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publicado dia 19 de maio de 2015

Professor organiza passeios no centro de São Paulo e propõe aprendizado na cidade

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Parados na única sombra que há na esquina do Viaduto do Chá com a rua Líbero Badaró, os participantes do projeto Diversampa ensaiam cantos à capela quando, de repente, são surpreendidos por  sem-tetos, ocupantes de um dos prédios da Praça do Patriarca. Eles querem participar do passeio pelo centro histórico de São Paulo, contar histórias ou ao menos tirar uma foto com o grupo.

“Transformador” é a palavra utilizada por Paulo Castagna para definir o Diversampa. Professor do Instituto de Artes da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e pesquisador de musicologia, ele reuniu seus orientandos e outros professores da instituição para apresentar as inúmeras faces do centro antigo aos interessados em conhecer a história da capital paulista.

“Muitos paulistanos que passeiam conosco não conhecem a cidade, nem a geografia do centro histórico”, observa Paulo. “Como se fosse um lugar qualquer, sem importância. A vida moderna nos coloca como estrangeiros na cidade em que vivemos.”

Apesar de existir desde 2013, o passeio funciona de maneira experimental, sem uma frequência definida. Em cerca de quatro horas, o Diversampa – totalmente livre e gratuito – percorre as regiões da Sé e do Vale do Anhangabaú. Para o musicólogo, a rua é uma fonte de informação e conhecimento enorme e, por isso, funciona como um espaço de aprendizagem extraordinário.

“A VIDA MODERNA NOS COLOCA COMO ESTRANGEIROS NA CIDADE EM QUE VIVEMOS”

“Dentro da sala, os estudantes chegam com a crença de que o mundo foi criado com uniformidade, gerando a ilusão de que a vida é uma única tendência a ser seguida. A rua chega para quebrar esse tabu e mostrar que o mundo é feito de diversidade”, afirma. Ele revela que, se pudesse, faria o Diversampa semanalmente.

“Você está em um espaço vivo, que não é fixo. As pessoas passam, os lugares estão abertos ou fechados, depende do dia, da hora. É totalmente diferente da sala de aula, pois é um espaço de realidade”, emenda.

Público em frente à Torre Banespa.
Público em frente à Torre Banespa.

Ao ar livre

“A rua é uma sala de aula tão eficiente quanto a da escola. Não é à toa que Aristóteles e Platão davam aulas ao ar livre: valorizavam o contato com a realidade. Na rua, eu posso olhar em uma direção e o aluno para o lado oposto, levantando uma questão que não estou vendo, pois está atrás de mim”, aponta o musicólogo.

É claro que as transformações que acontecem na região central de São Paulo não poderiam ficar de fora da atividade. O redesenho do espaço urbano no século 20 e o impacto que um novo modelo de vida e trabalho causou na dinâmica da cidade são debatidos na caminhada. “Sempre insisto que as modificações foram resultados de pessoas tentando resolver os seus problemas, sem pensar nas questões de outras comunidades. As mudanças da cidade não são aleatórias, apesar do costume de pensar que são impensadas. Pelo contrário: elas são resultados de ações e reflexões”, argumenta.

Aos participantes, o musicólogo conta a história de uma antiga igreja localizada na Praça Antônio Prado (em frente ao Edifício Altino Arantes, a Torre do Banespa), demolida no final do século 19 por interesse da elite econômica, mas contra a vontade da comunidade negra que frequentava o espaço. No fim do processo, a igreja foi transferida para o Largo do Paissandu. “Foi uma mudança que só interessava a uma classe. Em geral as pessoas não sabem disso, concebendo o espaço urbano como aleatório e sem nada de interessante, sem história, útil apenas para fazer compras”, reflete. “A caminhada reverte essa situação e faz as pessoas entenderem que aquele lugar tem história e conflito”.

Além do processo histórico, o passeio levanta as diversidades que habitam o centro: cultural, arquitetônica, artística e até mesmo sonora. Quando começa no Largo São Bento, por exemplo, é possível ouvir um canto gregoriano ao fundo. “Também tem um grupo de música caipira do lado de fora”, lembra Paulo. Pagode, axé, sertanejo e rock são alguns dos estilos que sempre aparecem durante o trajeto. Isso sem contar os incontáveis artistas de rua que trabalham na região. “No centro, a prática musical também é diversa.”

A próxima edição do Diversampa acontecerá em setembro, durante um simpósio internacional na Unesp. Entre os organizadores, existe o desejo de expandir o projeto para outras cidades, como Santos e São Vicente. “Na medida em que formos solidificando o Diversampa, ele crescerá naturalmente”, projeta.

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