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publicado dia 25 de outubro de 2017

Mapa expõe desigualdades sociais da cidade de São Paulo

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No ano de 2016, os moradores do Jardim Ângela, extremo sul de São Paulo, tinham em média 55,7 anos ao morrer. São quase 25 anos a menos do que os moradores do Jardim Paulista, que faleceram em média com 79,4 anos. A variação de 43% na longevidade dentro da mesma cidade foi um dos dados alarmantes divulgados na nova edição do Mapa da Desigualdade da Cidade de São Paulo, lançado nesta terça-feira (24) na capital paulista.

A diferença brutal na idade média dos moradores ao morrer pode ser explicada pelas muitas vulnerabilidades sociais a que está submetida a população das regiões periféricas da cidade, como falta de acesso a água, saneamento básico e menor acesso a saúde, educação e ao emprego formal. Variáveis que, juntas, criam um ambiente desfavorável para quem está fora dos grandes centros da cidade.

O Mapa da Desigualdade da Cidade de São Paulo é divulgado desde 2013 pela Rede Nossa São Paulo, reunindo dados de fontes como o IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e a Prefeitura de São Paulo em quase 40 variáveis. O objetivo do levantamento é deflagrar as desigualdades dentro da mesma cidade para jogar luz às políticas públicas, distritalizando os indicadores. O Mapa produz também um “desigualtômetro”, que informa o tamanho da diferença entre o melhor e o pior distrito para o mesmo dado e, em 2017, conta também com um perfil geral da cidade.

A variação da longevidade por distrito seguiu o padrão das desigualdades da cidade reveladas pelo Mapa elaborado pela Rede Nossa São Paulo: quanto mais afastado do centro, piores os índices de um distrito. É nas periferias que incidem as maiores taxas de homicídio juvenil e de gravidez na adolescência (nesse caso, 26 vezes maior em Marsilac do que em Moema).

Marsilac também se destaca por ser a região da cidade com a menor remuneração média de emprego formal, com R$1287,32, valor quase 8 vezes menor do que no Campo Belo, região nobre da cidade, onde um trabalhador ou trabalhadora formal ganha, em média, R$10.079,98.

 Contextualização dos dados

Em 53 distritos da cidade não há centros culturais ou casas de cultura e, nesse aspecto, a Sé é 116 vezes mais equipada do que a região do Grajaú. Para a jornalista do coletivo Nós, Mulheres da Periferia, Lívia Lima, esse dado deve ser relativizado. “Na verdade há muitos saraus e eventos culturais na região, mas não são contabilizados pelas fontes utilizadas.”

As informações vistas em contexto revelam mais nuances de uma realidade desigual, como no acesso às creches. Neste item, o melhor índice da cidade está em Guaianases (extremo leste), com 98,6% de acolhimento da demanda.  Também é nesse distrito o menor tempo de espera pelo serviço, com apenas 25 dias após a solicitação (em comparação, um morador da Vila Andrade tem que esperar 441 dias para conseguir uma vaga).

“Isso não quer dizer que em Guaianases existam vagas sobrando e a situação esteja sob controle. Vejo por minha própria irmã, que também mora na Zona Leste (Artur Alvim) e deixa a filha em uma creche particular, porque a pública fecha antes que ela consiga retornar do trabalho. Só por esse fato podemos relacionar mobilidade e creches”, acrescentou Livia Lima, que também relaciona o desemprego das mulheres com a demanda das creches.

 Desigualdades de gênero e raça

O perfil geral da cidade traçado pela Rede Nossa São Paulo no Mapa da Desigualdade de 2017 aponta que o desemprego de fato se mostra como um problema das mulheres, sendo elas as mais afetadas em todas as regiões da cidade, com destaque para os extremos Sul e Leste.

Distritalizar indicadores sociais também expõe desigualdades étnico-raciais uma vez que há maior presença da população preta e parda nas áreas periféricas, regiões que apresentam os piores índices e têm menor oferta de empregos formais. Nos extremos Sul e Leste da cidade, essa população chega a representar mais de 50% dos moradores.

“Os dados são conhecidos há anos, é preciso entender que se os pretos e pobres estão  nas periferias não é por descaso. Não é falta de política, pelo contrário: ja é a política”, criticou Lívia Lima.

Estagnação das desigualdades

A manutenção das disparidades é hoje a maior preocupação e alerta deixado pela Rede Nossa são Paulo, já que a análise da série histórica dos Mapas da Desigualdade não mostram avanços significativos ao longo do tempo. Pelos dados do “Desigualtômetro”, 16 índices melhoraram, 1 permaneceu estagnado e 12 pioraram, entre 2013 e 2016. O que pode parecer um cenário positivo esconde, na verdade, uma armadilha. “As reduções de desigualdade  muitas vezes se deram não porque houve um aumento na qualidade de vida, mas porque o distrito mais bem posicionado apresentou uma piora naquele indicador. É o reverso do que desejamos”, explicou Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo.

Para os organizadores da pesquisa, mudar esta realidade é possível, mas demanda políticas públicas de descentralização do orçamento, tributação progressiva e aprimoramento dos mecanismos de transparência. “Onde estão as desigualdades nós sabemos, agir sobre elas é uma opção política.”

Confira o Mapa da Desigualdade da Cidade de São Paulo de 2017.

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