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publicado dia 9 de março de 2016

CEU Butantã transborda para território em busca de cidade educadora

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Cortejo chamou a atenção dos estudantes que frequentam as escolas do CEU.
Cortejo chamou a atenção dos estudantes que frequentam as escolas do CEU.

Foi com som, luta, batuque e infância que a tarde desta terça-feira, 8/3, se passou no Centro Educacional Unificado (CEU) Butantã. Trata-se da ação “OcupaCEU Bebês, Meninas e Mulheres: pela democracia dos espaços e das relações de igualdade e respeito entre crianças, homens e mulheres”, que, nas palavras de Naime Silva, empossada há um mês e uma semana como gestora local, veio para marcar o 8 de março e trazer a proposta de tornar o território cada vez mais educativo.

Os mais novos logo aderiram ao batuque.
Os mais novos logo aderiram ao batuque.

“Existem várias formas de barrar a participação dentro dos CEUs e queremos reverter isso: trazer as pessoas para o CEU. A ideia é que os cortejos aconteçam sempre, marcando datas importantes. Queremos entender a cidade educadora à luz dessa ação comunitária, fazendo com que o território ocupe o CEU e com que o CEU transborde para o território”, afirmou Naime.

A creche foi louvada como conquista do "feminismo" pelo cortejo.
A creche foi louvada como conquista da luta das mulheres e do feminismo.

Antes de assumir a gestão do CEU, Naime era coordenadora pedagógica da EMEI Gabriel Prestes, uma escola localizada na rua da Consolação, no centro de São Paulo, que tem por hábito tomar as ruas com centenas de crianças pequenas em cortejo. Agora, ela tenta trazer essa experiência para os bairros que circundam o CEU. Por outro lado, ressaltou Naime, a expectativa é que essas atividades ajudem as escolas que estão dentro do equipamento à ocupá-lo em suas atividades.

Pequenos foram saudados pelos tocadores.
Pequenos foram saudados pelos tocadores.

“apelo que mapeamos aqui, os espaços do CEU são majoritariamente ocupados por meninos entre dez e 18 anos. As meninas se sentem constrangidas em ocupar o espaço do CEU com medo de serem xingadas de vagabundas. Então, com o cortejo, além da visibilidade para as infâncias, queremos trazer a presença dessas meninas”, ressalta.

Raquel Elaine, moradora da comunidade há 23 anos, saudou a iniciativa como "inédita" e "mágica".
Raquel Elaine, moradora da comunidade há 23 anos, saudou a iniciativa como “inédita” e “mágica”.

A ação foi puxada pelo Maracatu do Baque Atitude, que irrompeu pelo CEU animado pelo megafone de Naime, que em toda parada dos batuques fazia um discurso sobre o Dia Internacional da Mulher, sobre a diversidade sexual, sobre a cultura de paz, sobre a convivência e a cultura do território. Algumas turmas de crianças se juntaram, enquanto crianças de todas as idades, curiosas, se debruçavam das sacadas das escolas que ficam dentro do equipamento para olhar a confusão. As mais novas dançavam desinibidas.

Moradora recebe poema escrito por jovens estudantes da região.
Moradora recebe poema escrito por jovens estudantes da região.

O cortejo seguiu recebendo os pequenos e pequenas até que cruzou o portão que liga o CEU com a comunidade. A partir daí, as crianças ficaram no CEU, esperando a volta do cortejo, impedidas de tomar as ruas para acompanhar o barulho. Esse é, segundo Naime, um dos principais desafios: quebrar a cultura do medo que separa as crianças da rua e da cidade.

Becos e vilas foram tomados de música, atraindo crianças e adultos.
Becos e vilas foram tomados de música, atraindo crianças e adultos.

