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publicado dia 10 de setembro de 2018

Em Itaquera, Jardim Helian pode virar bairro sustentável

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Texto de Eduardo Silva, do 32xSP

Há seis anos, a Associação de Moradores do Jardim Helian, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, vem mobilizando a comunidade em prol de melhorias para o bairro. O trabalho começou após um grupo de moradores pedir o “impeachment” da antiga diretoria, como eles próprios brincam, e assumirem este posto.

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“A gente já tinha experiência em trabalhos de assistência social dentro da comunidade, então começamos a entender as prioridades do bairro, como postos de saúde e creches, além de políticas públicas”, afirma Rodrigo Reis, 34, um dos membros fundadores da “nova” associação.

De lá para cá, avanços na área social, da saúde e em temas como sustentabilidade surgiram, apesar da necessidade de atenção em vários outros pontos.

“Os projetos [aqui no bairro] deixaram de ser apenas asfalto e iluminação, e começaram a ser mais diversificados e a englobar coisas que mexem diretamente no bolso dos moradores”, comenta.

Exemplos se encontram nas políticas públicas para serviços de saneamento (como a “tarifa social” da Sabesp), parcerias com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e a PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, e a inauguração de uma UBS (Unidade Básica de Saúde), requerida pela população há 33 anos. Além de um curso de arborização urbana, feito em parceria com o Sesc Itaquera, mas desenvolvido e incentivado pelos próprios membros da Associação de Moradores com foco no público jovem.

“Chamamos os jovens para que eles aprendessem sobre os tipos de árvores e soubessem onde plantá-las no bairro. Trimestralmente temos um encontro na Sabesp [empresa responsável pelo saneamento básico no estado] no qual as pessoas assistem a vídeos institucionais e aprendem a dar valor à água, saber como ela chega a nossas casas e como o esgoto é tratado… É por isso que a comunidade é afiada com o meio ambiente”, comenta Mohammed Fernando, 26, vice-presidente da Associação.

Toda a comunidade tem o poder de participar efetivamente dos projetos e decisões do bairro. “As pessoas participam porque o resultado aparece no dia a dia delas. Não adianta a gente apresentar um conceito aqui se, na prática, a comunidade não vê a diferença”, complementa Mohammed.

mapa jardim helian

Projeto bairro sustentável

Com aproximadamente 14 mil habitantes, o Jardim Helian fica ao lado do Parque Natural Municipal Fazenda do Carmo, a maior reserva ambiental da zona leste.

Alguns conflitos como casas construídas em cima do Córrego Tone, que ocorrem desde a ocupação do local há mais de 20 anos, e frequentes problemas com enchentes, fizeram os moradores do bairro se tornarem mais engajados com o meio ambiente para melhorarem sua qualidade de vida.

Esse engajamento da comunidade fez com que o Jardim Helian se tornasse o bairro pioneiro no projeto Implementando a Abordagem de Vizinhança em São Paulo, realizado pelo Programa Cidades Sustentáveis (PCS) e o Instituto das Cidades, da Unifesp, sob financiamento da UNEP/Paris (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

“Olhar a cidade é uma coisa; entrar no espaço, conhecer as pessoas e entender o que elas estão vivendo, é outra”, comenta Jorge Abrahão, 60, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis.

“A gente tem aprendido muito com o Jardim Helian, por isso que esse é um projeto tão importante. Entender o que acontece aqui nos ajuda a ter referências para levar o projeto a outros lugares do Brasil futuramente”, completa.

Associação de Moradores do Jardim Helian
Associação de Moradores do Jardim Helian, professores da Unifesp e equipe do Programa Cidades Sustentáveis se reúnem no segundo encontro comunitário do projeto

O projeto é dividido em três etapas. Na primeira delas, uma oficina para a seleção de indicadores em conjunto com professores da Unifesp e a equipe do Programa Cidades Sustentáveis.

Em seguida, a escolha dos indicadores que mais se relacionam com a realidade do bairro. Por fim, a apresentação do plano físico e financeiro que faça do Jardim Helian um bairro sustentável.

De 25 questões levantadas na primeira etapa, 15 foram definidas pelos moradores da comunidade e levadas para o segundo encontro comunitário, realizado no mês de junho na sede da Associação. Cerca de 40 pessoas estiveram lá, entre moradores, professores da Unifesp e a equipe do Programa Cidades Sustentáveis.

“A minha maior experiência foi ouvir as necessidades das pessoas daqui”, comenta Maria Aparecida, 33, membro da Associação.

Ela foi uma das responsáveis por visitar as casas dos moradores para colher opiniões sobre os 15 indicadores pré-definidos. “As pessoas abriram a porta de suas casas, falaram de suas necessidades e isso me fez aprender coisas novas dentro do meu próprio bairro”, diz.

Um dos pontos discutidos foi a necessidade das pessoas terem um Ecoponto próximo de suas residências, medida que diminuiria o descarte irregular de entulho na região. “A maioria delas não tem dinheiro para alugar uma caçamba de lixo só para colocar um sofá velho, por exemplo”, comenta.

O cuidado com as enchentes também é prioridade entre os indicadores escolhidos. Morador do Jardim Helian há 40 anos, Horácio Oliveira, 73, diz que sempre sofre com esse problema.

“Minha luta é a mesma que falaram [aqui na reunião]. Lá sempre junta entulho de um canto ou de outro. E quando chove, a água leva tudo lá para baixo”, comenta Oliveira.

Por outro lado, ele tem uma visão otimista e considera que a vida no bairro está melhorando. “Antes aqui não tinha nada. Eu vejo que as coisas melhoraram para a gente, mas tem que melhorar mais, porque a gente precisa das coisas direitinho”, diz.

No próximo encontro, que é o último da fase de desenvolvimento do Programa Implementando a Abordagem de Vizinhança em São Paulo, será apresentado o plano físico e financeiro para o Jardim Helian.

“Desde a primeira oficina nós estamos fazendo os estudos para trazer essas melhorias para o bairro, como o que será feito no córrego ou onde será o Ecoponto. Ainda não tem uma promessa de que tudo vai ser feito, mas estamos nos organizando para que isso aconteça. Estamos no caminho certo”, finaliza Rodrigo Reis.

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