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publicado dia 9 de novembro de 2016

“A vista para o pôr do sol mais bonita de São Paulo não pode ser cercada”

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Um dos raros lugares de São Paulo onde é possível acompanhar o sol poente corre o risco de ser cercado por grades. Hoje, a Praça Pôr do Sol – recentemente transformada em parque após decreto municipal – é talvez o espaço público de uso mais diversificado da paulicéia e, por conta de sua intensa movimentação, tem disparado discordâncias sobre sua utilização entre frequentadores, comerciantes e moradores da região.

Construída na década de 1960 em um declive entre a avenida Diógenes Ribeiro de Lima e a rua Desembargador Ferreira França, na zona oeste da capital, o espaço – oficialmente Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro – ganhou um novo nome graças à apropriação do local pelos cidadãos, que lotam a área verde principalmente quando o sol está caindo.

Por sua localização privilegiada, ao longo dos anos a praça foi ganhando volume de público, o que atraiu cada vez mais comerciantes para o local. Hoje, ambulantes vendendo bebidas e motoboys entregando pizzas inteiras são figurinhas carimbadas na praça, que virou ponto de encontro para diversos grupos e palco de festas até durante a madrugada.

Eleições para o Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol acontecem no próximo domingo (13/11). Conheça candidatos contrários ao gradeamento do espaço.
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A Praça Por do Sol possui cerca de 30 mil metros quadrados e abriga equipamentos públicos, como um Centro de Educação Infantil, e uma paróquia. Seu projeto original foi desenhado pela arquiteta Miranda Martinelli Magnoli e pela paisagista Rosa Kliass.

Em meados de 2015, incomodados com o barulho e o acúmulo de lixo, um grupo de moradores da região iniciou um movimento que pediu a transformação da praça em um parque. Com a mudança, aprovada por decreto da gestão de Fernando Haddad (PT), o espaço deixou de ser administrado pela Subprefeitura de Pinheiros e passou para a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SMVA).

A mudança ainda prevê a criação de um conselho gestor para o local, que opinará sobre a realização de eventos e criará regras de uso para a praça. De acordo com Paulo Cesar Macedo, atual administrador do Parque Vila dos Remédios e responsável interinamente pela gestão da Pôr do Sol, a constituição brasileira prevê que tudo o que é parque deve ser cercado. “A praça pressupõe um movimento livre da população. Já o parque se fecha para ser criada uma estrutura de limpeza, segurança e comércio, buscando o bem estar da população”, afirma Macedo.

Para ele, contudo, o Parque Pôr do Sol é um lugar que tem uma característica diferenciada dos outros. “Ali, seria uma pena cercar. Acredito em uma solução intermediária que organize um processo de cuidado local entre os próprios frequentadores.”

Conselho gestor

Como administrador interino do Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol, Macedo será um dos responsáveis pelo processo eleitoral que elegerá o primeiro conselho oficial do equipamento, que contará com seis representantes da sociedade civil, um indicado pela SVMA e outra indicação de uma instituição/entidade. O pleito ocorre no próximo domingo (13/11), das 10h às 16h, na Subprefeitura de Pinheiros (Avenida das Nações Unidas, 7123 – Térreo).

“É uma eleição para o bem do parque”, acredita Macedo. Estão aptos para votar cidadãos paulistanos que tenham mais de 16 anos e portem documento com foto e comprovante de residência. A eleição é restrita aos moradores da região do Subprefeitura de Pinheiros.

O resultado da eleição para o Conselho Gestor sairá no próprio domingo. A posse deve acontecer em cerca de dez dias. Metade das vagas do órgão são destinadas à mulheres, assim como em todos os processos de conselho gestor em São Paulo. Se esse número não for atingido, é convocada uma nova eleição.

 

O movimento “Sou da Praça – pela revitalização da Praça Pôr do Sol” surgiu como reação diante de um movimento de moradores que endossa o gradeamento do local como única solução possível diante dos impasses. Com quatro candidatos – dois homens e duas mulheres –, a mobilização tem a intenção de recuperar a qualidade da praça sem ter que utilizar o cercamento para tanto.

