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publicado dia 5 de março de 2016

Livro conta história de 170 anos da Caetano de Campos, a escola que era a praça

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Na Praça da República, no centro de São Paulo, um antigo edifício amarelo, gradeado, se mantém de pé.  Até 1977, ele abrigou a escola Caetano de Campos, hoje dividida em duas unidades, na Aclimação e na Praça Roosevelt – a segunda, inclusive, foi ocupada por estudantes que se opunham à reorganização escolar, no final de 2015. O prédio, de imponente arquitetura, longas escadarias e amplo espaço é hoje a sede da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Para celebrar os 170 anos de sua fundação – que começou como Escola Normal em 1856 -, a arquiteta e ex-aluna Patrícia Golombek, lançou essa semana o livro “Caetano de Campos, a escola que mudou o Brasil”, publicado pela Edusp. Movida pelas memórias de estudante, a autora conta que resolveu compilar “a História e as histórias” desse local que marcou a trajetória da escola pública brasileira.

Contada ao longo de 850 páginas pela arquiteta e ex-aluna Patrícia Golombek, história da escola se mistura com história da Praça da República e da cidade.
Escola em 1895, logo após sua construção.

Na República, igrejas dão lugar a escolas

Inicialmente, o terreno da Caetano de Campos foi pensado para abrigar uma catedral, mas os ventos soprados pela República recém instaurada fizeram com que a verba da loteria fosse destinada à construção de uma escola. O local, à época, era lamacento e baldio, mas começou a se desenvolver com a consolidação da escola e da praça. Juntas, formavam parte de um projeto urbano que começava a florescer no centro de São Paulo.

Projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo, uma vez pronta, a Caetano de Campos passou a ser majoritariamente frequentada pela elite da época, por filhos de políticos e fazendeiros, mas Patrícia afirma que havia oportunidades para pessoas de diversas classes sociais. “Havia aquela crença republicana de que o homem iria evoluir pelos estudos e isso era central na vida política da época.” Como exemplo do prestígio que a escola e seus educadores gozavam, ela cita o fato de que pedagogia e discussões teóricas eram levadas adiante nos principais veículos de comunicação daquele tempo.

Outro fenômeno que reforça a importância da Caetano para a educação brasileira, narra Patrícia, é o fato de que muitos professores que saíam da escola, no começo do século 20, iam para outras partes da cidade – e do país – para fundar escolas particulares ou cursos preparatórios de docentes. Dos pátios e corredores da escola, saíram grandes nomes da vida pública nacional, como Lygia Fagundes Telles, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Cecília Meireles e Sérgio Buarque de Holanda.

Foi lá também que, em 1934, se formaram as primeiras turmas da Universidade de São Paulo (USP), acolhidas dentro do enorme prédio, hoje encurtado por ruas e pela construção do metrô.

Estudantes da escola em 1930.
Estudantes da escola em 1930.

A escola que não sobreviveu à cidade

Em 1975, José Bonifácio Coutinho Nogueira, assumiu a Secretaria de Educação e tentou fechar a escola, que até então funcionava como uma autarquia. Para ele, a Caetano de Campos era uma instituição “elitista” e não deveria mais funcionar fora da rede pública de ensino. Para Patrícia, esse foi o começo do fim. Escolhidos por sorteio e vindos de diferentes regiões da cidade, os estudantes sentiam orgulho de frequentar a instituição de ensino, que chegou a ter mais de 5 mil matrículas nessa fase.

Um movimento de pais e ex-alunos conseguiu adiar o fechamento do prédio em dois anos. Mas, eventualmente, ela deixou de ocupar a República. “A escola não conseguiu sobreviver à cidade e aos interesses governamentais. Quando ela sai da praça, vira outra coisa”, lamenta Patrícia, recordando do momento. Segundo ela, o processo de esvaziamento da escola foi se dando aos poucos. Primeiro, com a perda de autonomia curricular, depois com a limitação dos espaços e seus usos. A ideia de uma praça-escola foi dando lugar a um outro modelo de cidade e educação.

“A escola, até então, entrava na praça e a praça na escola. Se havia uma manifestação, todo mundo assistia, a gente via aquelas bagunças, aquela vida e fazíamos parte da vida urbana. Claro que o trânsito e o barulho atrapalhavam, mas a troca era boa”, avalia.

Aula de Educação Física em 1933.
Aula de Educação Física em 1933.

O livro

A arquiteta passou quatro anos revirando o arquivo da escola, fazendo um trabalho de identificação e coleta de informações do acervo, além de ter entrevistado ex-alunos. A pesquisa já rendeu uma exposição no Arquivo Histórico de São Paulo, em 2014, e um site que traz ampla documentação histórica do lugar.

O livro “Caetano de Campos – A Escola Que Mudou o Brasil” traz mais de mil fotos, cronologicamente distribuídas em 823 páginas, recheadas de histórias da cidade, dos professores, dos mobiliários, uniformes e recortes de jornais da época, compilados por uma ex-aluna apaixonada por sua escola.

Acesse o site do IECC, mantido por Patrícia e o site da Edusp para comprar o livro.

 

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