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publicado dia 19 de janeiro de 2015

“Caminhando com Tim Tim” e a importância de proporcionar liberdade para as crianças

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Todos os dias, o menino Valentim caminha até a casa da avó. O olhar vivo, o passo firme e o enorme carisma perante os outros moradores de Porto Alegre fazem com que o garoto de apenas um ano e cinco meses pareça um ilustre e antigo conhecido da região.

O trajeto, de apenas duas quadras, foi registrado em vídeo pelos pais da criança e alcançou sucesso ao mostrar Valentim conquistando seu espaço no mundo, sem medo de explorar a cidade em que vive, sem receio de cumprimentar as pessoas e distribuir sorrisos que alegram – mesmo que por pouco tempo – o dia daqueles que o recebem.

Produzida pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), que reúne especialistas de Harvard, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, a pesquisa “O impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem” mostra que as experiências ocorridas nessa fase da vida terão influência ao longo de toda a vida do indivíduo – seja na saúde, seja no seu bem estar social, emocional e cognitivo.

A filmagem, assistida por mais de 450 mil pessoas nas redes sociais, começa com a criança saindo à rua. “Para mim calçada, ferragem, mercadinho e chegou. Para Valentim, pedrinhas, árvores, pedras soltas que toda vez tira e coloca, a buscar encaixe, duas ruas atravessadas, poças d’água, pisoteia, alegra, refresca”, narra a mãe, Genifer Gerhardt, palhaça e bonequeira.

Em conversa com o Portal Aprendiz, a mãe de Valentim contou que a gravidez a fez confrontar-se com os seus medos, ansiedades e alegrias, e escrever sobre a maternidade passou a ser um meio de diálogo com o mundo. Um desses textos, Caminhando com Tim Tim, acabou inspirando o vídeo. “Escrevi das belezas que via em seus passos, seus encontros, sua leveza em interagir com as pessoas, com os detalhes e o caminhar”, revela Genifer.

 

Na sequência do vídeo, Valentim apresenta os seus quatro amigos – “estabelecidos por ele desde o início”. Conversa com seu João, flanelinha e morador de rua (quando ele está dormindo, Tim Tim passa “sussurrando, respeitando o sono do amigo”). Encontra com Jorge, manobrista do restaurante da esquina, faz carinho no gato do homem do mercadinho e desvia a rota para “conversar um pouco” com os três senhores do almoxarifado do hospital.

“Barriga da mãe, casa, cidade, estado, país e mundo. A morada dos indivíduos é aquilo que eles estabelecem dentro dos seus limites”, acredita o pai de Valentim, Tiago Expinho, que filmou e editou as cenas. “Estilhaçando a própria ideia de limite, a criança pode entender não só a cidade, mas este mesmo mundo como seu lugar de pertencimento – logo, seu lugar de zelo, descoberta, provação e provocação.”

Genifer e Valentim: abraço, amamentação, carinho e "Caminhando com Tim Tim" ao fundo.
Genifer e Valentim: abraço, amamentação, carinho e “Caminhando com Tim Tim” ao fundo.

Os pais de Valentim acreditam na potência existente no diálogo entre o indivíduo e a cidade. “O homem de terno apressado. O outro, deitado no chão. O outro homem que ainda é só uma criança, curioso e transformando cada árvore, semáforo, edifício em uma história só dele”, observa Expinho. “Este conflito entre existir e impregnar-se pelo que existe ao seu redor é um processo educativo e transformador para quem participa dele. Seja a cidade um agente ou uma concretude estática e estética.”

Além do sucesso nacional, “Caminhando com Tim Tim” agitou o bairro onde vive o garoto. “Aqui na rua, chamaram o seu João para assistir o vídeo em uma das casas da vizinhança. Ele ficou tão contente. O Jorge se disse feliz por “estar famoso” e contou que, quando liga da Bahia, a mãe sempre lhe pergunta: ‘já caminhaste com Tim Tim hoje?’”, revela Genifer.

De acordo com Genifer, a gravação do vídeo foi despretensiosa, o que tornou ainda mais surpreendente a sua grande repercussão. “Talvez tenha tocado tanta gente porque é simples e representa aquilo que deixamos para amanhã. Fala do parar e respirar, do ver sem pressa, do respeitar. Do amar sem preconceitos nem barreiras”, observa.

Valentim é valente e exemplo vivo de que, muitas vezes, o pouco tempo de vida não significa baixo conhecimento e sabedoria. As crianças têm muito a ensinar para jovens, adultos e idosos – e, quanto mais delas caminhando com liberdade, aproveitando os espaços públicos e interagindo com seus concidadãos, definitivamente a cidade será melhor.

Genifer concorda. “A gente é feito de instantes, detalhes, simplicidades e olás. Espero que tenhamos sempre os olhos e ouvidos atentos e cuidadosos para o que nos ensinam as crianças ao viver em campo de liberdade.”

A mãe de Valentim finaliza o vídeo refletindo sobre o aprendizado que a sua criança lhe transmite: “Valentim tem me ensinado sobre os caminhos, caminhares e destinos; que o chegar não é mais valioso que a andança; que o encontro é valioso e necessário.”

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