“A proposta visa um projeto de revitalização do espaço verde para um melhor uso comum e acessível à todos”, defende o movimento. O Portal Aprendiz entrevistou os quatro candidatos do Sou da Praça e reproduz os principais trechos da conversa.

Ana Flávia Dal Fabbro, arquitetaEleições para o Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol acontecem no próximo domingo (13/11). Conheça candidatos contrários ao gradeamento do espaço.

“Para entender as reclamações que haviam ali, comecei a ir de madrugada, diversos dias da semana, para ver o que de fato estava acontecendo e identificar o que era exagero daqueles que não frequentam a praça e o que realmente incomoda os vizinhos.  Ao usar a praça como ela está atualmente, também tive vontade de fazer xixi, também quis jogar a bituca do cigarro no chão, vi carros passando com som alto durante a madrugada incomodando os moradores. Conclui que o problema não é o uso, e sim o abuso. A praça precisa de fato ser revitalizada e esses problemas sanados.

Conversei com frequentadores e foi muito clara a intenção deles em participar da manutenção da praça. Muitos queriam entender de que maneira estavam incomodando. Para eles, não existe a ideia de vandalizar a praça.

É o único lugar onde a gente consegue ver o horizonte sem gastar dinheiro em São Paulo. Isso é muito importante. A vista para o pôr do sol mais bonita da cidade não pode ser cercada. Existe o adensamento local pois a nossa cidade é carente de praça. Mas as grades não são a solução. Acredito que quanto mais você se fecha, mais você induz o outro a te invadir.

Como uma praça que é livre e absorve o usuário por toda a sua margem vai ter um portão? Qual é o sentido? Sou solidária às reclamações dos moradores do entorno, mas não creio que cercar seja a solução – acredito que a educação e a integração sejam o melhor caminho.”

Eleições para o Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol acontecem no próximo domingo (13/11). Conheça candidatos contrários ao gradeamento do espaço.José Luiz Franklin Gonçalves, físico

“A praça é muito frequentada e não está sendo cuidada adequadamente. Como único jeito de evitar a bagunça, muitos moradores estão interessados cercar a praça.

Não sou a favor, pois a praça é aberta para permitir um uso democrático e inclusivo para todas as pessoas, em todos os horários, mas não podemos ignorar os problemas. O local precisa de equipamentos, banheiros, lixeiras. Estamos interessados em repensar o uso da praça.”

Eleições para o Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol acontecem no próximo domingo (13/11). Conheça candidatos contrários ao gradeamento do espaço.
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Eleições para o Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol acontecem no próximo domingo (13/11). Conheça candidatos contrários ao gradeamento do espaço.Letícia Lemos, arquiteta e urbanista, especialista em mobilidade

“Cercar a praça não resolve os problemas. A apropriação da praça pela comunidade pode ser uma saída, como vem acontecendo em outros espaços públicos de Pinheiros, como a Praça das Corujas.

A praça precisa de um projeto construído conjuntamente, com o entendimento da população para o que é melhor para o local. Existe uma degradação da praça por conta de um uso talvez inadequado, mas apesar dos danos que o uso causa ele é fundamental e mantém aquele espaço seguro. Afinal, o melhor jeito de manter segurança no espaço urbano é ter gente utilizando aquele espaço.”

Eleições para o Conselho Gestor do Parque Pôr do Sol acontecem no próximo domingo (13/11). Conheça candidatos contrários ao gradeamento do espaço.José Roberto Bandouk, arquiteto

“Estamos buscando melhores condições de vivência urbana. Dentro deste contexto, o cercamento não é a melhor solução.

O que a comunidade espera desse espaço? Hoje, a praça está quebrada e sem grama, e mesmo assim cheia de gente, pois as pessoas tem a necessidade de utilizar aquele espaço. É o momento de se criar um projeto de revitalização no local. Independentemente de sermos eleitos ou não para o conselho, pretendemos estar lá, colocando nossas ideias para uma praça que esteja de acordo com aquilo que a gente espera dela.

Concorrer para uma vaga em um Conselho Gestor Municipal é um momento que você se sente importante e realmente participando do desenvolvimento da cidade. Por mais que seja uma rua ou um núcleo pequeno, poder ter a sua palavra ouvida e entendida é muito importante. Tem muita gente com muita coisa boa para propor.”

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