Da Lapa à Rocinha, de Ipanema à Tijuca, gingando por Madureira e desfilando pela Maré, o samba tem lugar cativo na vida cotidiana do Rio de Janeiro. De carnaval a carnaval, sua presença é tão marcante que, em 2013, o estilo musical tornou-se a principal disciplina em uma escola municipal da cidade.
O Ginásio Experimental Carioca (GEC) Francisca Soares Fontoura de Oliveira, apelidado de GEC do Samba, foi inaugurado em fevereiro deste ano e faz parte de um projeto da Secretaria Municipal de Educação que pretende oferecer uma aprendizagem mais adequada aos adolescentes da rede municipal de ensino.
Por meio de inovações curriculares, de conteúdo, metodologias e gestão nas escolas do segundo segmento do Ensino Fundamental (do 7º ao 9º ano), o Programa Ginásio Experimental, lançado em 2011, tem como objetivo formar jovens autônomos, conscientes de seu papel na sociedade, e ajudá-los a traçar projetos de vida.
“As escolas estavam totalmente desinteressantes para os adolescentes”, analisa a coordenadora dos GECs, Heloísa Mesquita. Para ela, o aluno precisa ver sentido na escola e, consequentemente, em estudar. “Quando se tem um norte tudo caminha melhor, inclusive os resultados acadêmicos.”

Estudantes do Ginásio Experimental Carioca Francisca Soares Fontoura de Oliveira, o GEC do Samba
Mas para que isso vire realidade, são necessárias mudanças significativas na estrutura da aprendizagem. A começar pelo tempo de estudo – a proposta de educação integral dos GECs prevê que os alunos estejam nas escolas das 8h às 16h. O currículo tem mais ênfase em língua portuguesa, matemática, ciências e inglês, além de atividades que ajudam o aluno a construir um projeto de vida, a envolver-se em ações de protagonismo juvenil, estudo dirigido e oficinas optativas que complementam o aprendizado de forma lúdica.
Projeto de Vida: o jovem revela suas ambições para o futuro e o professor-tutor projeta a sua viabilização. O jovem fala de seus sonhos, traça suas metas e determina prazos para fornecer sentido a essa ação.
Protagonismo Juvenil: pretende formar o jovem através de práticas e vivências, na escola e na comunidade, que o leva a atuar como parte da solução, e não como parte do problema. Um exercício de cidadania ativa e solidária.
Matérias Eletivas: disciplinas temáticas propostas pelos professores ou pelos estudantes, com o objetivo de diversificar e aprofundar os conteúdos trabalhados nas disciplinas curriculares por meio de metodologias diferentes daquelas adotadas na sala de aula.
Estudo Dirigido: tempo previsto na rotina escolar para o aluno realizar suas tarefas e estudar, orientado por um monitor ou professor-tutor que ensine ao jovem métodos de organização e planejamento.
No primeiro ano de execução do programa, dez escolas municipais – uma de cada Coordenadoria Regional de Educação – foram escolhidas para se converter em Ginásios Experimentais. A secretaria optou por escolas que já contassem com infraestrutura (salas de aula, quadra esportiva, biblioteca, laboratórios de informática e de ciências). Segundo dados do projeto, na primeira etapa de implementação, aproximadamente 4.500 jovens tiveram acesso à nova proposta educacional.
Os resultados foram imediatos. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011, a avaliação dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental na capital fluminense saltou 22% (de 3,6 para 4,4), deixando o Rio de Janeiro entre as cinco melhores capitais do país – a média nacional do período é de 4,1. Entre as 10 melhores escolas avaliadas da cidade, quatro são Ginásios Experimentais.
Por outro lado, todos os dez primeiros GECs atingiram as metas de melhoria de aprendizagem. Quatro deles obtiveram melhora acima de 50% em relação com o Ideb de 2009; o Ginásio Experimental Carioca Orsina da Fonseca atingiu um crescimento de 94% na nota, de 3,2 para 6,2.
