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publicado dia 30 de março de 2012

Aos 29 anos, Diego luta para mudar a realidade de crianças e adolescentes

Diego Vale de Medeiros tem 29 anos e nasceu em Natal.

O sotaque forte e o inconfundível “bora, minha gente” que abriu o debate sobre o papel do Conselho Tutelar e da Defensoria Pública na garantia dos direitos da criança e do adolescente, realizado em São Paulo, entrega as raízes nordestinas de Diego Vale de Medeiros. “Eu estava com uma saudade de comer baião-de-dois”, confessa enquanto almoçamos em um restaurante simples de Diadema (SP), uma semana depois da palestra.

Nascido em Natal (RN), mora há três anos na capital paulista, onde exerce as funções de coordenador do Núcleo da Infância e da Juventude, da Defensoria Pública de São Paulo, e conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes (CONANDA). Apesar de ter apenas 29 anos, acumula a experiência de quase 11 anos de trabalho na área.

Diego é daqueles que se viram obrigados a amadurecer muito rápido. Quando tinha 12 anos, sua mãe – já falecida – teve um AVC e ficou com uma deficiência física. Mesmo com a pouca idade, assumiu o papel de “mãe” da sua própria mãe, ajudando-a diariamente. Aos 17 anos, começou a cursar a faculdade de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Seu contato com a realidade infanto-juvenil começou nessa época, com trabalhos em diversas Organizações Não-Governamentais (ONGs), entre elas a Renascer, que é referência no combate à violência sexual contra criança e adolescente. No mesmo período, tornou-se presidente do Conselho Municipal da Criança e da Associação Nacional dos Centros de Defesa (ANCEDE).

Em sua gestão, Diego questionou a origem das verbas de duas ONGs, uma da prefeita e outra da governadora. “Eu tinha 21 anos, era estudante de direito e estava denunciando a estrutura governamental, falando de milhões de reais. Tudo isso gerou muita exposição na mídia”, relata. O episódio foi um marco na sua vida profissional por ter mostrado o desafio que enfrentaria ao conviver e denunciar as irregularidades no cenário político e nas organizações.

“O grau de personalismo é muito forte nas instituições, principalmente em cidades menores. Isso advém de uma cultura clientelista muito arraigada, você detecta facilmente que as pessoas têm rabo preso politicamente”, critica. Quando era presidente do Conselho Tutelar de Natal, afastou um funcionário por desvio de verbas públicas em prol de interesses privados.

Outro acontecimento que teve muita repercussão política e gerou mais exposição midiática foi o assassinato de seu irmão por um tenente da Polícia Militar. Para conseguir que o caso estivesse hoje no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), teve que bater de frente com todo o corporativismo da polícia, desenterrar o irmão para atestar que a bala estava sim na cabeça e mobilizar a população em passeatas.

Durante a graduação, Diego percebeu a importância de aproximar-se dos movimentos sociais e decidiu ir ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre – repetindo a dose na edição realizada em Caracas, na Venezuela, em 2006. No ano seguinte, com o canudo na mão, prestou concurso público para a Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

"É muito fácil olhar o mundo por uma folha de processo, mas é a realidade que nos ensina", afirma

Antes de ingressar na metrópole de mala e cuia, Diego atuou em Bauru (SP) por cerca de um ano. Lá ele fez trabalhos integrados junto ao Conselho Tutelar, Centro de Referência à Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado na Assistência Social (CREAS). Do interior paulista à capital, não encontrou muitas dificuldades de adaptação pessoal. Já no ramo profissional…

Com o tempo, a imagem de desenvolvimento associada à São Paulo foi cedendo lugar a de um estado com muitas contradições. “Há referências acadêmicas muito fortes aqui, mas por outro lado, tem uma grande desigualdade na execução das políticas públicas. Não esperava que existisse tanta influência partidária também”, revela.

Outro problema que identificou na rede que trata dos direitos da criança e do adolescente na capital paulista é o distanciamento das pessoas. Para ele, a grandiosidade das instituições, além do excesso de trabalho, afasta os profissionais dos atendidos, tornando-os apáticos e comprometendo a qualidade dos serviços prestados.

Para combater esse fenômeno, arrisca Diego, a resposta é simples: aproximar-se da rede, estabelecendo uma relação verdadeira entre os funcionários e também entre a população atendida. “Eu posso só fazer uma visita à Fundação Casa, mas eu posso, além disso, conversar com os adolescentes e com os técnicos, para entender como vivem e quais são as demandas de cada um”, explica.

O defensor acredita que é de extrema importância que os profissionais da área tenham uma formação mais humanista.“É muito fácil olhar o mundo por uma folha de processo. A teoria é muito imponente, cheia de requintes e de boa retórica, mas é a realidade que nos ensina.”

Durante o período de atuação entre nordeste, interior paulista e a maior metrópole brasileira, pôde reconhecer características comuns na área responsável pelos direitos da infância e juventude: o desconhecimento dos órgãos públicos sobre o seu verdadeiro papel.

“Todas essas fragilidades institucionais repercutem no pensamento covarde e preconceituoso de penalizar a pobreza. Se for negro e pobre, vai para a cadeia. É esse ainda o pensamento vigente.”

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