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publicado dia 5 de março de 2015

Comunicação e educação contra a barbárie

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Fuzilamentos, degolações, imolações, decapitações. As imagens de execuções cometidas pelo Estado Islâmico transbordam covardia, violência, mal estar – sem corte na internet ou editadas no horário nobre da televisão.

Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e educador. É fundador do MEL (Media Education Lab) e autor do livro Idade Mídia: A Comunicação reinventada na Escola, publicado pela editora Aleph.

Perversão maior que o conteúdo  dos vídeos é o conhecimento aplicado por quem os fez. Repare: tudo é extremamente bem cuidado na filmagem. Cenários (um deserto maravilhoso, num plano ora aberto, ora fechado – o que sugere o uso de mais de uma câmera), figurinos (executados de laranja, executores de preto, covardemente com os rostos cobertos), fotografia (luz permite que se repare nos detalhes) e sobretudo a edição. Não são amadores – o som é “microfonado” e limpo,  e as imagens captadas em HD.

A propaganda nazista, considerando época e contexto histórico, não ficava muito atrás.

Como uma formação plena, laica e universal-  proposta pelo conceito ocidental de escola – pode lidar com desafios como esse, expostos diariamente a estudantes que os procurem assistir? Não há como lutar com garfos e colheres contra quem tem armamento pesado – seja ideologicamente ou na prática.  Contra a barbárie, a melhor arma pode ser uma comunicação autêntica e de qualidade feita pelos estudante com apoio da escola.

É atenta a essa questão que a UNESCO tem trabalhado em uma rede mundial para estimular e debater a produção de comunicação no espaço escolar. Produzindo  uma comunicação de qualidade é possível identificar os códigos, léxico e conteúdos capazes de sustentar uma ideologia – ou uma insanidade.

O termo MIL (Media Information Literacy), utilizado em escala global pela organização, mistura dois conceitos que deveriam andar mais próximos – o da “alfabetização para a mídia” ou “educomunicação” e o da “alfabetização para a informação”, oriunda das ciências da Biblioteconomia. Se lembrarmos que o algoritmo por trás do Facebook é responsável pela publicação do que mais um bilhão de pessoas leem diariamente fica mais evidente essa proximidade de campos.

Contra a barbárie, a melhor arma pode ser uma comunicação autêntica e de qualidade feita pelos estudante com apoio da escola.

Em dezembro passado, na Cidade do México, uma aliança entre a UNESCO, Universidade Autônoma do México e Universidade Autônoma de Barcelona realizou um amplo Fórum de debates e o lançamento do capítulo latino-americano da rede de MIL.  A carta do México, com as conclusões do evento, será lançada em breve.

Uma escola, seja ela pública ou privada,  que se diz atenta à formação para a autonomia do estudante não pode deixar de fora de seu espectro a comunicação, como habilidade necessária ou como alfabetização na leitura do mundo contemporâneo.

O EI dá uma lição na mídia de massa : no mundo de hoje, não há mais espaço para “glamurizarmos” nossa incompetência em comunicar, justificada por falta de recursos. Todos somos produtores de conteúdo e forma – insignificantes, brilhantes ou mesmo desumanos.

 

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