Ressonância
Hoje, o Rio já possui 25 GECs compondo a rede de ensino. Apesar de ter resultados consolidados e reconhecidos internacionalmente – os GECs já receberam visitas de representantes da Argentina, Uruguai e Espanha interessados em replicar o modelo –, os Ginásios não pretendem deixar de ser Experimentais.
“Não queremos perder esse termo [Experimental] porque não queremos perder as novidades. Ainda temos inovações a serem feitas, para não deixar nunca de experimentar”, afirma Flávia Rezek, diretora do GEC Rio de Janeiro.
Uma dessas inovações começou a ser testada em 2013. Por meio do projeto Ressonância, um grupo de professores dos GECs compila todas as práticas de aprendizagem exitosas e, em reuniões mensais com professores de escolas municipais da região, têm a oportunidade de apresentá-las para que possam ser replicadas. Segundo Mesquita, “o professor do Ginásio não está sendo pago para ser tutor de outro professor, mas está aderindo ao projeto porque quer divulgar seu trabalho, sua prática”.
Tutores e polivalentes
A formação de docentes é outro aspecto diferenciado do Ginásio Experimental Carioca. “O professor do GEC passa por uma série de formações em que reaprende ou até mesmo aprende pela primeira vez. Formações em planejamento de aula, em didáticas específicas, como matemática, português, a própria gestão do tempo dentro da sala de aula”, explica Mesquita. O GEC propõe também a polivalência docente, na qual professores atuam em núcleos de matemática e ciências (exatas) e português, história e geografia (humanidades).
Na rede municipal, o professor tem dedicação exclusiva ao Ginásio onde leciona. Para Mesquita, isso gera uma diferença “evidente” no relacionamento entre aluno e professor. “Transforma a maneira de lidar com os jovens, sem gritos, sem berros. Afinal, um dos pilares do GEC é aprender a conviver”, declara.
Inspirado em orientadores de universidades, os professores-tutores pretendem captar as expectativas, interesses e necessidades do estudante e entender como lidar com as diferentes formas de aprendizado, além de eventuais falhas de aproveitamento. “Eles acompanham e analisam o desempenho do aluno e sugerem maneiras dele estudar”, afirma Rezek.
Os GECs propõem ainda uma mudança na lógica das avaliações. Segundo Mesquita, se um aluno vai mal e recebe nota insatisfatória, foi o professor que faltou ensinar, e não o contrário.“Se o jovem tem tutor, tem projeto de vida, educação e valores, por que o professor deu nota insatisfatória? Ele tem que justificar muito pra me dizer que o aluno é insuficiente”, pontua a coordenadora.
Ginásio e comunidade
A relação entre os Ginásios Experimentais e as comunidades que os cercam vai além da ideia de que os alunos do colégio provêm dos bairros próximos. Após quase três anos de existência, há GECs que, ao proporcionar autonomia aos seus estudantes, trazem para dentro dele as características marcantes da região em que se encontram.
Além do GEC do Samba, há um GEC ligado às Artes Visuais, localizado em uma região com muitas ofertas culturais, próxima ao Teatro Municipal, ao MAR (Museu de Arte do Rio) e ao Morro da Conceição – que, além de relevância histórica e arquitetônica, abriga uma série de ateliês de artistas plásticos. Na região do Aeroporto Internacional Tom Jobim existe o GEC Poliglota, que prioriza aulas de inglês, francês, espanhol e árabe (alemão e italiano são as próximas línguas a entrar no currículo).
“São os entornos sinalizando quais são os interesses da comunidade”, avalia Heloísa Mesquita.
O GEC do Samba está localizado em Olaria, perto da escola de samba Imperatriz Leopoldinense e na mesma quadra do Cacique de Ramos, um dos berços do samba de raiz e partido alto carioca. Lá, os alunos tem o mesmo número de aulas de música quanto de outras disciplinas: teclado, violão, percussão, canto, flauta doce e musicalização.
De acordo com Eliete Vasconcelos, coordenadora musical do GEC do Samba, a herança musical dos jovens é muito clara. “A professora de percussão tem muita facilidade com os alunos, pois muitos são filhos de sambistas e de percussionistas da região. Assim, a familiarização com a música por parte desses jovens se torna evidente.”
