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publicado dia 17 de setembro de 2013

Escola mostra que falar sobre drogas não precisa ser tabu

Em 1937, um filme chamado “Reefer Madness” [A loucura do baseado, em tradução livre] foi amplamente divulgado pelo governo norte-americano. A obra, também conhecida como “Tell your children” [Conte aos seus filhos], mostrava alguns jovens, que após consumir maconha, passavam por um estágio de loucura que culminava na ingestão de vidro, morte e suicídio. A narrativa, hiperbólica e pouco realista, causou um impacto histérico na opinião pública norte-americana, que aprendia a lidar com o proibicionismo das drogas e com a crise econômica que assolava o país.

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Muitas coisas mudaram desde então: as relações familiares se complexificaram, a juventude tem acesso facilitado às informações, os países encontraram diferentes formas para lidar com a questão das drogas, mas será que as escolas têm falado sobre o assunto de forma honesta? É esse esforço que vem sendo empreendido pelo Núcleo de Estudos e Temas em Psicologia (NetPsi), desde 2003, no Colégio Santo Agostinho, localizado na zona central de São Paulo.

Com uma metodologia inspirada na estratégia da Redução de Danos, os psicólogos do NetPsi realizam até seis encontros de três horas por ano com os alunos do fundamental e do ensino médio para tratar desses temas. São momentos livres de qualquer influência familiar ou da equipe do colégio, que funcionam como um espaço de confiança entre os jovens.

[stextbox id=”custom” align=”right” caption=”Entenda o que é redução de danos” float=”true” width=”300″]Redução de Danos (RD) é um paradigma ou abordagem técnica que lida com sexualidade e o uso de drogas procurando diminuir danos sem necessariamente proibir práticas, valorizando o auto-cuidado. Política oficial do Ministério da Saúde do Brasil e de diversos outros países, baseia-se no princípio de respeito às escolhas individuais, garantindo direitos e cidadania, estimulando que cada pessoa pense sobre suas decisões, evitando estigmas e tabus. “Por meio da aproximação do modelo de redução de danos e da noção de vulnerabilidade é que podemos compreender o trabalho preventivo ao uso de risco e dependência de drogas como ações redutoras de vulnerabilidade e, assim, desconstruir e superar o modelo Proibicionista.  Por este caminho inauguramos, assim, a possibilidade de aproximar o sentido de prevenir com o sentido de educar, recuperando a vocação mais autêntica da educação: reduzir vulnerabilidades”, afirma Marcelo Sodelli na apresentação de seu livro “Uso de Drogas e Prevenção”. Saiba mais aqui.[/stextbox]

Proibição não é educação

“Os colégios geralmente querem uma política mais proibicionista e, portanto, menos educativa. Chamam um ‘especialista’ no tema, fazem uma palestra sobre os perigos e saem de consciência limpa. Mas onde está o espaço para o estudante falar, contar da sua vida, pensar sobre os riscos?”, indaga Fernando Tavares de Lima, psicólogo que trabalha no Santo Agostinho desde 2003.

Fernando explica que as ações não passam por dizer “não” aos estudantes, ou mostrar que há certo ou errado quando se trata de saúde, uso de drogas e sexualidade. De acordo com o psicólogo, é preciso criar reflexões em torno dessas questões. “O álcool quase todas pessoas vão provar. Não tem como ser simplista. Tentamos fazer com que o aluno pense sobre qual tipo de uso ele vai ter ou se irá ter. Quando mais noção a pessoa tem da própria vulnerabilidade, mais ela pode fazer opções de vida que não sejam danosas”, avalia.

Para ele, a redução de danos é uma ação educativa, na medida em que questiona o absolutismo da proibição, e realista, ao admitir falhas de comportamento. “Não é porque alguém experimentou alguma coisa que este indivíduo está perdido. Nos maços de cigarro, por exemplo, o choque daquelas imagens não causa mais efeito. As pessoas nem prestam mais atenção. E o jovem que experimenta e ganha prestígio, olha aquilo e não se vê, acha que os danos só virão quando ele for velho”, pondera Fernando.

Bicho de sete cabeças

“O que o jovem consegue perceber é que o investimento do colégio é um investimento de confiança”, confirma Raquel Bohnstedt, diretora pedagógica do colégio Santo Agostinho. Ela relata que, com o passar dos anos, a desconfiança, tanto de alunos quanto de pais, começou a passar. “Viram que podíamos falar disso sem repressão e ampliamos as discussões até para o projeto de vida de cada um.”

Ela conta que antes o debate ficava restrito à parte técnica, sobre quais são as consequências e as medidas de repressão. “Mas aquilo que é proibido aguça, então tentamos desmistificar. Hoje todos têm muita informação e tudo se tornou imediatista. É importante ter tempo para discutir, pensar nos seus projetos de vida”, defende. Para os casos de necessidade de atendimento profissional, a diretora afirma que a escola adota como procedimento encaminhar o estudante para o grupo de psicólogos.

“Percebemos que os jovens acabaram por fazer escolhas mais assertivas. É claro que ainda há usos, mas o índice de consumo de drogas pesadas desapareceu. Isso é gratificante, pois proporcionamos à eles uma vida social ativa, para que consigam pensar sobres suas escolhas e se sintam protagonistas de suas histórias”, afirma Raquel.

O trabalho do colégio Santo Agostinho com a NetPsi, que já dura dez anos, se aproxima da vida dos estudantes e apresenta caminhos que antes pareciam obscurecidos pelo medo. E faz isso usando filmes, música, por meio de um trabalho contínuo, que exige tempo, confiança e diálogo. Os envolvidos relatam que ele também serviu para desconstruir preconceitos e diminuir o bullying e atitudes machistas e homofóbicas.

Raquel acredita que a questão deixou de ser “um bicho de sete cabeças”, numa referência direta ao filme de Laís Bodanzky que retrata o desfecho trágico de um jovem internado pelo pai em uma instituição psiquiátrica por fumar maconha. “O jovem sai da escola depois da aula e vai para a sociedade. O que ele faz fora daqui atinge a todos. Por isso, cuidar do seu desenvolvimento, nas dimensões moral, ética e social, acaba sendo muito importante.”



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