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publicado dia 28 de janeiro de 2016

Cultura tem papel fundamental na integração entre escola e território

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“É, de tédio a gente não morre.” Foi assim que Marília De Santis, gestora do Centro Educacional Unificado (CEU) Heliópolis, inaugurado em abril do ano passado, começou sua intervenção no evento “Encontros da Cultura: Arte e Educação”, promovido pela Representação do Ministério da Cultura (Minc) de São Paulo e pela Funarte, na noite desta quarta-feira (27/1) na capital paulista. A fala de Marília, presente à plateia da roda de conversa, sublinhou as intervenções de fôlego da noite sobre os caminhos da arte, educação e cultura no país hoje.

“É tanta coisa acontecendo hoje”, continuou, “na cidade, no país e no mundo, que não dá pra falar de educação sem falar de cultura”. Marília é corresponsável pela gestão do conjunto de equipamentos que compõem o CEU Heliópolis, cravado em uma comunidade que, após longos anos de movimentação social por direitos básicos, hoje se reconhece como Bairro Educador.

“A cidade precisa de artistas, educadores e arte-educadores, enfim, de gente com alma para realizar isso que a gente sonha”, relatou a também educadora, enquanto comentava que, naquele momento, estudantes, professores, educadores e a comunidade de Heliopólis estavam reunidos para discutir a programação cultural do final de semana na região. “É assim que se faz articulação e educação cultural de verdade”, provocou.

Eufra começou sua fala com um cordel.
Eufra começou sua fala com um cordel.

Marília interveio após os palestrantes Vera Santana, coordenadora da ONG Terramar, de Natal (RN); Val Lima, coordenadora do Programa de Iniciação Artística (PIÁ) da Prefeitura de São Paulo e do projeto Poronga; Eufra Modesto, cantador e compositor que leva adiante o projeto Folclorinho; e o arte-educador, Celso Rabetti, fazerem suas considerações iniciais e contarem um pouco sobre os projetos que desenvolvem.

Na abertura, Juana Nunes, Secretária de Educação e Formação Artística e Cultural (Sefac) do Minc, explicou, por vídeo-conferência, a ligação entre os projetos da pasta com o Ministério da Educação. Para ela, a política de cultura brasileira tem que estar intimamente ligada à educação, de modo que as crianças do país tenham o direito de participar da cultura brasileira respeitado desde a primeira infância.

“A escola é o espaço e o equipamento público mais capilarizado do país. É, portanto, um espaço privilegiado para atuação de artistas e para o desenvolvimento pleno de nosso projeto de Brasil”, declarou a gestora, responsável por levar o programa Mais Cultura nas Escolas para 5 mil unidades de ensino do país.  Para ela, a educação integral é estratégica para garantir essa conexão.

“A importância que a cultura joga nisso, de integrar a escola com seu território, de valorizar os saberes dos mestres, o espaço dos bairros, de colocar tudo isso em diálogo com o projeto político pedagógico, é enorme.”

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Vera Santana, que leva adiante o Conexão Felipe Camarão, em um dos bairros mais vulneráveis de Natal (RN), acredita que é impossível ser professor no Brasil sem entender a cultura do país. “Nós sabemos que a arte e a cultura não vão salvar nada. Elas podem transformar, mas antes delas, temos que transformar a educação em algo mais humano e próximo das pessoas. Algo que olhe para o prazer, que não engesse os estudantes e os educadores.”

De canto em canto

“A cultura é uma ferramenta, não uma obrigação”, disparou Eufra Modesto, enquanto explicava a iniciativa que desenvolve em Várzea Paulista, Campo Limpo e Jundiaí, chamada Folclorinho. Nele, cantigas antigas, cordéis e cantorias são ensinadas para as crianças, que são instigadas a dividir com suas famílias. A canção passada adiante acaba por despertar velhas lembranças nos pais e avós e aprofunda os laços comunitários com a escola.

Ele revelou que, em um episódio recente, quando chegou em uma escola, encontrou 150 avós e 150 netinhas e netinhos cantando a cantiga “Índia”, aprendida pelas crianças no projeto. A articulação gerada pela canção redundou em piqueniques e encontros mensais. “Esses encontros trazem ainda mais atividades, cantigas de roda, cordéis, poesias e cantigas matutas. O fazer cultural, a mudança que a gente precisa, é nessa ação, na atitude. No momento em que o educador recebe a ferramenta da cultura popular, esse material vira um encantamento”, defende.

A formação, inclusive, pode vir em plena ação educativa. Pelo menos é isso que a experiências do PIÁ, nas periferias paulistanas, têm mostrado. Inspirado nas metodologias da Escola Municipal de Educação Artística (EMIA), o programa leva quatro artistas, de diferentes linguagens, para desenvolverem trabalhos em turma. É um projeto que é diferente em cada espaço e com cada conjunto de artistas, que vão se formando como educadores no processo.

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Ela conta que, atrás do CEU Jaçanã, onde uma turma do PIÁ se formou, havia um rio. Ele foi tema do trabalho dos artistas, que resolveram trabalhar as miudezas do local. Descobriram que Jaçanã era uma ave e deram um ovo de vidro para as crianças levarem para casa e “incubarem poéticas”, em um processo de criação de narrativas naquela região. Um pente enterrado na várzea do córrego também foi material de intervenções, que redundaram numa exposição fotográfica, mostrando que o território, para olhos atentos, é pleno de oportunidades artísticas e educativas.

Existir é resistir

Val também participa do Poronga, um centro de formação em arte-educação social em São Paulo, que desenvolve diversas linguagens artísticas com educadores que atuam em projetos sociais de ONGs ou na rede regular de ensino. O projeto privilegia a participação de homens e mulheres negras sem escolaridade para criar turmas diversas e com incidência social.

“Para mim, isso demonstra uma grande coerência sobre que mundo queremos transformar e como. Quantos professores e professoras negras você teve?”, questiona Val, que ressalta a importância de trabalhar com pessoas que sejam “subversivas apenas por resistirem em existir”, e com linguagens e artes não hegemônicas. “É muito forte você trabalhar com arte indígena e negra, criar processos de horizontalidade e mudar olhares. Você amplia sua perspectiva sobre o mundo de uma maneira intensa”, completa.

Os “Encontros da Cultura” irão seguir ao longo desse ano, sempre na última quarta-feira do mês. Saiba mais pela página do Facebook da Funarte-SP.

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