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publicado dia 15 de outubro de 2013

X Bienal de Arquitetura propõe reflexão sobre os espaços urbanos

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Desde junho, a questão da mobilidade urbana tornou-se central no debate político do Brasil. Após as manifestações – que tomaram as ruas do país e revogaram o aumento da tarifa de ônibus em diversos municípios –, a possibilidade de um sistema racional de transporte público abriu portas para um debate mais amplo acerca do direito à cidade, que agrega à mobilidade outros temas urbanos como moradia, infraestrutura, trabalho, cultura e lazer.

A X Bienal de Arquitetura, organizada pelo IAB/SP (Instituto de Arquitetos do Brasil – Dep.  São Paulo) será realizada até o dia 1/12 em oito locais fixos: Centro Cultural São Paulo, SESC Pompéia, Centro Universitário Maria Antônia- USP, Museu da Casa Brasileira, MASP, Praça Victor Civita, Projeto Encontros – Metrô Paraíso e Associação Parque Minhocão.

Há também uma rede expandida de eventos, que inclui Casa de Francisca, Casa do Povo, Teatro Oficina, Galeria Choque Cultural, Cemitério do Araçá, Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, IAB/SP e Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. Clique aqui para obter mais informações sobre a programação da X Bienal.

Assim, com o aumento das reivindicações dentro da cidade, o número de atores envolvidos neste debate também cresceu. A X Bienal de Arquitetura, lançada no último sábado (12/10), propõe uma reflexão sobre a cidade contemporânea. Ao abrir mão do espaço tradicional do evento, no Parque do Ibirapuera, e espalhar exposições em diversos lugares – propiciando ao público uma experiência viva da cidade –, a X Bienal incorpora a mobilidade urbana em sua estrutura.


“O uso do espaço urbano é apropriação, é ressignificação – às vezes, transformação –, e isso está muito presente na Bienal”, afirmou o arquiteto e curador geral do evento, Guilherme Wisnik, em entrevista ao Portal Aprendiz. O texto de abertura da X Bienal expõe as dúvidas inerentes a esse processo: “De que modo temos nos envolvido na construção da cidadania e de uma desejada esfera pública no espaço urbano? Que modelos seguir em um momento de quebra de paradigmas globais? Que urbanidade queremos construir em um país que enfrenta o desafio de um acelerado crescimento econômico em meio a um mundo em crise?”.

Com a exposição em rede, a escolha dos locais seguiu dois critérios: a qualidade dos espaços na relação entre arquitetura e uso, além de seu significado histórico e simbólico para a cidade; e também a sua acessibilidade. Toda a Bienal poderá ser visitada a partir de um sistema articulado de transporte (ônibus, metrô e trem), integrando bicicletas de uso público para pequenos trechos.

Confira a seguir a entrevista com Guilherme Wisnik:

Portal Aprendiz – De que maneira a arquitetura pode ajudar na criação de novos espaços educadores em uma cidade?

Guilherme Wisnik – Acho que de fato a cidade educa, a educação não é só uma coisa formal que você recebe na escola, é um processo diário de vivência entre as pessoas, em diversas esferas e na interação com os espaços. Uma cidade mais democrática te educa mais. A cidade é coletiva, apesar da nossa febre de privatização, de tudo ser cercado, murado, ser fechado, privado, próprio, a natureza da cidade é ser coletiva.

Portal Aprendiz – Como renovar os espaços já existentes, como museus, parques, praças e incorporá-los ao processo de aprendizagem daqueles que habitam essa cidade?

Wisnik – O Brasil é um país com pouca cultura de esfera pública, de espaço público. As nossas cidades têm poucos, e os poucos que têm são fechados, são gradeados, abandonados, então eu acho que a gente está um momento histórico de mudar essa situação.

A nova praça Roosevelt, que nem é um projeto brilhante, é um exemplo interessante: só de liberar os acessos, conseguiu criar um espaço verdadeiramente público, um lugar que cria disputa, conflito. Ali você tem skatistas, os moradores que reclamam do barulho, os pais que levam as crianças, diversos públicos lutando por aquele espaço – é só no espaço público que isso acontece, esses conflitos positivos.

Portal Aprendiz – É cada vez mais comum, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, ver projetos de intervenção urbana por parte da própria sociedade. Seja na criação de ferramentas, apropriação de espaços, hortas urbanas, os bikers, são vários os exemplos que demonstram ser cada vez maior a necessidade das pessoas participarem da “construção” do lugar onde vivem. Como o senhor avalia esses movimentos?

Wisnik – Acho genial! A Bienal é toda baseada nisso. O título da Bienal é “Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar”. É a primeira vez, aqui no Brasil, que em uma exposição de arquitetura a gente inclui conteúdos que não são de projetos de arquitetos – que são os modos de fazer. Mas estamos entendendo que o modo de usar são igualmente importantes.

O uso dos espaços têm um caráter ativo, e não só passivo. O uso é apropriação, é ressignificação – às vezes, transformação – , e isso está muito presente na Bienal, na forma desses ativismos variados, e também na ênfase sobre como se usa os edifícios que são projetados por arquitetos.

Portal Aprendiz – O que as metrópoles, dividas em sua maioria entre centro e periferia, vão precisar fazer para garantir o direito à cidade a todos? Sob essa ótica, como o senhor avalia as manifestações que aconteceram em junho nas principais cidades do país?

Wisnik – As manifestações mostraram, pra surpresa de todos, que a sociedade brasileira está madura para enxergar na cidade o lugar de reivindicação dos seus direitos. É transporte público de qualidade sim, no chamado padrão Fifa, é o direito à mobilidade que garante uma vida mais digna na vida cotidiana no espaço urbano. Isso é novidade, a gente tinha muito pouca tradição de mobilização pública com essa consciência.

Desde o fim da ditadura, o Brasil tem uma forte tradição de movimentos sociais ligados à luta pela habitação, pelo direito à moradia, mas não tinha nada ligado à mobilidade, e  a essa ideia de mobilidade como espaço público e direito à cidade. Eu acho que isso é muito mais abrangente, isso é um bom sinal o fato de que as pessoas estão enxergando na cidade o lugar da verdadeira conquista.

Não é só no Brasil. Você vê isso acontecendo em Instambul, no Ocuppy Wall Street, na primavera Árabe. Isso tem acontecido em um contexto mundial amplo.

O trabalho “Fluxos”, do Nitsche Arquitetos, desenha um fluxo imaginário para a sinalização das ruas e apresenta os limites da cidade do automóvel.

Portal Aprendiz – Após episódios de violência, a escola municipal Campos Salles, localizada em Heliópolis, resolveu derrubar os muros que a separava da comunidade e virou exemplo de integração entre escola e comunidade, contribuindo para a melhoria na aprendizagem dos alunos. Como o senhor avalia  esse tipo de medida?

Wisnik – Isso é um sinal de que a sociedade brasileira está virando mais cordial. Seria muito bom que a educação pudesse ser permeada pela vida urbana, sem receios, sem medos. O modelo de educação da escola nova, do Anísio Teixeira, ainda é muito importante. No campo da arquitetura isso gerou as escolas-parque, que são referência no sentido de incluir a escola na vida da cidade.

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