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publicado dia 23 de setembro de 2016

Uma Cidade Educadora é uma cidade para todas/os?

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Todas as pessoas são capazes de aprender – e efetivamente aprendem – em diferentes lugares, com diferentes pessoas, ao longo de toda a vida. É movida por essa singela e, ao mesmo tempo, complexa ideia que a Associação Cidade Escola Aprendiz completa, neste mês de setembro, 19 anos de atuação na área da educação.

“A educação estende-se por toda a cidade e, como direito fundamental, deve converter-se em uma responsabilidade coletiva”, defende o Aprendiz, que teve sua origem no bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo. Inspirados pelas experiências compartilhadas em julho deste ano em Rosário (Argentina), onde aconteceu o XIV Congresso Internacional de Cidades Educadoras, e buscando fortalecer os diferentes agentes que contribuem com a construção de cidades mais justas, democráticas e inclusivas, a Associação Cidade Escola Aprendiz comemorou seu aniversário nesta quarta-feira, 21/9, com uma roda de conversa aberta para o público.

Lançada durante o encontro, a Plataforma Cidades Educadoras reúne informações conceituais, um mapa de experiências nacionais e internacionais, um acervo de materiais de referência, além de metodologias. O site é direcionado para gestores públicos e agentes da cidade interessados em traduzir essa concepção em práticas ou políticas.

No evento, mais de trinta pessoas envolvidas com o debate das Cidades Educadoras no Brasil foram convidadas a comentar a seguinte provocação: O que é uma Cidade para Todxs?

A comemoração teve espaço ainda para a entrega do Prêmio Educador Inventor, homenagem anual que o Aprendiz confere a pessoas que se destacam por sua trajetória e práticas de transformação social no campo da educação.

Em 2016, as vencedoras foram duas mulheres com uma história mais do que relevante para a educação brasileira: Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM (também esteve no Ministério da Educação, entre 2007 e 2012, como Secretária Nacional de Educação Básica, além de ter presidido a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e atuado como Secretária Municipal de Educação de Belo Horizonte) e Vera Santana, à frente do Conexão Felipe Camarão, em Natal, um projeto cujo objetivo é fortalecer a identidade cultural local, contribuir com sua preservação e integrá-la como potencial educativo para a comunidade.

Confira os principais destaques do evento na voz de quem estava lá.

Pilar Lacerda (Fundação SM)

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Uma cidade para todos/as não tem shopping, nem condomínio. Nela, todas as escolas são públicas. Não tem pobreza nem criança explorada. Ninguém apanha ou morre pelas mãos da polícia. Temos que nos agarrar nesta utopia, porque senão as escolas vão se proteger tanto da cidade que nunca mais faremos esse diálogo. O dia em que a gente devolver a rua para a criança, todos vamos ficar mais alegres.

Raquel Ribeiro (Choque Cultural)

Raquel Ribeiro da Choque Cultural

A rua deixa de ser rua quando perde o pedestre. É um local onde todos se encontram e exerce esse potencial de convivência entre os diferentes. Não precisamos concordar com tudo, mas temos que conviver. Acredito que a arte cria esses paradigmas, que ela faz o amálgama das divergências se tornar comum.

Ana Lúcia Villela (Instituto Alana)

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Transformar a cidade toda pode ser uma tarefa enorme. Então, por que não começamos a pensar em transformar nossos bairros? Neste sentido, considero que a criança tem que ser o ponto de partida para pensarmos uma cidade para todos.

Liliane Garcez (Instituto Rodrigo Mendes)

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Muita gente ainda vê a acessibilidade como uma questão meramente arquitetônica, quando não é. É uma questão simbólica, não apenas física. Uma cidade para todos tem que perceber que todos existem e procurar levar as especificidades de cada um em sua construção.

Nabil Bonduki (Vereador da cidade de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores) 

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A partir do espaço público, o território educador articula uma série de equipamentos públicos, como escolas, praças, postos de saúde e espaços comunitários. O que caracteriza uma cidade é garantir que o espaço público seja ocupado pelo cidadão, tendo a escola como eixo articulador desse conjunto de equipamentos, pois é o mais capilarizado dentro dos territórios.

Vera Santana (Conexão Felipe Camarão)

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A cidade é para todos, mas o que determina a mudança para isso é a coragem de se juntar, observar as dificuldades que existem e ir rompendo elas. Sou otimista, a cidade que queremos e sonhamos já está acontecendo: harmônica, onde a diversidade seja expressada em todas as suas potências humanas, com escolas abertas e interativas, parques infantis, onde as pessoas dialogam umas com as outras. É o caminho para que nos tornemos mais humanos.

 Maria Antonia Goulart (Movimento Down)

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A cidade não é para pessoas com deficiências. O sindicato das escolas particulares entrou no STF contra a responsabilidade de atender com qualidade os alunos com deficiência sem cobrar a mais por isso. Essa forma de enxergar o outro faz a cidade se tornar o lugar que ninguém quer viver. Crianças com deficiência são como o mico leão dourado na preservação da Amazônia: se a adotarmos como medida para o desenvolvimento da cidade, ela vai servir para todos.

André Palhano (Virada Sustentável)

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Uma cidade aberta tem que ser percebida como sendo de todos – não de pessoas iguais, mas que aceitem e reconheçam a riqueza da diversidade e do encontro no espaço público. Tenho uma percepção otimista do futuro, pois o que vemos em diversos centros urbanos é uma moçada de vinte anos pra baixo que já está mudando a sua relação com a cidade, ocupando o espaço público e reencontrando esse olhar para o que a cidade já é.

