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publicado dia 23 de janeiro de 2014

Saraus das cidades-sede colaboram com a mobilização comunitária

por Ana Luiza Basílio e Jéssica Moreira, do Centro de Referências em Educação Integral

A expressão sarau vem do latim seranus que significa relativo ao entardecer. O nome diz muito sobre a origem dessas manifestações que, por aqui, datam do século XIX e início do século XX e se configuravam como os mais elegantes da sociedade. Na época, reuniam-se em saraus “seres iluminados” que tinham gosto pela música e literatura e que desfrutavam dos requintes dos grandes salões, entre quitutes refinados e apresentações de músicos e poetas consagrados prontos para exibirem suas artes.

Os saraus viraram tradição com a chegada da Família Real, em 1808, e logo ganharam terreno no Rio de Janeiro. As reuniões eram frequentadas pela aristocracia e embaladas pelos ares europeus. Em São Paulo, o movimento chegou mais tarde, muito impulsionado pelos ricos fazendeiros de café.

Na capital paulista, o precursor foi o gaúcho Freitas Valle, que abriu as portas de suas Villa Kyrial, no bairro da Vila Mariana, para encontros regados a música, bons vinhos e suscitadores de discussões sobre estilo, arte, literatura e política.  Por ali, passaram figuras como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.

Com o tempo, os saraus deixaram para trás as formas luxuosas e encontros menos requintados foram surgindo entre figuras como o próprio Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Paulo Prado e de Dona Olívia Guedes Penteado.

Hoje, os saraus alcançaram também as periferias e funcionam como importante ferramenta de comunicação que dá voz a grupos variados. Os eventos acabam por cumprir um papel mobilizador frente às questões dos territórios e articulador diante da comunidade neles inseridas. Além de enriquecer o repertório cultural dos participantes, a dinâmica dos saraus contribui com o empoderamento e a autonomia dos indivíduos.

“A periferia não tinha cultura, apenas bar e igreja. E como somos mais do bar, decidimos transformá-lo em um centro cultural”. A fala é de Sérgio Vaz e diz de uma história que começou há 12 anos no bairro do Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo. Ao lado de Marco Pezão, Vaz começou a fazer poesia dentro do bar Zé Batidão. O movimento despertou curiosidade, engajou as pessoas e caminhou para o que hoje é o Sarau da Cooperifa, que acontece todas as quartas-feiras, a partir das 21h, atraindo centenas de pessoas de toda a cidade para o espaço que é a base do movimento. O projeto ainda lidera várias atividades na comunidade e seu entorno, como o Cinema na Laje, que oferece exibição de filmes duas vezes por mês (às segundas-feiras); saraus nas escolas para apresentar a poesia, quinzenalmente às terças-feiras. A Cooperifa estabeleceu um diálogo que transcende a geografia da periferia e é capaz de propor reflexão e conhecimento a diversos atores da sociedade.

2. Sarau Apafunk, no Rio de Janeiro (RJ)

Um microfone aberto na Rua Alcindo Guanabara, Cinelândia (RJ), em frente à ocupação Manoel Congo. Essa é a dinâmica do Sarau Apafunk que acontece às quintas-feiras, sempre na segunda semana do mês, às 19h. Desde sua primeira edição, que aconteceu há cinco anos, o Apafunk é apoiado pela Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFunk) cuja sigla deu origem ao nome do Sarau. Hoje, a Associação quer afastar o funk da perseguição e criminalização e, por meio do diálogo, pretende fazer com que ele seja reconhecido como cultura. Para isso, faz uso da poesia e incentiva o posicionamento dos participantes. “Queremos mostrar que o funk tem o que falar, ao contrário do que apontam as críticas”, defende Mano Teko, presidente da APAFunk. Para ele, o sarau é uma importante ferramenta que possibilita a comunicação entre aqueles que acreditam na possibilidade de uma mudança. Nessa perspectiva, o Sarau ganhou o apoio do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, que colabora com a organização dos eventos.  Os encontros têm contribuído também para a agenda de questões raciais e de gênero, como a discriminação do negro e da mulher.

