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publicado dia 30 de junho de 2016

Um Parque Educador para São Paulo

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A criação do Parque Pinheirinho D’Água, aberto desde 2009 na zona noroeste da cidade de São Paulo, ilustra como a participação ativa das escolas e comunidades pode transformar os usos do espaço público urbano. Durante a década de 1990, movimentos de moradia estabelecidos nos bairros Parque Panamericano, City Jaraguá e Jardim Rincão reivindicavam a construção do parque em um terreno ocioso de aproximadamente 250 mil m². Distante do centro, as opções de lazer e contato com a natureza para os moradores da região eram escassas.

Após muita pressão, a comunidade local conseguiu marcar, em 2001, a primeira reunião oficial que discutiria a implementação do projeto. Diversas escolas do entorno se envolveram nesse processo, que culminou na abertura do Parque Pinheirinho D’Água ao público no dia 6 de junho de 2009.

O engajamento comunitário e escolar não serviu apenas para tirar o projeto do papel, mas também para mantê-lo em funcionamento e, principalmente, evoluir a proposta de se tornar um Parque Educador. Hoje, sete anos depois , quase 30 escolas da região promovem ações articuladas neste espaço público, a maioria de ensino infantil.

“A vocação deste lugar é a de ser um Parque Educador”, afirma Marcos Manoel dos Santos, diretor da Diretoria Regional de Ensino (DRE) Pirituba Jaraguá, na abertura do Seminário Avaliativo Parque Pinheirinho D’Água: Avanços, Desafios e Perspectivas, que ocorreu nesta quarta-feira (29/6) no casarão do local. “E como o parque é construído de maneira coletiva, sendo resultado de colaborações e trocas de ideias e experiências, nada mais correto do que avaliá-lo coletivamente também.”

O evento reuniu educadores, gestores públicos, moradores e estudantes da região, que dialogaram sobre as conquistas e os obstáculos encontrados neste caminho para a transformação do equipamento em um Parque Educador, potencializado pelas escolas vizinhas.

Localizado na zona noroeste da capital paulista, o parque educador Pinheirinho D'Água é espaço de ações articuladas promovidas pelas escolas da região.
Mapeamento mostra ausência de áreas verdes na região.

Responsável pelo blog Pinheirinho D’Água Parque Educador, Lívia Osmarina acredita que “o que estamos fazendo aqui é singular e significativo de uma nova forma de pensar a nossa humanidade”.

Durante as falas, foi ressaltado um momento chave para a mudança de mentalidade da comunidade local perante o espaço: a situação de descaso vivida no primeiro semestre de 2012. Foram mais de seis meses sem contrato com empresas de limpeza e segurança, e a imensa área verde teve uma nascente de córrego e 150 árvores soterradas por mil caminhões de terra e entulhos, despejados ali sem nenhuma autorização. Focos de incêndio nunca esclarecidos também se tornavam rotineiros.

Foi quando os frequentadores passaram a assumir as rédeas do parque, tendo como princípios a educação ambiental e a articulação intersetorial, em busca de preservar áreas ambientalmente sensíveis e construir coletivamente o espaço público. “Pode-se dizer que, a partir do engajamento da DRE com escolas de ensino infantil e fundamental, além de outras secretarias, como Saúde, Desenvolvimento Urbano e Verde e Meio Ambiente, ressignificamos esse lugar, tendo com ele hoje uma relação muito mais positiva para todos”, avalia Manoel.

As seis EMEIs, 11 EMEFs e 12 CEIs que organizam itinerários educativos no parque e participam de sua gestão também promovem, anualmente, o Dia da Família, que reúne pais e filhos para apresentações artísticas, esportivas e culturais, além de ações para a conscientização ambiental, como distribuição de mudas e plantas ornamentais. “As crianças têm que gostar e valorizar o parque. Eu não tive essa oportunidade na minha infância e passei a amar a natureza a partir de adulta”, relatou a educadora Meg, do CEI Jardim Xangrilá.

Para Cristiane, do CEI Fernando de Azevedo, frequentar o parque é um direito das crianças. “Além de conhecerem o seu próprio bairro e local de vida, ter contato com a natureza também é um direito delas.”

Localizado na zona noroeste da capital paulista, o parque educador Pinheirinho D'Água é espaço de ações articuladas promovidas pelas escolas da região.
Estudantes estudam o território e propõem ações.

Outro projeto escolar que utiliza a área verde é o Trabalho Colaborativo Autoral (TCA) Integrado, que possibilitou a troca de experiências entre educadores e estudantes das EMEFs Antonio Rodrigues de Campos, José Kauffmann e Leonel Franca. Para finalizar o terceiro ciclo do ensino fundamental, os alunos devem propor soluções para problemas de sua região: os jovens Jeferson, Iris e João identificaram a ausência de placas como um dos maiores motivos para o pouco conhecimento da população local quanto ao espaço verde vizinho.

Durante este processo, os alunos visitaram outros parques da região, como o Anhanguera, Cidade de Toronto e da Juventude, para se inspirar. Ao final, recolheram assinaturas em escolas e entregaram um abaixo-assinado sobre o tema para a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. “Não é fácil trazer melhorias para a periferia. Mas a gente vai conseguir – as placas foram só o começo”, comemora Leda, da EMEF Leonel Franca.

Localizado na zona noroeste da capital paulista, o parque educador Pinheirinho D'Água é espaço de ações articuladas promovidas pelas escolas da região.
Apresentação musical durante o Dia da Família.

O coletivo Ocupa Pinheirinho, formado por artistas, poetas e músicos da região, também promove intervenções no local. Todos os últimos domingos do mês, o Casarão Arte Livre organiza saraus com atrações musicais, brincadeiras antigas e um espaço de microfone aberto.

Segundo os presentes, mesmo em pleno funcionamento, o Parque Pinheirinho D’Água necessita diversas melhorias. O CEI Jardim Rincão, por exemplo, leva bebês de um a três anos para conhecer o parque. “Se o espaço nao for pensado para eles, é lógico que não irão frequentá-lo. Precisamos de banheiros adequados, com trocador e pequenos vasos sanitários”, observa Meire. “Quando um bebê entra no ônibus e faz um passeio até aqui é um encantamento enorme. Os pequenos cidadãos também têm o direito de frequentar esse espaço – isso é possível e necessário.”

No próximo mês, está prevista a inauguração da iluminação noturna de LED e, segundo a secretária-adjunta de Desenvolvimento Urbano, Tereza Herling, existe a ideia de implementar um Centro Educacional Unificado (CEU) no local. “Queremos articular a criação desse esaço com uma rede de equipamentos do entorno, potencializando a articulação entre as escolas e o parque e, por fim, ampliando o seu uso”, ressalta Tereza. “Mas a prefeitura precisa se reorganizar financeiramente para dar conta desse projeto.”

O diretor da EMEF Rogê Ferreira, Fernando Mendonça, apresentou o projeto do Parque Educador Pinheirinho D’Água no Congresso Internacional de Cidades Educadores, que aconteceu no início de junho, em Rosário (Argentina). “É preciso reconhecer a grandeza desse trabalho, desenvolvido através de uma trajetória histórica de luta comunitária e de educadores. Este parque é uma grande célula catalisadora de encontros curriculares e isso é revolucionário”, conclui.

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