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publicado dia 15 de outubro de 2013

A educação se faz na escuta constante do outro, defende educadora

por Jéssica Moreira, do Centro de Referências em Educação Integral

Educadora utiliza espaços públicos como elementos do processo pedagógico.

A frase “escola é lugar de aprender” nunca fez muito sentido para Valéria Pássaro, que aprendeu a ler e a escrever com as receitas de bolo da mãe e conheceu a história da cidade de São Paulo nos passeios de domingo com o pai. Envolvida com educação desde os 15 anos, Valéria reflete essa forma de aprender em sua forma de ensinar.

Coordenadora da Casa das Expedições desde 2005, Valéria desenvolve um trabalho diferenciado com os adolescentes em situação de vulnerabilidade, enxergando nos espaços públicos da cidade potenciais aliados ao processo pedagógico. Como atividade de aprendizagem, meninas e meninos realizam mapeamentos culturais e ambientais da cidade e têm a oportunidade de conhecer comunidades alternativas de outros estados, como quilombolas ou populações pesqueiras do Pantanal.

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Para a educadora, é preciso educar sem pré-julgamentos e entender que as crianças e adolescentes são os maiores educadores. “A educação se faz na escuta constante do outro, não na imposição. É preciso ouvir com todos os sentidos, pois a escuta não é somente pelo ouvido. É preciso escutar o ambiente e o que esses meninos e meninas estão dizendo com tudo que eles fazem. Porque eles não dizem só com palavras, mas com desenhos, com ironia e até mesmo com a agressividade”.

Seu primeiro contato com o universo da educação foi como ajudante de sala de uma pré-escola, aos 15 anos.  Suas ideias chamaram a atenção da direção escolar, que logo permitiu que ela se tornasse educadora de uma das turmas.  Durante quatro anos, inovou tanto as práticas de ensino, saindo com os estudantes para outros espaços ao redor da escola, que ao ser demitida, os pais dos estudantes convenceram a educadora a continuar lecionando para seus filhos na casa de uma das meninas da turma. “No primeiro mês eu tive medo. Mas depois eu relaxei e como a casa dela era próxima do parque, a nossa escola era o parque do Ibirapuera”.

Nessa época, nem Pedagogia do Oprimido ou qualquer outra obra de Paulo Freire faziam parte de seu acervo pessoal. Mas a experiência com a educação logo levou Valéria a ingressar no curso de Pedagogia.  Foi em um grupo de educação libertária que ela se aprofundou nos estudos. Junto a outros colegas, fundou uma creche que trazia os princípios da educação alternativa – projeto sustentado pelos próprios estudantes. “A gente fazia canga e todo fim de semana ia para a praia vendê-las”.

Mesmo não indo adiante, a experiência transformou a vida de Valéria que, mesmo deixando o curso de Pedagogia, não se afastou da educação social. Decidiu atuar como voluntária no Abrigo SOS Criança, em 1988, período em que o número de adolescentes em abrigos era sempre inconstante, já que eles eram obrigados a estar no espaço. “À noite, aconteciam os chamados arrastões, nos quais a cavalaria encurralava os meninos e os trazia para o abrigo”. Parte da comissão da Organização dos Advogados do Brasil (OAB) pelo direito à infância, Valéria colaborou também nas denúncias contra esses arrastões e violações. Ajudou na realização de um “arrastão lúdico” pelo centro no dia do arrastão da polícia militar. “Saímos pela Sé tocando música no meio da madrugada e jogando capoeira, mostrando que os meninos precisavam de outros meios de reabilitação”.

Mesmo após o fechamento da SOS, em 1990, estava claro para Valéria que seu melhor espaço de atuação era próximo às crianças em situação de rua ou de vulnerabilidade. Para ela, o diferencial sempre esteve em aprender com os adolescentes. Desde que saiu da SOS, passou por três organizações sociais até chegar no posto de coordenadora da Casa das Expedições, na zona norte de SP – trabalho que desenvolve enquanto também dá aulas de projetos políticos pedagógicos (PPP) para educadores de abrigos. Mesmo após vinte anos de sua primeira experiência como educadora, um de seus primeiros aprendizados continua valendo. Todo lugar é lugar de aprender e toda pessoa é capaz de ensinar.  “Ser educador é simplesmente estar e ser no mundo”.

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