“A escola se derrama para a comunidade e a comunidade se derrama para dentro da escola”, conclui Mesquita.
Esta reportagem integra o especial de lançamento do Centro de Referências em Educação Integral, uma iniciativa de organizações governamentais e não governamentais que visa inspirar e apoiar a agenda de educação integral no país. A plataforma estará disponível a partir do dia 29 de agosto, no www.educacaointegral.org.br
Parabéns ao Portal Aprendiz, que possibilitou maiores esclarecimentos sobre o projeto Ginásio Experimental carioca. Parabéns, também, a Heloisa Mesquita e aos que ajudaram na produção da matéria!
🙂
Trabalhar com projetos faz com que a integração do aluno com o conhecimento se torne mais palpável.
Isso facilita que os objetivos sejam alcançados.
Parabéns
Precisamos hoje nas nossas escolas de práticas assim, inspiradoras para que a escola e os professores saiam da mesmice.
Concordo com você, pois o material pronto não permite ser protagonista.
Educação Bancária?
CONCORDO TOTALMENTE. ALGUMAS PRÁTICAS PRECISAM DE INOVAÇÃO, DE MUDANÇAS PARA QUE POSSAMOS NOS LIBERTAR E SAIR DA MESMICE. ESSE PROJETO OPORTUNIZA AO ESTUDANTE TORNAR-SE CONSCIENTES DE SEU PAPEL , ATRAVÉS DA APRENDIZAGEM QUE OCORRE DE FORMA LÚDICA. PARABÉNS AOS IDEALIZADORES!!!!!!!!!!!!
Concordo!
Digo sempre: Quanto mais asas damos à imaginação de nossos alunos, mais amplo se torna o universo escolar. Oportunizar o aluno à atribuir aos conteúdos do professor os seus planos e invenções, você vai abrindo um leque de oportunidades na vida desses alunos. Você alavanca para a realização do sonho de cada um.
É isso mesmo Carla,dar “asas a imaginação”….o resultado vem em seguida.
A educação constitui-se um dos principais mecanismos de transformação de um povo e é papel da escola, de forma democrática e comprometida com a promoção do ser humano na sua integridade, estimular a formação de valores, hábitos e comportamentos que respeitem as diferenças e as características próprias de grupos e minorias.
Gostei muito desse Projeto “Ginásio Experimental”. Acredito nesse tipo de aprendizado, que faça sentido aos nossos educandos. Parabéns equipe.
Acredito que temos que descobrir novas formas de atrair nossos jovens para permanecer na escola,, sendo assim os projetos aqui apresentados nos dão ideias para podermos aplicá-las no ambiente que atuamos.Lendo sobre esse módulo já imaginei um projeto para melhorar a convivência e cuidar da escola. Muito obrigada.
Sandra é por aí. Projetos interdisciplinares podem fazer a diferença servindo de estímulo para que os alunos aprendam com prazer motivados por uma boa prática.
Um Projeto maravilhoso e que há envolvimento de todos , esse é o caminho para uma Educação de qualidade.
Ter a oportunidade de trabalhar o projeto de vida na escola e muito importante, para o aluno se conhecer.
É UMA UMA MANEIRA DE ENSINAR DE FORMA CRIATIVA PARA O A CRIANÇA E OU JOVEM TENHA MAIS INTERESSE NA APRENDIZAGEM.
O engajamento de todos para efetivação do projeto é essencial se aprimoramentos aconteçam. Se todas ações s planejadas, complementares, corretivas e/ou implementadas forem executadas de forma mais assertiva, com foco e comprometimento. Boas práticas contextualizadas poderão fazer com que os estudantes sintam-se motivados para permanecerem na escola e aprenderem motivados pelo trabalho diversificado.
Trabalhar por projetos exige muito mais de cada um de nós em todos os aspectos, mas é muito edificante!
Nossa adorei conhecer um pouco do GINÁSIO EXPERIMENTAL
Realmente elaborar um projeto requer dedicação. Congratulo a todos que realizaram esse projeto de forma tão prazerosa . Contudo os frutos vão colher em um futuro próximo. É assim que faz a diferença; Felicitações a todos.
