reconhecido ativista está um grupo de adolescentes e estudantes da Escola Estadual Fernão Dias, que lutou contra o fechamento de escolas que o governo estadual de São Paulo pretendia fazer.

“Vocês são heróis”, afirmou o Nobel da Paz aos militantes secundaristas. “Vocês são jovens que tiveram a coragem de entrar numa briga mesmo sem saber se iam ganhar ou perder. Entraram na luta porque tinham certeza que a reivindicação era justa e isso é inspirador”, disse Kailash aos estudantes após ouvir o relato da vitoriosa mobilização que travaram ao longo do ano passado.

Estudantes da Fernão Dias tiram 'selfie' com Kailash.
Estudantes da Fernão Dias tiram ‘selfie’ com Kailash.

O encontro entre as duas gerações de lutadores sociais ocorreu no Senac Lapa Scipião em um evento promovido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação.  Os estudantes ouviram Kailash contar sobre a sua luta que já libertou 80 mil crianças indianas do trabalho escravo.

Os adolescentes escutaram o prêmio Nobel da Paz falar sobre a forte relação entre trabalho escravo, analfabetismo e desigualdade social e sobre como educação é um direito humano fundamental que precisa ser garantido pelo Estado. “Conhecimento é poder e quando fica nas mãos de poucos gera desigualdade e é justamente isso que tem acontecido na maioria dos países”, afirmou.

Após o indiano, os jovens foram chamados ao palco para contar a história da luta contra o processo de reorganização escolar. Como vem se tornando uma prática do movimento, os estudantes subiram em grupo, sentaram-se na beira do palco e dividiram entre eles o relato.

Eles explicaram que são contrários à proposta de reorganização escolar, pois não veem sentido pedagógico algum na medida, além de que aumentaria a superlotação das salas de aula. Inspirados na experiência dos estudantes secundaristas chilenos, eles decidiram ocupar unidades da rede estadual. A tática deu certo.

“No auge ocupamos mais de 200 escolas e o governo não queria negociar. Decidimos que era hora de fechar ruas e, como somos menores de idade, tínhamos a ilusão que a Polícia Militar não bateria em nós, mas não foi o que aconteceu. Eu mesma fui presa durante um trancamento de rua”, conta Camila Rodrigues.

Os estudantes afirmaram que a tentativa de intimidá-los deu errado. “De manhã trancávamos uma rua e polícia jogava bomba e batia em nós. À tarde estávamos na ocupação, ou em algum Distrito Policial para prestar solidariedade a um estudante preso e à noite voltávamos para fechar mais uma rua”, relata Jéssica Lopes.

Após o relato dos estudantes, Kailash, que estava em uma cadeira, sentou-se ao lado deles no chão pediu a palavra. Relembrou que ele e e um amigo também foram presos na Índia quando jovens. Na ocasião, o protesto era contra a obrigatoriedade do ensino de inglês nas escolas públicas, em uma época que o país havia conquistado há pouco tempo sua independência política da Inglaterra.

“Qual era o sentido de se manter o ensino obrigatório da língua do nosso antigo colonizador nas escolas públicas? Fomos para a rua e a polícia, assim como aqui no Brasil, também reprimiu o movimento. Eu fui preso junto com um amigo por conta do nosso ativismo”, relembrou Kailash.

A partir da sua experiência de luta, ele enxergou no relato dos estudantes secundaristas uma juventude capaz de sonhar e que tem toda a capacidade para participar de diversas lutas sociais, conquistando avanços políticos e sociais importantes para todo o país.

“Continuem sonhando grande, continuem lutando sempre porque vocês podem, juntos, garantir o fortalecimento de direitos sociais. Vocês são um exemplo para mim”, afirmou o senhor de cabelos brancos.

Seguir na luta não parece que será um problema para os estudantes que participam das mobilizações contra o reajuste das tarifas e estão de olho no governo estadual que deve retomar a ideia da reorganização escolar depois de suspendê-la em 2015.

No final do evento, Kailash fez um convite para que os estudantes se somem a uma luta global pelo direito à educação ao que os adolescentes responderam: “Demorô! Tamo dentro!”.

 

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