3. Sarau Psicodélico, em Brasília (DF)

Nascido em meados de 2003, na cidade-satélite de Taguatinga (DF), o Sarau Psicodélico vem realizando a interação de bandas autorais com os novos poetas brasilienses. O objetivo é dar espaço aos artistas anônimos que surgem, principalmente, nas cidades-satélites. “Como o sarau é itinerante, já passamos por cidades-satélites como Guará, Taguatinga, Ceilândia e Paranoá”, aponta a organizadora Cida Carvalho, que conta apenas com o apoio dos amigos e familiares para a produção dos saraus. De acordo com a produtora, o sarau tenta também resgatar a cena roqueira e undergound da capital brasileira. Com entrada franca, o próximo sarau acontece no dia 25 de janeiro, na Colônia Agrícola Bernardo Saião – Chácara 12 – lote 1 – Guará II – Quadra 40.

Há seis anos, moradores de Belo Horizonte ocupam o o espaço debaixo do viaduto de Santa Tereza para realizar duelos entre MCs. A partir desses encontros, pessoas ligadas à poesia marginal e à literatura de cordel fundaram, em 2011, o Sarau Vira-Lata, que tem como principal objetivo disseminar poesia e dar voz aos cidadãos da cidade por meio da literatura. Itinerante, o sarau já aconteceu em praças de BH, bairros periféricos, museus, Sescs ou até mesmo na porta do cemitério. “Sempre em lugares diferentes da cidade, como se fosse um cachorro vira-lata”, explica o organizador Carlos Eduardo dos Anjos, referindo-se ao nome do projeto. Durante o ano o Vira-Lata programa saraus temáticos de acordo com os feriados. “Na véspera do Dia de Finados, nós vamos até a entrada do cemitério local para fazer um sarau em homenagem aos poetas mortos”, diz Carlos. Antes do Carnaval, o evento irá acontecer debaixo do Viaduto Santa Tereza, palco do renascimento dos blocos carnavalescos de Belo Horizonte. De acordo com Carlos, após a divulgação do Sarau Vira-lata, outros saraus surgiram em cidades de Minais Gerais, como Barbacena, Juiz de Fora e Ouro Preto. O Vira-Lata recebe, frequentemente, convites para realizar workshops de literatura em escolas, assim como recebe diversos estudantes das escolas da região, principalmente os alunos de ensino médio e ensino superior, que já veem na literatura uma forma de contestação. O próximo sarau acontece no dia 24 de janeiro, no Centro Cultural Luiz Estrela, antigo casarão abandonado, que foi ocupado por grupos culturais da cidade.

Realizado de forma colaborativa, o Sarau das Artes Free surgiu em 2011, no centro de Cuiabá (MT), a partir da iniciativa de amigos que gostavam de poesia e manifestações culturais de forma geral. Atualmente, é considerado um dos maiores eventos autorais da capital mato-grossense, atraindo diversos profissionais em prol da revitalização do centro histórico, como arquitetos e fotógrafos. Situado na Praça da Mandioca, na região central, o sarau acontece todas as terças-feiras, à noite. A próxima temporada tem início em fevereiro.

6. Sarau Periférico, em Curitiba (PR)

O Sarau Periférico surgiu em 2013, após as mobilizações ocorridas em junho, em prol da redução da passagem de ônibus. A proposta do sarau é oferecer espaço ao que chamam de arte subversiva, “que nasce nas ruas da terra de qualquer periferia abandonada, regada à ódio e amor, pelas mãos de quem trabalha, pelos sonhos de quem está preso, pelo sangue dos que sofrem”, diz um dos textos de divulgação.

Em sua terceira edição, o evento reúne poetas, rappers, cronistas, contos ou quaisquer manifestações artísticas. O próximo sarau acontece no dia 18 de janeiro, na Ocupação Nova Primavera, em Curitiba, às 14h.

7. Sarau Palco Aberto (Templo da Poesia), em Fortaleza (CE)

” O amor de todo mundo para mudar o mundo”. Esse é um dos trechos da poesia de Ítalo Rovere, que serve como texto tema para explicar como nasceu o Templo da Poesia, que vem reunindo pessoas apaixonadas por poesia e arte em Fortaleza.

Situado na região central de Fortaleza (CE), o espaço se tornou referência na luta pela revitalização do centro histórico local, além de servir como ponto de diálogo, discussão e economia solidária da capital cearense.

O Templo possui diversos projetos ligados à literatura, mas é o Sarau Palco Aberto que reúne os poetas e demais artistas da região. Realizado aos sábados, a partir das 17h, o sarau é gratuito. Nesse período, o espaço está passando por um processo de reforma, mas tem previsão de retorno até março de 2014.