Tata Amaral (Cineasta – Tangerina Entretenimento)

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Trago em meu DNA o gosto pela rua. Essa experiência de brincar na rua continuou impregnada em mim depois. Na minha adolescência não aprendi a dirigir e isso me fez muito disponível para a cidade, pois utilizo ônibus e ando a pé e de táxi. Quando o convívio deixa de ser um tabu e é promovido pela cidade, o preconceito é dissolvido.

Amanda Lemos (ONU Mulheres Brasil

Amanda Lemos

 As cidades não são feitas para mulheres e nem para meninas. Todos os dias temos relatos de meninas que sofrem assédio e estupro. Cada mulher tem um mapa mental em que decide o trajeto que vai fazer, pela rua mais iluminada, mais movimentada, para que consiga transitar com segurança quando voltar pra casa. Para construir uma cidade para todos é preciso ouvir essas mulheres. A educação está não só na construção de cidades educadoras mas na formação de cidadãos atentos para a igualdade de gênero, que possam construir seus valores ali dentro. 

Semayat Oliveira (Nós, mulheres da periferia)

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Estamos em um lugar privilegiado [Vila Madalena], com várias casas de cultura, cinemas, shows de jazz na calçada. Eu nunca tive isso no meu bairro. O Jardim Miriam não tem padaria nem restaurante. Para muitos, o nascer já é uma violência nesse país. Nessa ótica, temos uma cultura e educação racista, e a gente precisa falar de quantos negros estão aqui para se manifestar. Isso pesa muito e eu sou obrigada a dizer que sou a única negra com microfone aqui, e isso precisa mudar, precisamos de uma sociedade não racista, não machista e não classista. Nada disso vai mudar se a educação não mudar. Queria que todas as escolas acabassem para que construíssemos novas escolas, a partir de nós.

Raiana Ribeiro (Programa Cidades Educadoras
Associação Cidade Escola Aprendiz)

Raiana Ribeiro

No final da década de 90, São Paulo vivia o boom dos condomínios privados, da violência, o que fazia com que as pessoas não saíssem de casa. As praças e os parques – nossos espaços públicos de encontro e convivência – estavam esvaziados. Não havia vínculo e nem experiências comunitárias, a cidade era um lugar cada vez mais fechado e segregado, uma cidade para poucos. Para reverter esse cenário, a proposta do Aprendiz apostava na intencionalidade educativa dos diferentes agentes da cidade e na multiplicidade de interações e linguagens a que as crianças e os jovens deveriam ser expostos para garantir um processo educativo relevante e significativo para as suas vidas. Ainda no campo do território, a gente foi descobrindo que os desafios enfrentados para garantir condições dignas de vida para essas crianças eram complexos e não podiam ser assumidos apenas pela escola, foi então que percebemos a necessidade de uma rede de proteção articulada, com agentes de saúde, da assistência social em contato permanente. E, por fim, que todas essas estratégias só se viabilizariam se houvesse participação social.

Braz Nogueira (diretor da Diretoria Regional de Ensino-Ipiranga)

Braz Nogueira

Precisamos quebrar o adultocentrismo: neste debate, no planejamento da cidade e em nossas atividades. Acredito que as crianças são o nosso ponto de união, o lugar primeiro para construir uma cidade para todos.

André Gravatá (Virada Educação)

André Gravatá

Eu acho que cuidar do espaço público é cuidar do desconhecido. É cuidar de todos nós porque todos somos desconhecidos para alguém. Temos urgência de momentos inesperados, de possibilidades que nunca imaginamos, dessa solidariedade.

Paulo Magalhães (Professor da EMEF Duque de Caxias)

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Quando eu sai para as ruas do bairro do Glicério com meus alunos, um deles me disse: “Professor, quando você dá aula aqui, você dá aula para todo mundo, né?”. Acho que isso resume essa proposta: ao falar para todos, na cidade, além dos alunos, atingimos o bairro.

Eduardo Bittar (Coordenação de Educação em Direitos Humanos da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo)

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Dizer que se quer uma Cidade Educadora é dizer que se quer combater a violência e a ignorância que faz nascer a intolerância com as armas do conhecimento, do cuidado, da integração do território com a escola, dos livros, da sensibilidade e das artes.

Vandré Brilhante (CIEDS – Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável)

vandré

A cidade não pode ser “integrada” porque ela é um mosaico de culturas e etnias. Por isso, a gente tem que potencializar as redes locais e fortalecer o compartilhamento de cidadanias, fazendo os aprendizados circularem.

Monica Borba (Umapaz – Universidade Aberta do Meio
Ambiente e Cultura de Paz)

mônica borba

Para nós, a vida é um organismo vivo: nossos territórios são órgãos, os parques são células e o sangue somos nós. Isso é a cidade educadora, e ela tem que ser sustentável, com foco na questão da existência humana em cooperação com as vidas neste planeta.

Ana Estela Haddad (São Paulo Carinhosa)

Ana Estela Haddad

Temos projetos de cidade em disputa: um onde tudo é privado e outro em que a gente privilegia o coletivo. Fortalecer a ideia de uma cidade para as crianças é uma forma de pensar a cidade para todos.

(A foto que ilustra essa matéria é de Maxwell Mariano, via Flickr/Creative Commons)

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