Perfil no Facebook Perfil no Instagram Perfil no Twitter Perfil no Youtube

publicado dia 23 de agosto de 2016

Projeto Viela chega aos sete anos potencializando sonhos de crianças do Jardim Ibirapuera

por

A horta pendurada na parede roxa marca o começo de uma viela sinuosa e colorida que, a partir da rua Macedônio Fernandes, percorre boa parte da comunidade do Jardim Ibirapuera, na zona sul de São Paulo. Marcas da periferia estão presentes – ruas estreitas e esburacadas, agito fervoroso, bares como ponto de encontro, uma sequência sem fim de moradias de tijolo sem pintura nem frescura, pipas desafiando os fios elétricos.

Descendo por ela, destaca-se uma casa grafitada e de dois andares, em cuja placa se lê em letras garrafais: PROJETO VIELA. O som de festa e o barulho de crianças brincando chega antes mesmo de escalar os degraus íngremes e não lineares que dão na laje, reformada no início de 2016 através de uma iniciativa de crowdfunding.

A comemoração é de sete anos do Projeto Viela, iniciativa que introduz a literatura para crianças e adolescentes da região através de rodas de leitura e debates, utilizando como ponto de partida duas grandes invenções da humanidade: o cinema e o futebol.

 

O projeto já teve o nome de Viela Letras e Livros e sua história está intimamente ligada à de seu criador: Anderson Agostinho, ou simplesmente Buiú, como é conhecido por toda a comunidade. Aos 34 anos, Buiú é formado em Educação Física e atualmente toma conta da parte institucional do projeto, costurando parcerias e vislumbrando novas oportunidades de crescimento e desenvolvimento para as crianças e jovens que dele participam.

Vinte anos atrás, porém, a situação era bem diferente. Durante a juventude, Buiú largou os estudos por conta do desgastante trabalho como feirante.  De terça a domingo, ajudava familiares e amigos a montar a barraca, ajeitar as frutas e carregar e descarregar o caminhão. Ganhava 15 reais por dia de serviço. Aos 15 anos, começou a trabalhar como pintor.

São paulino de coração e volante de posição, Buiú estava determinado a seguir a carreira de jogador de futebol. Disputou vagas em clubes como Portuguesa, Juventus e Fluminense – sem sucesso. Passou por uma peneira do Ituano e quase concretizou seu sonho – era tarde demais. Já estava envolvido com drogas de alto índice de dependência, como álcool e cocaína, e esteve à beira da morte em 2007 por conta de um mal-entendido com os traficantes da região.

A iniciativa introduz a literatura para crianças e adolescentes da região através de rodas de leitura, utilizando como ponto de partida o cinema e o futebol

“Depois desse dia resolvi mudar de vida. Foi o limite, um sinal de alerta”, conta Buiú, sentado em um degrau em frente à viela aonde, por tantos anos, organizou sessões de cinema e contação de histórias a céu aberto. Os moradores que passavam por ali – e não eram poucos – recebiam prontamente um convite para subir e comemorar o aniversário do projeto.

Em 2007, após a ameaça de morte, Buiú decidiu investir em suas próprias habilidades para além das quatro linhas que delimitam um campo de futebol. Aos 27 anos, fez cursos de música, desenho e pintura a óleo no Núcleo de Proteção Psicossocial Especial (NPPE). “Sempre gostei de desenhar. Pintar me dá uma sensação de liberdade única”, afirma. Hoje, as camisas e bonés vendidos com a marca do projeto levam seus traços.

A iniciativa introduz a literatura para crianças e adolescentes da região através de rodas de leitura, utilizando como ponto de partida o cinema e o futebol
Roda de leitura acontece antes das partidas e torneios.

Dois anos depois, em 2009, o Projeto Viela ganhava corpo. Em sua própria casa, Buiú construiu um pequeno palco onde eram realizados shows abertos de samba, jazz e hip hop. A viela passou a receber sessões quinzenais de cinema, onde crianças, adultos e também idosos comiam pipoca e liam em conjunto histórias infantis antes e depois do filme. Hoje, após a reforma do local, as sessões são realizadas na própria laje.

Paralelamente, a iniciativa Futebol e Leitura fechou parceria com a Escola Estadual Comendador Alfredo Vianello Gregório para utilizar a sua quadra poliesportiva. Começou com a presença de dez meninos – hoje, mais de 70 participam da ação, onde crianças e jovens participam de uma roda de leitura para então jogar futebol e disputar campeonatos. A intenção agora é expandir a ação para as meninas da região.

Além de realizar encontro de mulheres, oficinas de reciclagem, pintura, artesanato e palestras sobre a realidade do bairro, o projeto também acompanha os boletins escolares de seus participantes. De acordo com Buiú, é evidente a melhora em pontos como leitura, escuta, integração social e rendimento.

A iniciativa introduz a literatura para crianças e adolescentes da região através de rodas de leitura, utilizando como ponto de partida o cinema e o futebol
Reforma da laje proporcionou novo espaço para encontros.

“O Projeto Viela surgiu com o objetivo de desenvolver os talentos que já existem dentro da comunidade. Está cheio de artistas dentro das vielas, mas não tinha ninguém que apoiasse essas crianças e adolescentes para que pudessem expressar sua arte”, pontua Buiú, que em nenhum momento parou de convidar os pedestres para subir na laje e comemorar os sete anos do Viela.

E já define como ‘grande’ o papel do projeto na transformação local: “A abertura que a gente dá para que eles possam estar aqui fazendo coisas é a abertura que pode potencializar as suas ideias e seus sonhos. É muito difícil enraizar algo que seja forte para o futuro deles aqui nessa comunidade, mas agora eles já entendem que esse espaço funciona para eles terem ideias grandes e concretas.”

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.

Portal Aprendiz agora é Educação & Território.

×