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publicado dia 1 de dezembro de 2016

São Paulo Carinhosa empodera agentes comunitários de saúde na relação com as famílias

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Quando a agente comunitária de saúde Marluce, da UBS Sé, visitou uma paciente que havia dado à luz recentemente, se deparou com uma situação angustiante: de volta da maternidade, a ainda inexperiente mãe tinha dormido pouco aquela noite, pois havia saído de madrugada atrás de caldo de cana. O motivo? Ela e sua criança estavam passando por problemas de aleitamento e vizinhos haviam dito que o líquido a ajudaria a produzir leite.

“A mãe também deu chá e chupeta para o bebê. Alertei que era muito cedo para fazer isso, e percebi que ela estava amamentando de uma forma errada”, relembra Marluce. “Falei: segura o bebê desse jeito, fica nessa posição, você vai sentir a pressão do leite saindo. Alguns dias depois, retornei e ela estava mais tranquila, pois o bebê já estava mamando bastante.”

O depoimento da agente comunitária de saúde foi realizado no balanço que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu do Programa São Paulo Carinhosa, implementado desde 2013 pela prefeitura da capital paulista. A avaliação do impacto da iniciativa ocorreu durante o Seminário de Apresentação das Experiências do Programa de Visita Domiciliar para a Primeira Infância, nesta quarta -feira (30/11).

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu um seminário para avaliar os impactos do Programa São Paulo Carinhosa, implementado desde 2013 pela gestão.
Seminário avaliou as ações do Programa Cidade Carinhosa.

Contexto

Direcionado para gestantes e famílias de crianças de zero a três anos de idade, o Programa de Visita Domiciliar – implementado com apoio do Ministério da Saúde – considera importante o desenvolvimento integral, saudável e pleno da criança, apoiando as famílias com o objetivo de ampliar seus recursos no cuidado e na formação de vínculos com os filhos.

Através de formação e cursos, a iniciativa envolveu cerca de 1.500 profissionais de saúde – divididos em 264 equipes – na condução de visitas familiares, entre agentes comunitários de saúde, enfermeiros e profissionais dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). As formações ocorreram em três etapas, e tiveram conteúdo relativo à importância do fortalecimento de vínculos e do desenvolvimento infantil; ao aleitamento materno e a alimentação complementar; e a prevenção de acidentes, violência doméstica e abuso sexual.

A política municipal São Paulo Carinhosa foi criada em 28 de agosto de 2013, com o objetivo de promover o desenvolvimento infantil integral e fortalecer os vínculos afetivos familiares. A iniciativa leva em consideração as crianças em suas múltiplas interações, relacionamentos e vínculos com a escola, a família, a comunidade, os serviços de saúde e de assistência e a cidade, entre outros.

De acordo com a coordenadora do São Paulo Carinhosa e primeira-dama da cidade, Ana Estela Haddad, aproximadamente 63 mil famílias foram atendidas pelo programa até o momento – sendo 20 mil da zona leste e 21 mil da zona sul. “O profissional de saúde deve ajudar a família a identificar e acionar as suas redes territoriais, fortalecendo o patrimônio que essa família possui, aumentando a percepção e consciência sobre a importância de a mãe não se sentir sozinha nesse processo de trazer uma pessoa ao mundo. Enfim, é preciso ter o apoio da comunidade para dar conta dessa tarefa”, observou Ana Estela.

Secretária-adjunta da SMS, Célia Bortoletto afirmou que o São Paulo Carinhosa foi uma estratégia importante da atual gestão municipal, inclusive por seu aspecto intersetorial. “Hoje a cidade de São Paulo reduziu o índice de mortalidade infantil. Na Cidade Tiradentes, um de nossos bairros mais vulneráveis, a redução foi considerável. Saúde não é só assistência, é também trabalhar com outras pastas para termos uma cidade melhor.”

Para a coordenadora geral da Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Tereza de Lamare Neto, o programa fez história. “É um momento para comemorar. O São Paulo Carinhosa veio numa grande aposta de inovar a saúde da criança dentro da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança, de 2015, cujo terceiro eixo fala da promoção do desenvolvimento infantil.”

