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publicado dia 10 de dezembro de 2015

Comunidade se une para combater violência policial contra jovens no Grajaú

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Em maio deste ano, o adolescente Lucas Custódio dos Santos foi assassinado por agentes da Polícia Militar em um terreno baldio da Favela do Sucupira, na região do Grajaú, extremo sul de São Paulo. Dudinha, como era conhecido, tinha a pele escura e apenas 16 anos. Quando voltava de um jogo de futebol, levou um tiro na perna e, assustado, tentou fugir. Testemunhas afirmam que policiais dispararam outras cinco vezes contra o jovem.

A brutalidade com que adolescentes – em sua maioria absoluta pretos, pobres e periféricos – são tratados pelas forças de segurança no Brasil e, especificamente, no Grajaú, foi o tema de um painel de diálogo sobre a violência letal que acomete essa parcela da população, realizada no CEU Navegantes nesta quarta-feira (9/12), como parte da programação do 3º Festival de Direitos Humanos – Cidadania nas Ruas.

No evento, moradores da comunidade, coletivos, movimentos organizados e representantes do poder público se reuniram para debater e encaminhar propostas concretas de enfrentamento à questão. Segundo dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-Aim), da Prefeitura de São Paulo, em 2014 aproximadamente dois jovens são assassinados a cada dia (706 no total). A Unicef trabalha com a estatística de que 28 crianças e adolescentes são assassinadas por dia em todo o Brasil.

Futuro interrompido Janaína, Nelcilene e Lucimara perderam seus filhos para a violência.A cada dia, 28 crianças e adolescentes são assassinados no Brasil. Outras mães não precisam passar pelo mesmo sofrimento.#ConsciênciaNegra

Posted by UNICEF Brasil on Sexta, 20 de novembro de 2015

A terceira edição do Festival de Direitos Humanos promove na sexta-feira (11/12) um seminário que apresentará estudo inédito da Prefeitura de São Paulo sobre o impacto da mortalidade juvenil na cidade. Das 9h às 18h, na Faculdade de Direito da USP.

 

De acordo com a exposição de Breno Souza, da Coordenação de Epidemiologia e Informação da Secretaria Municipal de Saúde, se na capital paulista a taxa de mortalidade da população masculina entre 15 e 29 anos é de 47,6 pessoas a cada 100 mil, no Grajaú – uma das áreas mais populosas da cidade – este número atinge 65,8 mortes para cada 100 mil habitantes.

Apenas em 2012, segundo Souza, 67 jovens foram assassinados no distrito da Capela do Socorro, onde se encontra o Grajaú. “E olha que temos acesso à números subnotificados, pois não conseguimos firmar diálogo com a Secretaria de Segurança Pública. Se tivéssemos acesso aos boletins de ocorrência, certamente esses números seriam maiores.”

Painel de diálogo sobre a violência letal que acomete jovens negros e periféricos reuniu comunidade, movimentos sociais e coletivos da região.

Analisando estes dados, Maria Adrião, da Unicef, observou que “se botarmos uma lupa neles, confirmamos que a maioria dos casos de homicídios são de jovens negros e moradores de periferia”. Para ela, o objetivo do painel deveria ser a produção de um documento conjunto que balize a organização dos presentes enquanto rede “para enfrentar essa situação”.

Estudantes que ocupam escolas estaduais em São Paulo também estavam presentes no encontro. Gabriel, que ocupou a EE Tancredo Neves, afirmou que as autoridades públicas “são nossos funcionários, pois pagamos impostos, e não o contrário. Não são eles que mandam em nós.” Para Paulo, da EE Prisciliana de Almeida, “mostramos que os jovens têm a capacidade de mudar. Temos que usar esse poder da melhor forma possível para que ocorram mais ocupações e o pessoal se engaje ainda mais na luta pela educação.”

Para Flariston da Silva, coordenador de políticas para crianças e adolescentes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), “não podemos mais nos conformar que a cada dia jovens são exterminados no Brasil”. Ele lembrou a mobilização dos estudantes contra a reorganização do ensino no estado de São Paulo. “Se queriam piorar a educação e os jovens disseram ‘aqui ninguém põe a mão porque a escola é nossa’, será que não podemos fazer isso com a nossa vida? Chega de matar nossos irmãos”, exclamou.

“O assassinato da população pobre, preta e periférica não é algo acidental”, pontuou Fuca, representante do Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra de São Paulo. “Trata-se de dizimar um certo grupo étnico e social em um processo muito bem estruturado pelo estado.” Ele afirma que a ideia de que existe democracia racial no Brasil “não passa de balela”. “Existe uma desigualdade social baseada na raça que estrutura a nossa sociedade. Toda essa a política de violência é baseada na questão de estereótipos e preconceitos, que também são uma questão de poder.”

Ao final do encontro, os moradores e organizações presentes se comprometeram a produzir até a próxima semana um documento com tudo o que foi discutido ali, a ser encaminhado para a SMDHC. “A ideia é dar encaminhamento à essas ações do território, que precisam ter fortalecimento e visibilidade”, afirmou um representante da Plataforma de Centros Urbanos.

Painel de diálogo sobre a violência letal que acomete jovens negros e periféricos reuniu comunidade, movimentos sociais e coletivos da região.

As pinturas na rua do CEU Navegantes foram realizadas pelo grupo Voluntários da Vida no dia do evento.

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