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publicado dia 11 de setembro de 2014

Em Belo Horizonte, artista promove cafés a céu aberto para fortalecer laços comunitários

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Antigamente
O café num dava preço
Isso era no começo
No Brasil do Imperador
Mas hoje em dia
Tá na moeda, é nosso fraco
Quase todo mundo diz
Que o Brasil só é feliz
Se café tive valo
(Luiz Gonzaga)

Em tempos de predomínio do café expresso, tirado na máquina sob a pressão do dia a dia da cidade,  a artista plástica Thereza Portes tenta resgatar a tradição de se reunir para saborear o “bom e velho” café coado. Desde 2009, a calçada do Instituto Undió, uma organização sem fins lucrativos localizada no centro de Belo Horizonte, é ocupada por vizinhos, funcionários públicos, comerciantes e moradores de rua em busca de uma xícara de café.

“É uma iniciativa que, à primeira vista, causa confusão, pois tira a pessoa do ritmo apressado que a cidade lhe impõe, tendo a sua rotina interrompida por algo absolutamente cotidiano: sentar à mesa e coar um café. Tem caminhoneiro que desce do veículo pra tomar café com a gente, e motorista de ônibus que interrompe a loucura da sua rotina e pede um café para viagem.”

Café servido ao público em evento na PUC-MG.
Café servido ao público em evento na PUC-MG.

A calçada onde é servido o café pertence à casa onde nasceram Thereza e sua mãe. Com as memórias da infância ainda vivas, ela recorda dos tempos em que a avó recebia os parentes do interior e coava cafés para cada um deles, com carinho e sem pressa.

“Ao voltar para essa casa, me deparei com uma rua totalmente diferente. No lugar das casinhas, surgiram prédios e lojas. No lugar do córrego, asfalto. Quando eu menos vi, estava promovendo encontro de artistas e oferecendo café na rua para todos, assim como fazia a minha avó. Como se estivesse dentro da minha casa”, relembra Thereza.

Com o tempo, o evento foi se transformando em ponto de encontro e se tornou itinerante, com cafés sendo promovidos em mostras, festivais de cultura e comunidades. “A nossa mesa assume diversas formas e vai andando por vários lugares, compartilhando o cotidiano da cidade.

Xícaras: uma boa dose de memória

Ao longo dos anos, a mesa alcançou o tamanho de 10 metros e Thereza começou a receber xícaras doadas pelos frequentadores de seus cafés. “Cada um passou a levar sua xícara e contar histórias sobre ela. Surgiam memórias de famílias, de amores passados, de amizades, histórias engraçadas e dramáticas.” Ela recebeu doações de crianças, faxineiras e dezenas de pessoas que sabiam que Thereza faria bom uso das peças.

“Um homem idoso guardava uma xícara desde a infância. Tinha o desenho de um gatinho. Mesmo apegado ao objeto, ele me entregou. Um casal me deu uma xícara que comemorava suas bodas de bronze.”

Algumas das mais de mil xícaras doadas à Thereza.
Algumas das mais de mil xícaras doadas à Thereza.

Poético e inclusivo

A última mesa realizada por Thereza ocorreu durante a Virada Cultural da capital mineira, no final de agosto. Com cerca de 40 metros de extensão,  a chamada “Mesa de Thereza” se dividia entre bolos e pães, elaborados pela Escola de Panificação da prefeitura, e cafés, gentilmente coados por 20 voluntários.

A iniciativa, porém, acabou causando um prejuízo ao projeto. De acordo com os cálculos, quase 300 xícaras foram levadas pelos participantes. “Nunca tinha acontecido isso comigo. Normalmente eu saio de cafés com mais xícaras doadas. Dessa vez, foi o contrário”, lamenta Thereza. “É uma pena, pois essa coleção era um dos pontos mais bonitos do meu trabalho, cada xícara com a sua história, e não sobrou nenhuma.”

Desde o acontecimento, 60 novas xícaras já foram doadas. Aqueles que estiveram na Virada Cultural e levaram uma xícara por engano – ou aqueles que quiserem doar novas xícaras ao projeto – podem enviá-las para o endereço do Instituto Undió (rua Padre Belchior, 272 – Centro – Belo Horizonte/MG – CEP 30190-070).

“O nosso café é um ponto democrático. É um evento feito por todos, com a presença de moradores de rua, artistas, caminhoneiros, todo mundo que se encontra numa mesa para tomar café e conversar”, se orgulha Thereza. “É um espaço onde as pessoas podem ocupar e participar. Enfim, é um café poético e inclusivo.”

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