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu um seminário para avaliar os impactos do Programa São Paulo Carinhosa, implementado desde 2013 pela gestão.
Evento contou também com o depoimento de agentes comunitários de saúde.

Depoimentos

Durante o seminário, relatos de agentes comunitários de saúde e profissionais do NASF contagiaram o público presente, que os ovacionou repetidas vezes. Eles demonstraram o quanto o programa impactou a sua vida profissional e pessoal.

Facilitadora das formações, Paula citou como legado a “ressignificação da maternidade”. “Falar de aleitamento e alimentação trouxeram a cena a história dessas mulheres. Elas foram acolhidas e puderam compartilhar as dificuldades desse processo – como muitas mães que deixam os filhos com outras pessoas. Certamente, ter a sua experiência acolhida fará a diferença na relação com a família.”

Daniela, assistente social do NASF, acredita na criança como protagonista de sua própria história. “O programa a enxerga como sujeito e entende a comunidade como parte dessa rede de cuidado e proteção.” Neide, uma mãe atendida pelo projeto na Cidade Kemel, extremo leste de São Paulo, acredita que “no futuro, o Henrique [seu filho] será um homem de muito caráter. Ele está tendo algumas oportunidades que não tive. Hoje, ele está aprendendo e eu vou crescendo junto.”

Em 2014, aproximadamente 18 crianças morriam antes de completar um ano em Cidade Tiradentes. Tal índice caiu para 13 no ano passado, segundo Celia Bortoletto. Ainda de acordo com ela, em toda capital a mortalidade infantil caiu de 11,2 óbitos para cada grupo de mil crianças nascidas em 2014, para 10,8 óbitos em 2015.

Para Lilia, da UBS Cantinho do Céu, o São Paulo Carinhosa veio para trazer uma nova visão na abordagem familiar. “Aprendi a ter outro ponto de vista como agente, acrescentando mais sabedoria, entrando dentro dos lares sem convicções nem pré-julgamentos.” Eliana, da mesma UBS, tem opinião semelhante. “O curso nos deu um empoderamento de chegar nas casas e orientar as famílias sem ser agressivo, de acordo com a cultura que elas têm. Uma criança não pode viver sem afeto.”

“O programa despertou algo que estava adormecido dentro da gente”, observa Catarina, da UBS Dom Angélica. “Uma visão ampliada, sem discriminação, trabalhando aquilo que a família já tem: amor, contato físico, afeto, convivência.”

A enfermeira Vânia relembra que a instituição que costumava pensar a família de uma forma integral era a igreja. “Com o curso, você se depara com a sua própria história, cultura, medo, frustrações. É um momento de reflexão que foca a promoção de bem estar.”

Para o médico de família e comunidade do Jardim São Jorge, Stephan, uma política intersetorial com o São Paulo Carinhosa interrompe uma lógica segmentada e de controle de corpo que reinava até então. “O projeto tem uma riqueza e complexidade muito maior do que ver o ganho de estatura ou o perímetro encefálico das crianças.” Ele cita o empoderamento do agente de saúde comunitária como um dos principais benefícios trazidos pelo programa.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu um seminário para avaliar os impactos do Programa São Paulo Carinhosa, implementado desde 2013 pela gestão.
Iniciativa promoveu formações sobre diversos temas relacionados à primeira infância, inclusive aleitamento materno.

Legado

“Estamos fazendo uma avaliação, mas queremos garantir a continuidade dessa política aqui em São Paulo”, declarou Atene Mauro, coordenadora de saúde da criança e do adolescente da SMS. De acordo com Rejane Gonçalves, coordenadora da atenção básica do órgão, a meta do programa para os próximos anos é capacitar nove mil profissionais ao total.

Tereza de Lamare se mostrou encantada com a estratégia e metodologia da iniciativa. “Saio com uma responsabilidade enorme não só de manter esse projeto vivo, mas de leva-lo para o resto do Brasil.” O Ministério da Saúde deve continuar aportando verbas ao programa até 2018. Ana Estela Haddad encerrou o seminário dizendo que o São Paulo Carinhosa deve ser visto como um patrimônio da população paulistana. “Sem dúvida ele continuará existindo na prática diária que cada agente vai levar consigo.”

(A foto que abre esta matéria é de autoria de Eduardo Ogata)

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