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publicado dia 19 de agosto de 2015

Educação patrimonial de Londrina cria roteiros de aprendizagem no espaço urbano

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A cidade de Londrina, maior município do interior do Paraná, completou 80 anos de existência em 2014. Muito pouco se comparado à cidade mais velha do país – São Vicente hoje conta 483 anos – e até mesmo à capital paranaense – Curitiba foi fundada em 1693, ou seja, há 322 anos. Mas, como diria o escritor colombiano Gabriel García Márquez no livro Memórias de minhas putas tristes, idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente. E Londrina parece ter muito mais do que apenas oito décadas.

Tanto é verdade que o patrimônio material londrinense é reconhecido pela relevância cultural: teatros, auditórios, museus, bibliotecas, parques, praças públicas (eram 241 em 2003), florestas, lagos, cinemas, estádios de futebol e templos religiosos. Isso sem contar os quase oito milhões de m² de área verde presentes na cidade – ou 14 m² para cada um dos 543 mil habitantes, numero superior ao que é recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Sabendo da potência que existe em uma cidade recheada de espaços a serem explorados pelos seus cidadãos, há dez anos surgiu o projeto Educação Patrimonial de Londrina, aprovado e patrocinado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC), da prefeitura local, que visa a promoção de ações educacionais e culturais aos londrinenses.

Projeto leva a educação patrimonial para a cidade de Londrina.
Uma das muitas praças públicas de Londrina.

Cursos de formação para professores, oficinas para estudantes de escolas públicas e privadas e criação de roteiros a serem feitos a pé pela cidade – foi nessa tríade que o projeto inicialmente se sustentou. Em 2005, um curso de capacitação que reuniu docentes, servidores municipais, pesquisadores e profissionais de áreas relacionadas ao Patrimônio resultou na trilha “Aventura Urbana”, passeio educativo realizado no centro histórico da cidade. Locação de ônibus para o transporte de grupos das mais variadas regiões incluíram na “Aventura” pessoas de terceira idade e de projetos de inclusão social.

“O projeto sempre teve a perspectiva de promover o conhecimento, o reconhecimento e a preservação do patrimônio histórico-cultural londrinense”, afirma Vanda de Moraes, diretora de Patrimônio Histórico-Cultural da Secretaria Municipal de Cultura. Para além do passeio “Aventura Urbana”, diversos roteiros já foram criados pelo projeto: um sobre diversidade religiosa, outro acerca de escolas, um que percorre os museus da cidade e outro sobre a rua Sergipe, importante via histórica de Londrina.

Os trajetos não abarcam somente o patrimônio arquitetônico: no passeio que envolve os templos e igrejas, questões relativas à tolerância e ao respeito à diversidade religiosa marcam presença. Até hoje, o projeto atendeu oito escolas públicas, atingindo cerca de 400 estudantes. Por ano, os cursos de formação têm a presença de aproximadamente 100 pessoas.

Projeto leva a educação patrimonial para a cidade de Londrina.
Centro Comercial de Londrina é uma das obras mais chamativas da cidade.

Vanda pontua que o projeto está de acordo com as definições do Plano Diretor de Preservação do Patrimônio Cultural de Londrina e tem sido decisivo no desenvolvimento de ações que norteiam a criação de políticas públicas de preservação cultural, como a aprovação em 2011 de uma lei que trata do tema e a constituição do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural da cidade (COMPAC), em 2014.

O impacto do projeto foi tão grande que a Secretaria de Educação adotou a Educação Patrimonial como um eixo transversal do currículo, ação que vem sendo seguida também por escolas privadas. De acordo com Vanda, quando levado diretamente a crianças e adolescentes, o conteúdo patrimonial desperta o interesse para seus bairros, escolas e histórias de família. “O conceito de patrimônio traz em si a questão do pertencimento, e se pertencemos à cidade e ela nos pertence, toda ela é palco de nossa vivência, aprendizado e também ensinamentos.”

Exemplo disso aconteceu no Colégio Londrinense, onde em 2013 uma feira de cultura e ciências incentivou os estudantes a pesquisarem sobre a história da instituição e, por consequência, da cidade. “No início, levamos o aluno a entender o seu patrimônio histórico pessoal, fazendo um registro de sua própria história e mostrando como ele pode intervir na história local”, relata Ieda Alves, diretora pedagógica do colégio. “Muitos alunos são netos de fundadores da cidade e conheceram a história de sua própria família e sua influência na construção de Londrina.”

Não existe preservação do patrimônio cultural se não houver uso

Ieda acredita que atividades com esse intuito fortalecem a noção de tempo e espaço de meninos e meninas, fator essencial para o processo pedagógico. “Desenvolvemos a capacidade do aluno entender o seu momento e pensar no que ele pode fazer para interferir no seu local de vida.”

Projeto leva a educação patrimonial para a cidade de Londrina.
Percepção de uma criança sobre a rua Sergipe.

O projeto produziu ainda material didático e bibliográfico, jogos e livros infantis que foram distribuídos nas escolas públicas e particulares de Londrina, além de bibliotecas e pesquisadores da área. Também venceu duas premiações: o Prêmio Rodrigo de Melo Franco de Andrade, em 2010, e o Prêmio JL Nossa Gente, em 2014.

Realizada em 2008, a ação “Histórias de Nosso Pedaço”, através de uma parceria com o Museu Histórico Padre Carlos Weiss, utilizou banners com fotos antigas para representar fatos históricos relacionados aos bairros onde aconteciam as oficinas em escolas públicas. Segundo Leandro Henrique Magalhães, coordenador do projeto, iniciativas como essa fortalecem a identidade cultural, individual e coletiva, valorizando a autoestima da comunidade local.

Para Magalhães, a apropriação desses espaços pela população é um dos principais resultados do projeto. “É necessário que façamos uso desse patrimônio para que ele se mantenha significativo às populações futuras”, observa. “Não adianta pensarmos em preservação do patrimônio cultural se o cidadão não se apropriar desse patrimônio e entender que ele é seu e faz parte de sua identidade.”

Ele afirma que o projeto Educação Patrimonial de Londrina está muito próximo daquilo que acredita ser uma Cidade Educadora. “Acreditamos que a cidade possui espaços significativos para a aprendizagem, sendo necessário apenas um olhar diferenciado sobre ela. E o patrimônio cultural está inserido na nossa cidade. Não existe preservação do patrimônio cultural se não houver uso. E o não uso leva ao abandono”, conclui o coordenador.

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