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publicado dia 26 de fevereiro de 2016

Em Perus, artistas dão vida a prédio abandonado com ocupação cultural

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Por Jéssica Moreira

Era uma vez um prédio cinza, de vidros quebrados e com muito mato ao redor. Os moradores não passavam mais em frente e as crianças não brincavam por ali. Mas uma ação de diversos coletivos culturais do bairro de Perus (região noroeste de SP), intitulada Ocupação Artística Canhoba (nome da rua), deu uma nova cara ao local no último sábado (20).

Reunidos em mutirão, artistas tornaram-se pedreiros, jardineiros e pintores. O salão de cabeleireiros ao lado era o ponto de conexão com o wi-fi. O vidraceiro do fim da rua se prontificou a cortar os vidros para preencher a janela. No fim do dia, a fachada antes sem cor, já dava lugar ao grafite, e as crianças se aproximavam curiosas, chamando, a cada dia, outras delas para participar das atividades.

Comunidade colocou a mão na massa para reavivar o espaço.
Comunidade colocou a mão na massa para reavivar o espaço.

Abandonado pelo poder público municipal desde 2010, o que era para ser um espaço de leitura para as crianças, afastou-as ainda mais. O prédio virou ponto de drogas e itens roubados.  Durante a consulta aos moradores, os artistas detectaram uma demanda de lazer e arte muito grande, dado o número de crianças presentes na vizinhança.

“Estamos muito felizes com o retorno da população, que a cada dia tem se mostrado mais interessada e solidária com a revitalização do espaço, seja  comparecendo às atividades ou na doação de diversas coisas para o espaço, como água ou emprestando a geladeira”, aponta Thalita, estudante de arquitetura e atriz do Grupo Pandora de Teatro, organizador da ação junto aos outros coletivos.

Eliu Camargo mora na Rua Canhoba há quase quinze anos. “Esse local é muito bom, mas nós não temos nada para se divertir. A molecada fica presa dentro de casa pois não tem uma área própria. É um lugar esquecido pela prefeitura”, apontou o morador.

Segundo Thalita, o maior desafio tem sido manter uma programação cultural enquanto o espaço é reformado. “A falta de água, assim como instalações sanitárias mais adequadas e a falta de luz ainda são um problema, mas a ideia é termos um cronograma de atividades contínuas, com oficinas, ensaios e apresentações.”

A organização da ocupação está em diálogo direto com o poder público, por meio da coordenação de cultura da Subprefeitura de Perus, assim também com a Secretaria Municipal de Cultura da cidade. Em nenhum momento a polícia apareceu no local.

Artistas em rede

A ideia da ocupação surgiu durante um curso de produção cultural realizado pela Comunidade Cultural Quilombaque, com apoio do Programa Operação Trabalho, da Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento de São Paulo. As atividades, desenvolvidas de novembro de 2015 a fevereiro de 2016, reuniram integrantes de mais de 15 coletivos artísticos de Perus. Cada um recebeu uma ajuda de custo e um dos critérios para participar era não ter registro em carteira, com o objetivo de mostrar caminhos para a geração de renda.

Para o organizador da formação, José Queiroz, o curso faz parte do desafio de pensar as novas dinâmicas de trabalho na periferia, que tenham a cultura como eixo principal “Estes desafios nos permitem responder como construir uma ponte de transição entre a economia baseada na planta industrial de extração e transformação, para uma economia baseada em planta. Nessa economia, o conhecimento, a criatividade e as tecnologias sustentáveis são os ativos.”

Durante os encontros, os participantes se dividiram em grupos de trabalho, que iam desde o levantamento dos movimentos culturais de Perus até um mapeamento georreferenciado de recursos e equipamentos presentes no bairro.  “Fizemos um mapeamento dos espaços ociosos no bairro e encontramos diversas praças e imóveis que precisam ser urgentemente revitalizados e ressignificados, como era o caso do Ponto de Leitura da Canhoba e outras praças que estão totalmente abandonadas, inibindo o uso da população”, aponta Thalita.

perus
Cortejo tomou às ruas do bairro de Perus.

Atividades envolvendo memória afetiva, assim como leitura de textos e debates sobre a ‘indústria cultural periférica’ também foram temas do curso, já que um de seus objetivos era formar artistas em produção cultural, por meio da participação em atividades artísticas locais.

“É importante que o produtor cultural conheça os espaços ao seu redor e, juntamente com a comunidade, faça levantamentos sobre a necessidade e carência cultural da região para que se possam criar alternativas para minimizar as dificuldades encontradas”, avaliaram em texto Danila Ferreira, Welida Souza e Priscila Rezende, jovens participantes do curso.

Acesse a página da Ocupação Artística Canhoba no FAcebook para saber mais ou colaborar com doações ou atividades culturais. A ocupação está localizada na Rua Canhoba, altura do nº 328, no bairro de Perus.

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