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publicado dia 27 de julho de 2012

Educação integral extrapola limites da escola

Por Porvir

Muito mais que uma questão de tempo, esse conceito trabalha uma formação ampla que desenvolve valores éticos e cidadãos.

Imagine uma escola que não cabe em si: as aulas extrapolam os muros do pátio, ganham as ruas e se espalham pelo bairro. Nesse lugar, aprende-se a contar na caixa registradora da quitanda; as propriedades dos alimentos são ensinadas na cozinha do restaurante a quilo; os fundamentos do futebol, na pracinha; e os princípios de Newton, na oficina mecânica. Os educadores também não são só os tradicionais, mas cabeleireiros, marceneiros, enfermeiras, aposentados, entre outros membros da comunidade. Essa escola, ou melhor, esse conceito de escola que trabalha a chamada educação integral, tem se tornado cada vez mais comum por meio de iniciativas da sociedade civil e dos governos.

Helena Singer, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, instituição pioneira no desenvolvimento da educação integral, explica que o objetivo das escolas que adotam esse conceito é oferecer uma formação ampla. E por formação ampla entenda-se aquela que não trabalha apenas os conteúdos formais, como matemática, português, física e geografia, mas também a que desenvolve valores, habilidades e atitudes, como ética, comunicação, cidadania, responsabilidade, criatividade e capacidade de trabalhar em equipe e resolver problemas.

Para que tudo isso ocorra nos momentos de aprendizagem do aluno, é preciso reorganizar os espaços, o tempo e os conteúdos curriculares, de forma a integrá-los à trajetória de vida do estudante, à história de seus familiares e ao contexto onde estão inseridos. “A proposta é reunir diversos atores que estão em diálogo com as crianças e com os adolescentes, para que tenham um projeto educativo local”, afirma.

“A escola aparece como se fosse a única alternativa voltada à formação de uma pessoa. E não é”

Assim, mais do que dobrar o horário escolar, a educação integral exige novos formatos, espaços e interlocutores. Nessa concepção, a educação deixa de ser monopólio da escola, que já não consegue oferecer todas as oportunidades educativas necessárias para o desenvolvimento do aluno do século 21, e vai parar nas ruas. “A escola aparece para a sociedade como se fosse a única alternativa voltada à formação de uma pessoa. E não é”, ressalta Helena Singer.

Bairro-escola

Ao envolver a comunidade, o processo educativo transforma todo o seu entorno em agente educador. A metodologia do Bairro-escola, inspirada pela Associação Cidade Escola Aprendiz e disseminada por todo o Brasil, sugere que educadores comunitários ajudem as escolas a identificar demandas, bem como mapear espaços, pessoas e oportunidades que possam se tornar parceiros na construção de trilhas educativas que tomem conta das ruas do bairro e da cidade.

As trilhas podem estar diretamente vinculadas ao ensino formal, permitindo que os alunos aprendam os conteúdos curriculares por meio de vivências em diferentes espaços, como ter aula de ciências na horta ou na praia. Podem também promover atividades complementares nas áreas de artes, cultura, esporte e tecnologia, como oficinas de dança, música, mídia, teatro ou poesia, cursos profissionalizantes, práticas de futebol e natação, aulas de informática, entre muitas outras possibilidades.

Mais Educação

Além da Associação Cidade Escola Aprendiz, outras iniciativas de organizações sociais têm espalhado a educação integral pelo país. Tanto é que o Prêmio Itaú/Unicef foi criado para mapear e valorizar boas práticas que trabalhem o conceito. Na esfera pública, ele tem sido implementado por diversas secretarias de educação, como as municipais de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Sorocaba e a estadual de Goiás. Em 2008, o governo federal lançou o programa Mais Educação, que viabiliza a adoção da proposta por 15 mil escolas, número que deve chegar a 60 mil em 2014, conforme anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff neste mês.

O Mais Educação apoia financeiramente escolas públicas que queiram ampliar não apenas o tempo de permanência dos alunos na sala de aula, mas as suas oportunidades de aprendizagem. A iniciativa envia recursos para escolas, encorajando que até mesmo aquelas que não possuem espaço físico ou educadores disponíveis para esse trabalho ampliado possam estabelecer parcerias com instituições e pessoas da comunidade e criar projetos educativos locais.

Para Bia Goulart, arquiteta e consultora do programa, essa possibilidade coloca em xeque a arquitetura tradicional da educação. A especialista defende que é preciso pensar em outro desenho de escola e de cidade, que dê conta da fluidez que a educação integral exige. “As escolas ainda estão no modelo do século 19: aula, professor e lousa. Na hora que se traz a cultura e outras áreas do conhecimento para a escola, ela não tem espaço. Por isso temos que mudar a equação tempo e espaço da educação”, afirma.

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