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publicado dia 30 de julho de 2012

Educação e sustentabilidade: uma experiência na Amazônia

“A crise ambiental na Amazônia é, em última análise, uma crise da educação.”

Acreditamos que o maior problema ambiental na Amazônia não é o desmatamento, a extração ilegal de madeira ou a abertura de estradas, mas a desinformação e a insensibilidade da nossa sociedade em relação a esses problemas. Em outras palavras, a crise ambiental na Amazônia é, em última análise, uma crise da educação.

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Dessa forma, temos nos dedicado há mais de 10 anos a desenvolver experiências educacionais na Amazônia mato-grossense, tanto para estudantes de escolas públicas da região, quanto para de escolas particulares das grandes capitais brasileiras. Nosso foco nesse período tem sido o de melhorar a relação entre o ser humano e a natureza, propiciando experiências que permitam aos estudantes compreender toda a importância da Amazônia e seu papel em sua conservação.

[stextbox id=”custom” float=”true” align=”right” width=”250″]O espaço “Coluna Livre” publica artigos de opinião produzidos por leitores do Portal Aprendiz. O texto “Educação e sustentabilidade: uma experiência na Amazônia” é de autoria de Edson Grandisoli e Silvio Marchini, coordenadores da Escola da Amazônia e do Amazonarium. [/stextbox]

Em 2011, já inspirados pela Rio+20, decidimos encarar um novo desafio e criar uma experiência educacional que permitisse que estudantes da Educação Básica investigassem e compreendessem melhor a importância do desenvolvimento sustentável na Amazônia e também suas dificuldades.

Mesmo com todas as dificuldades relacionadas à distância e logística, embarcamos no início de julho para Manaus com doze alunos paulistanos de Ensino Médio para viver uma Amazônia ainda conhecida por poucos.

Amazônia insustentável

Apesar de toda sua riqueza biológica e cultural, a Amazônia sempre foi uma das regiões menos desenvolvidas do Brasil.

A história da Amazônia é marcada por ciclos de rápido crescimento seguidos de súbito colapso, que resultaram na perda de 600 mil quilômetros quadrados de floresta e pouco contribuíram para a melhoria da qualidade de vida dos moradores da região.

No início dos anos 90, entretanto, a Amazônia se tornou foco de preocupação de ambientalistas no mundo inteiro, depois que as primeiras imagens de satélite revelaram a gravidade da destruição das florestas da região. Ao mesmo tempo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a Eco-92 – consagrou o conceito de Desenvolvimento Sustentável e fortaleceu o socioambientalismo no Brasil. Atividades econômicas baseadas na “floresta em pé” passaram então a ser as grandes promessas.

Dentro desse novo paradigma, desembarcamos em Manaus a fim de não somente conhecermos a região, mas investigarmos juntos – por meio de visitas, palestras, entrevistas e observações – os diversos atores e atividades envolvidos no complexo processo de desenvolvimento sustentável e, acima de tudo, compreendermos como todos somos responsáveis de alguma forma pelo destino da Amazônia, mesmo vivendo em cidades distantes como São Paulo.

 

Amazônia sustentável

Desenvolver a Amazônia de forma sustentável significa buscar um modelo que seja economicamente viável e que, ao mesmo tempo, evite a perda da incrível diversidade ambiental e cultural da Amazônia.

Mas tudo isso é possível?

Para responder a essa questão, os alunos tiveram a chance de conhecer e entrevistar representantes de importantes instituições da região, entre elas a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), além de vendedores de peixe e de produtos florestais no Mercado do Peixe, barqueiros no Porto de Manaus, agentes de turismo, vendedores de artesanato, jovens luthiers em formação na Oficina Escola de Lutheria da Amazônia, entre outros.

Pouco a pouco, as informações que revelariam a complexidade do desenvolvimento sustentável na Amazônia foram sendo coletadas e, mais importante que isso, o contato com as pessoas revelava um Brasil desconhecido, diverso e surpreendente.

Navegando Rio Negro acima, nos dirigimos à comunidade ribeirinha de São Thomé, onde passaríamos dois dias. Antes, porém, conhecemos parte da história da Amazônia no Museu do Seringal e visitamos a tribo dos índios Tukano na Comunidade São João do Tupé, onde pudemos compreender melhor os efeitos positivos e negativos do turismo  sobre as culturas tradicionais da Amazônia.

Na Comunidade São Thomé, os alunos entraram em contato com outro estilo e ritmo de vida, mais pacato, mais sereno e, mesmo sem todos os luxos da cidade, feliz.

Talvez um dos momentos mais emocionantes tenha sido a visita à Escola Municipal São José, onde a professora Katiana trabalhava com alunos do 1o ao 9o anos em uma mesma sala de aula. Conhecer uma realidade educacional tão diferente permitiu que os alunos de São Paulo refletissem sobre sua própria condição de estudantes, sobre as desigualdades dentro do sistema educacional e da sociedade como um todo.

De volta a Manaus, chegou o momento de compartilhar experiências e impressões. A exposição dos resultados e a discussão final tomou toda a nossa última manhã na Amazônia, mas foi fundamental para compreendermos como a região está conectada ao Brasil e a outras partes do mundo, bem como evidenciar toda a complexidade de se aliar de forma sustentável processos econômicos, sociais, ambientais e culturais na Amazônia e, acima de tudo, como cada um de nós contribui para isso.

Vivenciar, investigar, questionar, debater, construir e sistematizar foram apenas algumas das ações protagonizadas pelos alunos e por nós, professores, em equipe. Isso reforça e comprova nossa crença de que o aprender deve estar sempre associado ao viver. É importante colocar o estudante como protagonista na construção de seu próprio conhecimento e, ao mesmo tempo, em seu papel de cidadão. Isso amplia a compreensão da complexidade do mundo atual, permitindo que ele atue de forma responsável na criação de um mundo melhor e mais sustentável para todos.

O contato com o povo e a natureza na Amazônia nos faz enxergar o Brasil de forma mais completa e integrada. Sendo assim, temos certeza que todos voltamos diferentes após essa experiência de uma semana na Amazônia.

Como educadores, esperamos continuar apresentando a Amazônia aos jovens brasileiros, propiciando situações tão ricas em aprendizado e convívio como essa que acabamos de descrever.

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