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publicado dia 27 de janeiro de 2015

Portuguesa usa o design para se comunicar com os avós que têm Alzheimer

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Há pelo menos 15 anos a portuguesa Rita Maldonado Branco convive com o Alzheimer. Desde quando seu avô paterno deu sinais de que os problemas de esquecimento não eram apenas pontuais – mais tarde a mesma coisa aconteceria com a avó materna –, Rita sente falta de se comunicar com eles como antigamente. A falta é tanta que usou seu conhecimento em design de comunicação para reativar os canais de troca com os avós.

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“O design de comunicação pode ajudar doentes de Alzheimer a comunicar melhor?” foi a pergunta que guiou o mestrado de Rita, realizado no Colégio de Arte e Design Central Saint Martins, em Londres. De volta à Portugal, ela deu início ao doutorado na Universidade do Porto que pretende criar ferramentas práticas de comunicação.

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Jogo de cartas criado para a avó estimula a memória.

Como a avó materna tinha dificuldade em reconhecer membros da família, Rita criou um jogo de cartas para “brincar com a árvore genealógica”. De um lado está a imagem/fotografia da pessoa e, de outro, uma breve descrição e o apelido pelo qual a avó tratava: Ritinha, por exemplo. Ao final do texto, uma pergunta remete para outra carta, criando assim um jogo.

Rita Maldonado Branco já apresentou seu projeto no Café Memória e considerou um ótimo espaço para desenvolver novas ideias. “Falei para os cuidadores e familiares observarem a pessoa com demência e alguma coisa que ela gosta de fazer e que ainda a entretém. A partir disso, pensar na história dela e criar pequenas estratégias de comunicação – que não precisam ser complexas, devem ser simples.”

O que fazer com o avô, que não gostava de cartas? Segundo Rita, fazia muito tempo que ele só respondia perguntas com “sim” ou “não”. “Também queria encontrar formas de ele rememorar a família”, revela. Pensando no gosto do avô por literatura – escreveu 14 livros –, Rita criou um livro da família: cada um escreveu uma breve apresentação de si mesmo, descrevendo atividades que vinha desenvolvendo e suscitando algumas memórias e costumes antigos. O resultado foi surpreendente: o avô se apegou muito à obra, e passou a tratá-lo como um retrato de sua vida.

“Todos esses trabalhos tiveram pensadas a tipografia e o layout. O livro tem um parágrafo por página e letra muito grande para facilitar a leitura”, afirma Rita, que lembrou de utilizar as letras de máquina de escrever, muito utilizada pelo avô. “Através da forma escrita e do livro conseguimos chegar até ele.”

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Avô adotou o livro feito pela neta como obra de sua vida.

A doença de Alzheimer causa uma deterioração progressiva e irreversível de funções cognitivas como memória, atenção, concentração, linguagem ou pensamento. Por conta disso, a avó de Rita – “uma excelente cozinheira” – não tinha mais capacidade nem para tarefas simples como pôr a mesa.

Rita não teve dúvidas: desenhou uma toalha de mesa com desenhos dos utensílios e a localização de cada um. “Ela conseguiu fazer a ligação visual entre os desenhos e os talheres e ficou feliz quando pôs a mesa sozinha. São ideias muito simples que funcionam bem”, observa.

 

Ela ressalta que, partindo de uma questão que lhe afetava diretamente, sempre teve o objetivo de ampliar os resultados para as famílias atingidas pelo mesmo problema. “Quando meus avós foram diagnosticados com Alzheimer ninguém sabia bem o que era. Hoje, vejo as coisas de outra forma: é importante haver mais informação para conseguir lidar com a pessoa com demência. Espero que possa ajudar um bocadinho nesse sentido”, projeta Rita.

“Quando há mais comunicação há mais articulação entre a família. Quanto mais projetos falarem dessa problemática de uma forma positiva, melhor”, finaliza.

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