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publicado dia 31 de agosto de 2012

“O urbanismo e a arquitetura podem contribuir para uma cidade mais igualitária”, Ruy Ohtake

Ruy Ohtake fez um projeto de intervenção de cores nas fachadas das casas de Heliópolis, com a participação da comunidade.

Para o arquiteto Ruy Ohtake, responsável pelos projetos que alteraram a paisagem de Heliópolis, na região sudeste de São Paulo, o urbanismo e a arquitetura têm um papel importante na construção de um território mais igualitário. “Procuro fazer com que a estética seja de toda a cidade, junto com a preocupação social, acompanhando o desenvolvimento da comunidade”, afirma.

O paulistano de 74 anos participou do debate sobre “Arquitetura e transformação do espaço – arte convivência e lazer”, durante o seminário “Estéticas das Periferias”, realizado na última segunda (27), no Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis, projetado por ele mesmo. O local agrega três creches, EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil), EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental), ETEC (Escola Técnica Estadual), Centro Cultural, Complexo Esportivo e biblioteca.

A convite da própria comunidade, o arquiteto desenhou a obra, que ficou ficou pronta em 2010, com a participação direta das lideranças comunitárias por meio da União de Núcleos Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (Unas). Para trabalhar a proposta de um bairro educador,  cinco estudantes locais foram escolhidos para administrar a biblioteca que é aberta ao público.

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A relação de Ohtake com Heliópolis começou com um trabalho artístico em três ruas. Depois de perguntar a cada morador qual cor queriam para as suas casas, criou um projeto de intervenção cromática nas fachadas das moradias, misturando tons fortes. Todo o trabalho de pintura foi realizado por pintores do bairro, exigência do próprio arquiteto. “A comunidade tem que participar”, justifica.

Uma das obras mais famosas do arquiteto é o condomínio residencial, com 71 edifícios, para a população de baixa renda, contemplada pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida. Carinhosamente batizado de “redondinhos”, os prédios coloridos tem formato circular para acabar com as noções de “frente” e ”trás” dos tradicionais.

Projetado por Ruy Ohtake, os "redondinhos" foram construídos para incentivar a convivência dos moradores.

Além disso, os carros ficam na parte externa, enquanto o espaço interno é destinado ao parquinho das crianças e a convivência dos moradores. “Com o mesmo orçamento e metragem de projetos semelhantes é possível fazer construções muito mais interessantes”, explica. “Não é só porque o projeto urbanístico é na periferia que tem que fazer de qualquer jeito”, defende.

Para ele, o conjunto de mudanças em Heliópolis representa uma vitória importante, mas é apenas uma entre diversas batalhas. “É preciso sair do discurso e construir ações que contribuam verdadeiramente para a cidadania. Essa força que percebo em Heliópolis pode se expandir para toda a cidade de São Paulo”, finaliza.

Transformação pela arte

Intervir no espaço público e promover a arte e convivência são metas de projetos culturais em outras periferias.  Um deles é o Grupo Teatral Pombas Urbanas, que atua na Cidade de Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo e que também participou da discussão no seminário.  Os artistas ocuparam um galpão abandonado e o transformaram em um centro cultural, oferecendo aulas de teatro para os jovens.

Com 23 anos de existência, o Pombas Urbanas leva o teatro às ruas de Taboão da Serra.

Adriano Mauriz, um dos integrantes do Pombas Urbanas , conta que o curso começou com 800 inscritos e que, com o passar do tempo, o número foi diminuindo para 100, 50, até ficar apenas uma pessoa. “Existe um estigma construído de que o teatro é elitista”, afirma. Para criar vínculo com o bairro, os artistas passaram a morar lá, identificando-se com o território e elaborando um teatro que fosse verdadeiramente da comunidade para a comunidade.

O grupo cresceu e construiu uma rede com sete coletivos artísticos, que trabalham com outras artes, como música, dança e circo. Paralelamente, o espaço ganhou uma biblioteca comunitária com mais de 12 mil livros e se consolidou como principal centro de convivência e cultura da região. “O nosso principal objetivo é a transformação e o desenvolvimento local por meio da arte”, explica.

Outra iniciativa que contribui para a circulação cultural nas periferias – e que também participou do debate – é o Clariô, que desenvolve um trabalho teatral em Taboão da Serra, cidade-dormitório da região metropolitana de São Paulo, onde quase não há incentivo público ao fomento da cultura local.

Os atores independentes perceberam, em 2005, que não faria sentido para aquela comunidade seguir os padrões do teatro convencional e criaram sua própria estética. Atualmente, a casa que ocupavam foi transformada em um ambiente de troca artística e o grupo foi reconhecido em premiações do Rio de Janeiro.

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