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publicado dia 27 de setembro de 2013

Arte inspira três experiências de inclusão

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O Plano Nacional de Educação (PNE) teve um de seus textos alterados para ser aprovado nesta quarta-feira (25/9) pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Trata-se da Meta 4, que aborda o direito à educação especial na rede pública de ensino e foi alvo de discussão entre o Ministério da Educação (MEC) e entidades que atendem pessoas com deficiência, como a Apae (Associação de Amigos e Pais de Excepcionais).

[stextbox id=”custom” caption=”Educação especial no Brasil” float=”true” align=”right” width=”250″]O Censo Escolar de 2013 revelou que, na rede básica e pública de ensino de todo Brasil, mais de 650 mil pessoas estão matriculadas em educação especial. Esse número representa 75% do total de alunos deficientes no país, o que significa que três em cada quatro deles estão em classes regulares, convivendo com alunos sem deficiência.
Em 1998, contudo, esse dado se limitava a somente 13% dos estudantes com deficiência. Para reverter a situação, foram necessárias diversas legislações, como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), além de documentos como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU (Organização das Nações Unidas).[/stextbox]

Segundo o texto original do Plano, uma das prioridades da educação no Brasil nos próximos dez anos será “universalizar, para a população de quatro a 17 anos, o atendimento escolar aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino”. Para os contrários, era necessário esclarecer que a educação de pessoas com deficiência deveria ocorrer “preferencialmente” na rede pública, mas não obrigatoriamente.

Após negociações entre senadores, interlocutores do MEC e as entidades em defesa do direito das pessoas deficientes, a palavra “preferencialmente” foi adicionada ao texto aprovado pela Comissão.

Em meio a esse debate, o Portal Aprendiz apresenta três projetos de educação artística e inclusiva: uma de dança, outra de artes visuais e uma de música. A proposta é inspirar os leitores e divulgar o trabalho dos profissionais envolvidos nessas experiências de ensino-aprendizagem.

Movimentarte

O projeto Movimentarte, idealizado pela professora de dança Flora Bitancourt, tem o objetivo de promover a dança como fator importante no desenvolvimento das pessoas com deficiência. Para a professora, ao exercitar o corpo, o aluno exercita também a mente. “Estimulamos a criatividade, a expressividade, o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas, a sociabilização”, explica Flora, que revela também que a dança possibilita ao aluno deficiente um domínio maior de sua vida. “Ao dançar, a pessoa se aproxima dela mesma.”

As aulas acontecem semanalmente na ADID (Associação para o Desenvolvimento Integral do Down) para cerca de 30 alunos. A professora propõe uma dança expressiva e pede para eles “deixarem as articulações soltas”. Diversos estilos musicais, sobretudo brasileiros, estão presentes nas aulas: forró, maracatu, frevo.

“É uma forma de eles verbalizarem o que não conseguem através de palavras. Eles descarregam de um jeito que não é agressivo”, relata ao lembrar que a aula é um momento onde eles se sentem iguais e capazes de tudo.

Flora acredita que as terapias alternativas voltadas às pessoas com deficiência têm cada vez mais procura. “Existe um desacordo em torno da palavra inclusão. As pessoas não acreditam mais que ela se enquadre no momento atual, porque a inclusão pode também excluir, ao salientar a necessidade de tudo ser especial”, argumenta a professora. Segundo ela, a tendência é que o termo desapareça e as pessoas passem a enxergar os deficientes como pessoas comuns.

Olhar das Mãos

Esculturas, xilogravuras e máscaras decorativas produzidas por pessoas totalmente cegas ou com baixa visão. Essa é a proposta do projeto Olhar das Mãos, curso realizado no Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual).

O arte-educador Daniel Freitas passou quatro anos desenvolvendo o projeto. Ele, que também é deficiente visual, ressalta que o principal objetivo do curso é trabalhar o autoconhecimento através da arte. “Tentamos transformar as carências em potências”, declara Daniel.

Ele garante que os alunos se sentem seguros e acolhidos no ambiente. “Pensamos muito nas relações, justamente pela necessidade que as pessoas de baixa visão têm de compartilhar as informações.” Além disso, de acordo com Daniel, a arte permite o aprofundamento de temas como sexualidade e religião de forma mais leve e descontraída. “Tenho certeza que a arte é um caminho importantíssimo para a inclusão”, acredita.

Hoje são dez alunos, mas aproximadamente 70 pessoas já participaram do curso, que tem a duração de um ano e promove visitas à exposições de arte que acontecem em São Paulo, como na Pinacoteca do Estado e no Centro Cultural Caixa.

A autonomia também é estimulada no ateliê. “Não é porque os alunos têm deficiência visual que eles serão servidos”, conta Daniel. “Todo mundo limpa e organiza o espaço. Isso potencializa o cotidiano dessas pessoas”. Há inclusive alunos que conquistaram a própria autonomia e já produzem suas obras em casa.

Os resultados vão para além da arte em si. “A gente derruba muros a todo momento ao ajudar esses alunos a superar limitações, a perceber que essas limitações são, antes de tudo, colocadas por eles mesmos”, argumenta Daniel.

Alma de Batera

Em 2008, Paul Lafontaine cursava faculdade de pedagogia quando um professor sugeriu que ele desse aulas de bateria para quatro crianças com Síndrome de Down. “Já tinha desistido de dar aulas de bateria, mas abracei essa ideia”, conta Paul.

Foi assim que começou o projeto Alma de Batera, que oferece aulas do instrumento para pessoas com deficiência. Segundo Paul, a ideia não é simplesmente usar a música como terapia para essas pessoas, mas ensinar de fato conceitos básicos de música como ritmo, tempo e coordenação de membros. “Isso mexe com a autoestima deles”, reflete o baterista.

Ele relembra a história de um aluno que tinha deficiência física na mão esquerda e tinha autoestima muito baixa em relação aos outros alunos. “Depois de três meses de aulas, a mãe dele veio me dizer que ele começou a usar a mão esquerda cotidianamente”, comemora.

O Alma de Batera tem 21 alunos, e tem aulas semanais coletivas com duração de 1h30, onde ele trabalha exercícios de bateria e atividades pedagógicas. Segundo Paul, o próximo passo do projeto é conquistar um espaço para transformar em sede.

“No Brasil, as pessoas com deficiências são pouco valorizadas, assim como os profissionais que trabalham com eles”, lamenta. Para ele, a sociedade tira o direito dessas pessoas fazerem aulas de música, de arte, e são poucas as instituições que se especializam para pessoas com deficiência. “Podemos dizer que se faz a inclusão, mas isso não possibilita a eles evoluírem.”

Paul crê que a música faz parte da vida de qualquer ser humano. “Essa luta por inclusão não é fácil. Tem que realmente gostar do que faz e acreditar que dá pra chegar a resultados melhores, além de quebrar vários paradigmas e preconceitos que são da sociedade brasileira. E valorizar esses meninos, que têm uma paixão muito grande pela música”, finaliza.

Agenda

Neste sábado, dia 28/9, a partir das 11h, haverá uma apresentação dos alunos do projeto Alma de Batera com a participação de bateristas convidados. Ela acontecerá na sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, São Paulo – SP). A entrada é gratuita.

No dia 9/10 haverá uma palestra intitulada “A arte no desenvolvimento da pessoa com Síndrome de Down” com a participação dos projetos Movimentarte e Alma de Batera, além de Marcelo Galvão, diretor do filme Colegas, com atores com Síndrome de Down. O evento, gratuito, acontecerá no MAM (Museu de Arte Moderna), localizado no Parque do Ibirapuera, a partir das 19h.

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