Parabéns pela realização deste trabalho tão edificante para a comunidade.
Projetar é acreditar, sonhar, pensar em possibilidades!
Se faz preciso buscar o interesse do aluno nessa aprendizagem significativa, onde a escola vai á comunidade e vice- versa.
Muito bom msmo.É exatamente isso o sucesso da escola:trabalhando com o que de fato interessa o aluno e tornando este aluno protagonista da sua aprendizagem.
Grande iniciativa a construção dos GECs, pois aprendizagem por projetos motiva os alunos para a construção do conhecimento e formação integral do ser.
Essa integração entre aluno, escola, comunidade e projeto mostra, indiscutivelmente, como o conhecimento ganha força e ao surgir, transforma a vida de cada uma das pessoas envolvidas.
Interessante a figura do professor Tutor, como referência para o aluno, neste modelo de educação integral. Ja tinha visto no ensino médio da minha cidade. A afetividade no papel deste professor é fundamental porque o estudante adolescente precisa confiar nele para que fale de si mesmo.
De fato, o professor nesse projeto de vida se torna um exemplo de companheirismo, de zelo e cuidado para com o alunado, eles se sentem seguros e corajosos a enfrentar os desafios.
Foco real no estudante!
É disto que precisamos!
INOVAR é o segredo para termos um aluno Motivado, Interessado, Participativo e principalmente um realizador dos seus Sonhos. Desta feita, a partir do instante que essa Escola Inovadora se torne o caminho, pelas oportunidades de um ensino diferenciado, e com professores que sejam um instrumento divisor de águas do antes e depois na vida desse alunado, mais Projetos de Vidas com certeza nascerão. Inovar é Preciso!!!
A proposta de trabalho com pedagogia de projetos, funda-se em buscar soluções para a falta de motivação, proporcionando ao aluno posicionar-se de maneira crítica, criativa, reflexiva e construtiva frente à família, escola e comunidade. Contudo, depende de muitas variáveis, notadamente de recursos financeiros. Escolas sem área para recreação, educação física, sem internet e biblioteca contribuem sensivelmente para minimização dessa prática.
Experiência muito interessante. O resultado de uma educação “contextualizada”, aparece, pois um dos seus diferenciais está relacionado à valorização do/a aluno/a e de suas vivências e isto se relaciona diretamente a autoestima e portanto, ao interesse desse/a estudante, se envolvendo com motivação, o que acaba impactando no processo de aprendizagem de forma muito significativa.
Parabéns! Trabalhar com projetos é muito enriquecedor e auxilia muito a participação direta do educando.
Cada Projeto de Vida que se realiza, mesmo quando vemos, anos após termos tido contato com os alunos, ao encontrá-los nas Universidades, no mundo do trabalho, chamando o professor pelo nome ou apelido, tudo isso nos garante uma felicidade ímpar. A partir dessas experiências, em lugares distantes de nossa realidade, comparamos e vemos que não fugimos muito desse compromisso com o outro e seu crescimento.
Parabéns !!! Projeto de vida traz aos alunos uma perspectiva de vida, uma razão para seguir, um propósito. Isso gera motivação para aprender e ser protagonista .
Achei o projeto interessante, mas fiquei com algumas dúvidas:
Vocês se qualificaram como?
quais cursos? tem o tutor, quem é? o professor que espontaneamente se torna tutor do aluno? ele tem aula separada para isso? OU melhor dentro de sua carga horário esse tempo está contemplado?
Realmente muito boa a proposta de trabalho adotada pelos GECs, concordo com vocês quando dizem “não” querer mudar a nomenclatura “Experimental”, no intuito de sempre estar se fazendo novos experimentos inovando as possibilidades de ensino.
Levou-me a refletir um poco aqui na minha cidade, a capoeira aqui é muito querida.
Somos, como educadores, muitas vezes exemplos a serem seguidos. Pergunto-me sempre: Tenho dado bons exemplos?
Parabéns!
Precisamos de escola como esta do exemplo.
precisamos de equipe com esta dedicação.