Adentrando os becos e vielas da comunidade, o maracatu trovoou ainda mais alto, enquanto o cortejo distribuía poesias, feitas por estudantes do CEU, para as mulheres do bairro, como forma de marcar o dia de luta das mulheres. Cleusa Maria de Souza, que mora há 48 anos ali, saiu gritando da sacada: “Viva as mulheres!” e foi recebida com batucadas efusivas. Para ela, uma ação assim é “maravilhosa”. “Muito avança, mas nada muda. A gente merece cada homenagem, porque ninguém valoriza a gente, nosso trabalho, nossa vida”, apontou ela, que costumava frequentar o CEU para fazer aulas de dança.

Próximos cortejos irão marcar datas importantes na comunidade.
Próximos cortejos irão marcar datas importantes na comunidade.

Debaixo de um forte sol, o cortejo seguiu pelas ruas do bairro, parando para saudar as donas de casa que saíam para ver o que era aquela bagunça. Maria da Penha Silva, coordenadora de cultura do CEU entre 2003 e 2006, e moradora da região, ia fazendo as apresentações. Ela conta que conhecia essas mulheres do dia a dia de seu trabalho, quando percorría o bairro para divulgar as atividades do CEU, ou como prefere dizer, “quando ainda não havia Facebook”.

Penha, Dona Odalina e Naime.
Penha, Dona Odalina e Naime.

“Não dá para explicar o efeito que esse equipamento tem na comunidade. É teatro, é cinema, é tudo num espaço onde nunca teve isso antes. É onde os desejos e conflitos de uma comunidade se expressam, integrados”, entusiasma-se Penha, elogiando a iniciativa do cortejo. “Ele vai reverberar. Vai apresentar a nova gestão e aproximar todo mundo”, diz Penha antes de ser interrompida pelos gritos de “a nossa luta/é todo dia/somos mulheres/e não mercadoria”.

Cada "dona" recebia uma canção.
Cada “dona” recebia uma canção.

Após idas e vindas no comunidade, o cortejo voltou ao CEU, onde ocupou a pista de skate. Lá, uma intervenção de arte contemporânea de Clarissa Neder, batizada de “árvores dos desejos”, trançava fios entre as árvores. E cada um dos participantes foi convidado a preencher os fios com papeis contendo suas aspirações para o mundo.

"Árvore dos desejos" ficou carrega de aspirações dos participantes do cortejo.
“Árvore dos desejos” ficou carrega de aspirações dos participantes do cortejo.

Pouco depois, as meninas do grupo Hip Hop Fem, tomaram a pista para uma apresentação de break dance, que contou com duas turmas das escolas do CEU como plateia, além dos skatistas que lá frequentam. Depois, foi a vez do grupo Contaminação, um coletivo de rap composto apenas por mulheres, tomar o palco improvisado ali para fazer da sua voz um protesto e conversar com as meninas e meninos das escolas.

Parque de skate se tornou palco de dança.
Parque de skate se tornou palco de dança.

Camila Sobrinho, do Contaminação, acredita que esse tipo de conversa, pelas rimas e pela música, pode contribuir para a formação dos jovens e para diminuir a violência de gênero.“A crueza do que cantamos expõe a inquietação que sentimos, a dureza do cotidiano. A gente vem aqui para ressaltar essa educação, que se constrói coletivamente. Educação não se dá só em casa e na escola, mas no contato, nisso aqui”, defendeu.

Grupo Contaminação contou, cantou e conversou com a juventude.
Grupo Contaminação contou, cantou e conversou com a juventude.

E foi assim que o cortejo poético das infâncias chegou ao seu fim, enquanto o sol se punha. Para Naime, o dia foi inovador. Ela disse ter ouvido de moradoras que nunca o CEU havia mergulhado assim no território e prometeu conversar cada vez mais com as “doninhas” do bairro. A ideia é fazer uma pesquisa com elas, para recolher brincadeiras e cantigas de suas infãncias “e trazer isso para as crianças do CEU, trazer isso que há de mais singelo e belo delas, que é a infância”, propôs Naime, que já projeta em um futuro próximo, um conselho de Anciãs no Centro Educacional.

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