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publicado dia 18 de setembro de 2013

Rádio leva notícias da comunidade para dentro da escola

Os intervalos nunca mais foram os mesmos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Pedro Leite Cordeiro, localizada na Cidade Kemel, extremo leste de São Paulo.

Estudantes produzem roteiros e vinhetas para serem tocadas na Rádio Cordeiro.

Quando o projeto da Rádio Cordeiro saiu do papel, no início de 2012, os alunos interessados na transmissão de notícias e músicas por meio das ondas radiofônicas transformaram não apenas seus conhecimentos, mas também os intervalos da escola. A usual barulheira de crianças brincando e jovens conversando agora divide espaço com os programas transmitidos por um veículo de comunicação feito por eles.

E como um dos principais objetivos do projeto é estimular o protagonismo infanto-juvenil, segundo a diretora Andreia Pereira, a estudante Carolina Soares, do 8º ano, tem aproveitado os aprendizados em locução para falar sobre o acontece dentro e fora da escola. “Na Rádio Cordeiro, falamos da Cidade Kemel e dos acontecimentos da região. Discutimos sobre melhorias no bairro e o que devemos mudar. Falamos também sobre os projetos e os acontecimentos da nossa escola. Obrigado pela atenção e uma boa aula!”.

O bairro de Cidade Kemel está localizado na conurbação de quatro municípios: São Paulo, Poá, Ferraz de Vasconcelos e Itaquaquecetuba. Oficialmente pertence ao distrito de Itaim Paulista, que segundo dados da Prefeitura é uma das regiões com maior densidade demográfica da cidade: 18.673 habitantes por quilômetro quadrado.
A distância de quase 40 quilômetros do marco zero da cidade e a falta de investimentos do poder público são fatores que dificultam a existência de espaços culturais e de aprendizagem na região: apenas uma Casa de Cultura cumpre o desafio de levar atividades culturais para o distrito, já que museus, cinemas, teatros e bibliotecas não existem nessa área vulnerável de São Paulo.

Voz e microfone

Para a coordenadora pedagógica da instituição, Débora Lopes, a rádio trouxe autonomia aos jovens, fazendo com que eles repensem o significado da escola e o seu papel dentro do ambiente escolar. “Os alunos têm voz e microfone, sem deixar de lado a sala de aula, pois a produção acadêmica é fundamental”, afirma.

Segundo a coordenação, a adesão ao Programa Ampliar, criado pela Secretaria Municipal de Educação em 2011, deu as condições para a criação da Rádio Cordeiro. O Ampliar integrou o Programa Nas Ondas do Rádio, que desde 2005 estimula projetos educomunicativos nas unidades escolares da capital, com o argumento de que eles alcançam resultados importantes no processo de aprendizagem das crianças e jovens.

Tais resultados, inclusive, foram reconhecidos pelo poder público. Segundo Daniele Próspero, pesquisadora do tema, “ao perceber o valor da proposta e sua importância para a busca de uma nova educação”, o governo federal adotou pela primeira vez, no Programa Mais Educação, “o conceito e pressupostos da educomunicação como forma de agregar à busca constante por uma educação integral”.

Documento da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) intitulado “Perspectivas sobre a criança e a mídia” reforça que as práticas educomunicativas, ao promoverem a compreensão crítica da mídia e inspirarem ações coletivas, levam a um maior conhecimento e interesse pela comunidade local.

Rádio Cordeiro

Não poderia ser diferente na Rádio Cordeiro. Nela, os alunos têm liberdade para escolher os assuntos a serem abordados no programa – no dia em que a equipe do Portal Aprendiz esteve na escola, a visita foi um dos temas escolhidos. Ao mesmo tempo em que falam sobre os acontecimentos da escola, os professores estimulam os estudantes a produzirem pautas que tenham relação com a comunidade onde estão inseridos.

“Estou cutucando eles pra mostrar: olha, o mundo é muito grande pra vocês ficarem restritos à escola, aqui no fundo da zona leste. O que está acontecendo por aí?”, questiona a professora de artes e coordenadora da Rádio, Kátia Dias.

Às segundas e quintas-feiras, sempre no horário de 12h às 13h30, mais de 30 alunos se dividem em oito grupos e produzem o conteúdo que será veiculado nos intervalos entre as aulas. Eles usam o software livre Audacity para gravarem suas vinhetas. Para estimular a participação, a professora escolhe alguns alunos para serem monitores e ajudarem aqueles que tiverem dificuldades. A própria coordenadora da rádio revela que não tem as habilidades mostradas pelos alunos na informática. “Aprendo com eles sobre tecnologia. É uma troca saudável.”

Não há divisão por série ou idade – a partir do 6º ano o aluno pode participar da Rádio Cordeiro. Segundo Kátia, existe a intenção de ampliar a participação para estudantes do 5º ano.

Do lado de fora

Atividades fora da escola constantemente viram pautas para o programa de rádio, como uma visita que os alunos do 9º ano fizeram à Sala São Paulo; a presença de alunos da escola no Seminário Educação como Desenvolvimento Local; e a participação em um debate com a ex-senadora Marina Silva, no Galpão Cultural, localizado em São Miguel Paulista. “Eu acredito na inclusão social através da cultura”, defende Kátia.

O Galpão, aliás, constitui uma das parcerias que a escola mantém com a comunidade. Há relações ainda com a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Cidade Kemel e com o Parque das Águas, além de Conselhos Tutelares da região. “O projeto político-pedagógico da escola contribui para a relação com a região. Isso é um ótimo indicador, visando a integração qualitativa da comunidade, e não apenas quantitativa”, observa Débora.

Desmistificar a mídia

“É muito legal ver as habilidades que essa prática vem desenvolvendo nos meninos e meninas, principalmente na comunicação e na articulação de idéias. Eles falam muito bem”, surpreende-se a diretora da escola. Segundo Daniele Próspero, a educomunicação ajuda os jovens a “desmistificar” a produção midiática, descobrindo assim seu potencial de autoria nesse processo.

Ainda de acordo com a estudiosa, aos poucos as escolas vão aderindo às práticas de educomunicação. “Em 2011, mais de 4200 instituições escolares, em 842 cidades, desenvolveram atividades educomunicativas, com a participação de cerca de 825 mil alunos”, finaliza Próspero.

V Encontro Brasileiro de Educomunicação

Terá início nesta quinta-feira (19/9) o V Encontro Brasileiro de Educomunicação, que será realizado na cidade de São Paulo. Com o objetivo de reunir responsáveis por programas e pesquisas na área, o evento propõe uma reflexão sobre os caminhos percorridos até agora e os próximos desafios referentes à educomunicação no Brasil.

Clique aqui para ver a programação completa do evento.

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