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publicado dia 13 de maio de 2015

Polo de cultura independente, Casa das Caldeiras valoriza relação dos artistas com a cidade

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Erguida na década de 1920, a imponente Casa das Caldeiras é um símbolo da São Paulo industrial, com seus tijolos e chaminés pulsando a memória viva do período em que a cidade se transformou em metrópole.

Na década de 90, o mesmo nome foi utilizado em empreendimentos vizinhos à construção original da família Matarazzo sob a alcunha de “comercial” e “residencial” – mais uma vez evidenciando as rápidas mudanças que acometem a capital paulista.

Mas uma cidade que se preze não é feita apenas de indústria, comércio e residência. Há exatos 10 anos, em 2005, surgia a Associação Cultural Casa das Caldeiras (ACCC), com a pretensão de abrir as portas da antiga indústria, tombada em 1986, para ocupações artísticas e culturais, desde que baseadas no trinômio arte, patrimônio e território.

O projeto “Olhares entre Caldeiras” Le Projet from corrosivo on Vimeo.

A antiga fábrica sedia hoje o programa Obras em Construção, que acompanha a realização de projetos e viabiliza espaços de residências artísticas – até agora foram mais de 200 participantes. A ACCC disponibiliza acompanhamento logístico, administrativo e de estruturação, além de fomentar um contexto de troca de conhecimentos, impressões e métodos entre os artistas residentes.

Já passaram pelo TODODOMINGO projetos como o Instituto Feira Preta, os festivais Órbita e Expresso Jazz São Paulo e as festas Voodoohop, For Fun Party e Calefação Tropicaos.

O espaço da Casa das Caldeiras também é sede do projeto TODODOMINGO que, como o nome revela, propõe encontros semanais, gratuitos e abertos ao público, baseados em atividades lúdicas, performances, espetáculos, oficinas, ciclos de palestras e seminários, rodas de conversa e pesquisa sobre o patrimônio. A ideia é abarcar diferentes formas de expressão da cultura urbana, como grafite e hip hop, e colaborar para a divulgação de produções independentes.

“Todo espaço tem uma função. Qual a nossa?”, pergunta-se Joel Borges, diretor de projetos e produtor cultural da ACCC. “Um lugar onde os artistas possam realizar um trabalho que não resulte apenas em ter seu nome divulgado no catálogo do projeto, ou somente criar e mostrar sua obra: é justamente a interação dessa obra com a cidade, a relação afetiva com a memória coletiva que nos interessa.”

No início do século 20, Parque Matarazzo ajudou a desenvolver a indústria em São Paulo.
No início do século 20, Parque Matarazzo ajudou a desenvolver a indústria em São Paulo.

A curadoria busca projetos que se estendam pela cidade, onde os artistas possam se inspirar e trocar conhecimentos com a sua comunidade. Karina Saccomanno, diretora geral da Associação, deixa claro que não há espaço para projetos “ensimesmados”. “O território não precisa ser só a vizinhança da Casa das Caldeiras; território é o da afetividade, os artistas que vão nas suas comunidades e têm vontade de partilhar o processo criativo e experimentar com os outros”, afirma.

No final de abril, o espaço tornou-se o mais novo Ponto de Cultura de São Paulo, através do programa Obras em Construção, que em março selecionou novos artistas para trabalhar com a ACCC até dezembro.

O TODODOMINGO, contudo, encontra-se em um período sabático. “Muitas coisas vêm acontecendo na sociedade brasileira. Estamos preocupados com isso e decidimos parar por um tempo para repensar novas fórmulas, como induzir a participação de novas comunidades, normalmente periféricas, que fazem milhões de coisas fabulosas e têm ideias incríveis, mas não têm oportunidade de comunicar esse trabalho”, defende Joel. Uma dessas aproximações será com o coletivo Nós, Mulheres da Periferia, formado por mulheres que vivenciam o universo feminino em bairros periféricos de São Paulo.

Hoje, espaço funciona como um polo cultural que abriu as portas para a população.
Hoje, espaço funciona como um polo cultural que abriu as portas para a população.

Para Joel, falta intercâmbio entre os espaços que fazem parte do corredor cultural da zona oeste de São Paulo: Teatro São Pedro, Memorial da América Latina, Casa das Caldeiras, Sesc Pompéia, Tendal da Lapa e Estação Ciência. Enquanto pipocam novos empreendimentos na região, nenhuma nova estrutura foi construída para esses equipamentos. “A especulação imobiliária nunca vai além do que eles poderiam ir, é o lucro pelo lucro. Esses espaços estão sempre lotados de gente buscando cultura, conhecimento e educação, mas está paralisado em termos de novas estruturas e iniciativas. Isso é dramático.”

A Casa das Caldeiras também sedia eventos sociais, como casamentos e festas particulares. “Também têm a sua importância para a Casa, pois fortalece a noção de patrimônio restaurado na cidade, em plena forma. É muito bacana ver esse eixo se cruzando com os eventos independentes”, acredita o produtor. “Não adianta ter um espaço lindo e maravilhoso, com uma história incrível, que funcione só para uma certa forma de socialização. Se não pulsa como a cidade, não serve para absolutamente nada.”

Karina, que é arquiteta e trabalha no local desde 1998, quando foi realizada uma restauração na antiga fábrica, revela que a intenção da ACCC sempre foi fortalecer a verve cultural que o espaço traz para a cidade. “O que a gente faz pode não ser reconhecido imediatamente, mas enxergamos que tem sentido construir isso aqui dentro.”

A julgar pelo próprio entorno da Casa das Caldeiras – onde nos últimos anos foram levantados o Shopping Bourbon, o Jardim das Perdizes e a Arena Parque –, Karina crê que a ACCC virou um espaço de resistência no meio desse turbilhão. “Estamos valorizando a relação da pessoa com a cidade”, finaliza.

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