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publicado dia 15 de julho de 2016

Red OCARA inspira cidades latino-americanas a pensar mobilidade urbana para crianças

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Em Tupi, a palavra “ocara” denomina o centro de uma aldeia indígena – ou simplesmente uma praça. Derivado de “oca”, o termo também nomeia uma rede que congrega projetos que trabalham com o tema da mobilidade urbana em diversos países da América Latina. Todos eles com um foco em comum: a relação das crianças com as cidades.

Lançada em novembro de 2013, a Red OCARA é um portal online que compila experiências bem sucedidas de participação infantil em iniciativas que reúnam conceitos de cidade, arte, arquitetura e espaço público. “Nosso objetivo é amplificar o alcance desses trabalhos, para que eles inspirem outros ambientes urbanos e sociais semelhantes”, declara Irene Quintáns, arquiteta e urbanista, fundadora e diretora da Red.

Origem

Natural de Santiago de Compostela, cidade ao norte da Espanha, Irene chegou ao Brasil em 2011 e logo começou a trabalhar na Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo. Em Paraisópolis, bairro que atravessava um momento de reurbanização, detectou que a maioria das crianças (85%) já fazia o trajeto casa-escola a pé, mas sem nenhum método ou critério – muitas andavam desacompanhadas. Decidiu então implementar um projeto de Caminho Escolar na região.

“Um caminho escolar pode trabalhar áreas tangíveis, como a realização de atividades físicas e a diminuição do uso de automóvel, como também pontos intangíveis, como autonomia infantil, trabalho em grupo, apropriação da cidade e o estreitamento de vínculos com o bairro”, aponta a arquiteta.

Com experiências registradas em 13 países, iniciativa internacional já listou cerca de 80 projetos que trabalham com mobilidade urbana e infância.
Maquete de Paraisópolis construída por crianças do bairro.

Ao pesquisar projetos semelhantes, como o Pedi Bus ou o Caminho Escolar espanhol, Irene percebeu que nenhum deles acontecia nas periferias das grandes cidades. Após apresentar o projeto do Caminho Escolar de Paraisópolis no Congresso Internacional de Cidades Educadoras de 2012, resolveu concentrar seus esforços no lançamento de uma plataforma que reunisse todos os projetos que trabalhavam com infância e mobilidade no continente sul-americano.

“A ideia era conectar todos esses trabalhos – havia alguns que aconteciam na mesma cidade e não se conheciam”, explica. Hoje, a Red OCARA congrega cerca de 80 experiências de 13 países e, segundo Irene, funciona como um laboratório urbano que acredita na participação infantil como enriquecedora e propositiva para a cidade. “As crianças são puras e pedem mudanças para o bem comum.”

Para ela, as escolas devem estar comprometidas com um projeto político-pedagógico inovador para o caminho escolar obter sucesso. E lista algumas ações que dão luz à iniciativa: 1) pais e mães interessados na atividade, realizada com a ajuda dos professores; 2) a própria comunidade ter interesse em ver suas crianças caminhando pelas ruas; e 3) o poder público implantá-lo como política municipal, como acontece em Barcelona, onde o Ministério do Fomento lançou o Manual dos Caminhos Escolares.

Irene cita ainda as potencialidades pedagógicas que surgem com a realização do caminho escolar, tais como a educação ambiental (a escola promovendo uma mobilidade mais sustentável), a educação física (propondo mais movimento para as crianças e lutando contra a obesidade e o sobrepeso infantil), e ainda a educação para a cidadania (com a escola querendo melhorar e atuar no destino de seu entorno imediato, criando um vínculo maior com seus vizinhos e, por fim, criando uma rede no bairro).

Com experiências registradas em 13 países, iniciativa internacional já listou cerca de 80 projetos que trabalham com mobilidade urbana e infância.
Atividade do Bela Rua, um dos projetos registrados na Red, na Vila Santa Inês (SP).

Saúde infantil

“O que vemos hoje é uma rotina muito restrita para as crianças, com pouquíssimo tempo para brincarem livremente”, ressalta Irene. “Quando uma criança cresce dentro de sua casa, de sua escola, do shopping, sendo apenas transportado de um lugar a outro dentro de um veículo motorizado, é privada de uma série de vivências que contribuem para o seu crescimento, educação e saúde integral. Aprender na cidade e com a cidade e as pessoas é fundamental.”

Pesquisas apontam que ao menos uma hora diária de atividade física moderada é importante para a saúde da criança. “Ir e voltar a pé da escola dá pra suprir esse tempo tranquilamente”, deduz Irene. Ela cita ainda o estudo vencedor do Prêmio Nobel de Medicina de 2014 que descobriu como funciona o GPS do cérebro.

“Ao andar pelas ruas, nossa cabeça absorve referências e cria um mapa mental, que funciona como uma grade para a gente se referenciar”, observa. “Se a criança não caminha pela cidade, nunca vai adquirir referências urbanas e, ainda, dificulta a sua percepção de usufruir a cidade como um direito.”

Conheça três experiências registradas pela Red OCARA:

Al Colegio en Bici (Bogotá – Colômbia)

Com experiências registradas em 13 países, iniciativa internacional já listou cerca de 80 projetos que trabalham com mobilidade urbana e infância.

Aproximadamente cinco mil estudantes de 40 instituições escolares são contemplados pelo projeto, que desenha rotas seguras para as crianças e jovens chegarem à escola de bicicleta ou a pé com a ajuda de guias e facilitadores.

Serviço de Recuperação de Espaços Públicos (Lima – Peru)

Com experiências registradas em 13 países, iniciativa internacional já listou cerca de 80 projetos que trabalham com mobilidade urbana e infância.

O projeto, vinculado ao programa BarrioMio, une acompanhamento técnico (teórico e prático) à organização da comunidade para recuperar, melhorar e transformar espaços públicos da capital peruana.

As Zebras Educadoras (La Paz – Bolívia)

Com experiências registradas em 13 países, iniciativa internacional já listou cerca de 80 projetos que trabalham com mobilidade urbana e infância.

Desde 2001, o projeto da prefeitura de La Paz introduziu as zebras para conscientizar pequenos cidadãos sobre a importância do uso da faixa de pedestres, utilizando elementos lúdicos e artísticos para ensinar conceitos de cidadania.

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