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publicado dia 2 de agosto de 2016

Jogos da Exclusão mostra outro legado olímpico para o Rio de Janeiro

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A abertura oficial dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro acontece na próxima sexta-feira (5/8). Nesta terça, porém, teve início uma série de encontros que promete discutir o real legado – urbano, esportivo, social e ambiental – que o megaevento deixará para a capital fluminense.

Trata-se da Jornada de Lutas Contra Rio 2016 – Os Jogos da Exclusão, evento organizado por mais de cem coletivos, movimentos sociais e entidades que, durante três dias, se reunirão no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e em espaços públicos do centro da cidade para uma extensa programação de debates, oficinas, rodas de conversas, exibições, intervenções artísticas, exposições e atos.

“Com a Jornada, nosso objetivo é denunciar o legado de violações aos direitos humanos que a realização dos Jogos Olímpicos deixará à cidade”, aponta Larissa Lacerda, integrante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro.

De acordo com os organizadores, tais violações foram cometidas para viabilizar o processo de legitimação de um projeto político de cidade segregada, que vem sendo implementado há cerca de uma década – desde os Jogos PanAmericanos de 2007, passando pela Copa do Mundo de 2014 e tendo seu ápice na realização das Olimpíadas em solo carioca.

Segundo Larissa, a ideia da Jornada surgiu no começo de 2016, quando cidadãos se reuniram para criar um calendário de resistência ao megaevento esportivo, dando visibilidade às violações de direitos humanos cometidas à sua revelia. E não foram poucas.

Manifestação contra a realização das Olimpíadas Rio 2016, realizada na praia de Copacabana em agosto de 2015.
Manifestação contra a realização das Olimpíadas Rio 2016, realizada na praia de Copacabana em agosto de 2015.

Realizado para a campanha Jogos da Exclusão, um mapa mostra detalhadamente onde estão as comunidades removidas, as favelas ocupadas, os crimes ambientais cometidos e as obras irregulares do projeto olímpico carioca.

O mapa mostra também as regiões do Rio de Janeiro nas quais a polícia militar mais mata cidadãos. Números evidenciam que megaeventos fazem o número desse tipo de assassinato crescer: aumentou 40% em 2014, ano da Copa, em relação a 2013. Na comparação entre maio de 2016 e maio de 2015, o crescimento foi de 135%, subindo de 17 para 40 mortos.

De acordo com os dados levantados, mais de 77 mil pessoas foram removidas de suas casas desde 2009, ano em que a cidade-sede foi escolhida; foram encontrados 11 operários em condições de trabalho análogas à escravidão em obras para os Jogos, e, desde 2013, ao menos 11 morreram durante a sua execução; as metas de despoluição da baía de Guanabara e das lagoas de Jacarepaguá e Rodrigo de Freitas estão longe de serem cumpridas.

“Um dos legados olímpicos é a construção de uma cidade ainda mais segregada e elitizada, pois houve uma realocação da população pobre, deslocada majoritariamente de áreas valorizadas e no entorno de equipamentos esportivos para os extremos da cidade”, denuncia Larissa.

mapa

Para ela, outro aspecto que se sobressai no Rio de Janeiro olímpico é a excessiva militarização do espaço urbano – que nunca teve como objetivo a segurança dos moradores locais ou a ampliação do acesso a serviços públicos, “mas sim o controle da população pobre e negra, vista sempre como inimiga”.

A operação militar projetada para o megaevento é a maior da história brasileira, com mais de 50 mil agentes de segurança ocupando as ruas da cidade. No início de julho, a Câmara Federal aprovou um projeto de lei que cria foro especial para militares que cometerem crimes dolosos contra civis durante as Olimpíadas.

O montante total investido nos Jogos Olímpicos de 2016 beira os R$ 37 bilhões. Outro estudo, produzido pela Rio On Watch, mostra como esses investimentos estão concentrados em áreas nobres e já valorizadas da cidade, contribuindo pouco ou nada para o desenvolvimento de regiões suburbanas. “Está claro que é uma cidade pensada de maneira fragmentada, com a intenção de criar espaços elitizados e homogêneos”, aponta Larissa.

Até mesmo o legado esportivo do megaevento está sendo questionado. Equipamentos importantes do esporte carioca estão fechados, como o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio Delamare, e também privatizados e sem espaço para a prática desportiva, como acontece no Estádio de Remo da Lagoa, transformado no shopping Lagoon, e na Marina da Glória, que cortou o acesso público ao mar. “Até mesmo os atletas foram removidos da cidade olímpica, em uma completa inversão do legado olímpico.”

A intensa programação da Jornada de Lutas tem início nesta terça-feira (2/8), com debates em torno do eixo de espaço público e meio ambiente; serviços públicos e a calamidade olímpica; militarização e racismo. Também está marcada para hoje uma marcha que ocupará as ruas do centro da cidade para reunir atletas e usuários dos equipamentos esportivos fechados e sucateados no Rio de Janeiro.

Na quarta-feira (3/8), as discussões prosseguem sob os eixos de higienização dos espaços públicos; esporte: mercadoria ou direito?; mulheres e o direito à cidade. Ao final do dia, um debate no largo do São Francisco discutirá os temas de cidade e democracia. Já na quinta-feira (4/8), terão vez temas como habitação, direito ao trabalho, mídia, comunicação e megaeventos, e um grande painel dos Jogos da Exclusão encerrará as atividades do dia.

Para fechar a Jornada de Lutas Contra Rio 2016, uma grande manifestação está marcada para sexta-feira (5/8), com concentração a partir das 14h na Praça Saens Peña, na Tijuca. “Em uma cidade onde o abismo da desigualdade cresce cada vez mais, a base de tratores, tiros e bombas, é fundamental prosseguir e avançar na luta pelo direito à cidade, pela democracia e pela justiça social”, argumentam os organizadores.

Confira a programação completa e detalhada da Jornada de Lutas Contra Rio 2016.

(A foto que ilustra essa matéria é de Tomás Silva, da Agência Brasil, via Fotos Públicas)

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