Além do espaço no centro, o Templo da Poesia está estendendo suas atividades para Maranguape, cidade que fica ao lado da capital Fortaleza.

Criado em 2013 pela Fundação Municipal de Cultura e Artes de Manaus (ManausCult), o objetivo do Sarau da Cidade é  fomentar a discussão sobre a literatura manauara, assim como a produção voltada às artes cênicas, cinema e música.

Ainda em período de planejamento, em 2014 o sarau acontece em dois momentos. O primeiro será em abril, na Biblioteca Municipal João Bosco Pantoja Evangelista, no Largo São Sebastião, no Centro Histórico da cidade, e prestará homenagem ao escritor amazonense Aldisio Figueiras. Em junho, o ManausCult está organizando um sarau especial para falar sobre o Mundial de Futebol.

Há 16 anos, nascia em Natal (RN), a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins (SPVA), com um objetivo muito claro: fazer com que a população da cidade reconhecesse a nova cena poética e cultura que surgia na capital do Rio Grande do Norte. Dois anos depois, em 2000, a SPVA fundou o Sarau Luareal, que realiza rodas de poesia em praias potiguares, tendo como cenário as luas cheias de cada mês, que marcam a agenda do sarau, que não possui uma data definida, mas sim a fase da lua. Em praias menos movimentadas, é possível fazer ainda performances ao redor de fogueiras. O sarau já foi realizado em praias como a Praia de Ponta Negra, do Forte e de Piraji. A Sociedade dos Poetas realiza também homenagem aos poetas do Rio Grande do Norte. “Nós somos um coletivo independente e bastante eclético, com pessoas de variadas classes sociais e profissões”, aponta o diretor geral da SPVA, Zé Martins. Em janeiro, os membros da Sociedade irão programar o próximo sarau, que acontecerá em fevereiro, em praia ainda não definida. Na página do Facebook da SPVA é possível encontrar diversos poemas dos peotas associados.

Tudo acontece às terças-feiras à noite, 21h, no bar Ocidente, esquina da Avenida Osvaldo Aranha com a Rua General João Telles, em Porto Alegre. Desde 1999, é ali que os professores Luís Augusto Fischer e Cláudio Moreno, a radialista Katia Suman e a escritora Claudia Tajes  entregam-se a contos, crônicas e relatos de nomes como Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Veríssimo e outros internacionais. Tudo ao som de muito rock’n’roll. A ideia é sempre colocar em pauta temas como traição, futebol e classe média.

O Sarau das Artes, situado em Recife, nasceu em 2009, por iniciativa do Grupo de Teatro João Teimoso, com o objetivo de descentralizar as ações culturais ocorridas na cidade. É dentro do Bar Kibe Lanches, que os saraus acontecem aos sábados, de quinze em quinze dias, no bairro do Pina, em Recife. Os encontros promovem a interação de diversas manifestações artísticas.

Para difundir a cultura produzida por moradores da capital pernambucana, cerca de 100 artistas comparecem a cada sarau. “O intuito é realizar um encontro entre artistas de variadas vertentes, mostrando que se pode fazer cultura sem ficar à mercê do Governo, pois Recife, assim como o resto do Brasil, possui uma grande carência de atividades culturais”, aponta o diretor do grupo teatral Oseas de Moraes Borba Neto. O próximo sarau acontece no dia 18 de janeiro, no Bar Kibe Lanches. Para o Carnaval, promete uma apresentação temática. Os interessados em participar precisam enviar inscrição para o e-mail do grupo:  [email protected].

12. Sarau Bem Black, em Salvador (BA)

Para quem gosta de ouvir e declamar poesia em Salvador, o ponto de encontro é o Sankofa African Bar, no Pelourinho. Todas as quartas-feiras, às 19h30. É lá que o Sarau Bem Black realiza seus encontros com o objetivo de difundir a arte pelo território, seja ela de autoria própria, do escritor predileto ou um trecho de música. O sarau é uma iniciativa do coletivo Blackitude – Vozes Negras da Bahia – e foi lançado em 2009. Inspirado no Cooperifa, importante movimento de São Paulo, o Bem Black adapta a ideia das rodas poéticas às questões da arte negra, essencialmente o hip hop.

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